CI

O preço caiu e mesmo assim aumentaremos a produção


Eleri Hamer

Do ponto de vista da oferta, todos nós sabemos que quando o preço de um determinado produto aumenta, existe um estímulo para que os produtores aumentem a sua produção. Imagina-se que quando os preços retornam ao seu patamar original, como é o caso da soja agora, a lógica econômica seria o volume produzido também baixar aos níveis anteriores ao aumento dos preços internacionais.

Porém, na prática a queda da produção em função da queda no preço não funciona bem assim. Vamos ver como isso acontece e quais as conseqüências para o cenário futuro tendo como exemplo a soja.

Para exemplificar, tivemos um aumento de preço no mercado interno entre os anos da safra 2000/01 e 2003/04, mais precisamente até maio de 2004 quando o preço começou a despencar que beira os 200 % o que fez com que a nossa área e produção saíssem de 14 milhões de ha e 38,4 milhões de toneladas respectivamente naquela safra para 21 milhões de ha e 49,7 milhões de toneladas na safra 2003/04, embora as expectativas iniciais anteriores aos impactos do clima e da ferrugem, estabeleciam 60 milhões de toneladas.

Embora pareça absurdo, tecnicamente, no momento em que os preços estão de volta aos patamares considerados normais poder-se-ia esperar, como de resto na economia, que a nossa produção retorna-se aos 45 milhões de toneladas e a área fosse reduzida para 17 ou 18 milhões de ha, mas não é o que veremos na próxima safra que está sendo preparada para ser plantada no Brasil.

Anos consecutivos de bons preços estimulam o produtor e conjuntamente toda a cadeia de produção a aumentarem os processos produtivos e por conseguinte investir pesadamente em tecnologia e infraestrutura. Contudo, quando o preço cai, a resposta acaba sendo mais lenta. O volume de produção não retorna aos patamares anteriores. O produtor fica numa espécie de Standby, em compasso de espera, na expectativa de que os preços venham a subir novamente. Sinal dessa tendência é a expectativa na produção brasileira de soja que se aproxima as 66 milhões de toneladas.

Esse comportamento pode encontrar explicação principalmente em duas questões:

A primeira está em função de que há uma dificuldade em descartar instantaneamente as novas tecnologias incorporadas a cada vez que ocorre uma redução de preços e está associada às dívidas assumidas para aumentar a produção no período anterior que foi de euforia, expansão de área e troca de atividades.

A segunda é um pouco mais complexa e está relacionada às inovações tecnológicas e ao perfil inovador dos produtores. Notadamente existem três tipos de produtores que são estimulados a inovar e ampliar a produção a cada aumento de preços: aqueles que pioneiramente adotam tecnologias mais produtivas, mas que representam apenas em torno de 10% dos produtores e não chegam a afetar a oferta de produtos agrícolas capaz de alterar os preços, mas obtêm uma maior lucratividade em suas explorações; rapidamente entram em cena os produtores intermediários ou médios que também tomam conhecimento das inovações e as adotam, mas estes representam uma parcela bem maior e são capazes de alterar os preços do mercado, embora também obtenham vantagens significativas e ainda consigam aproveitar os bons preços e; por fim os retardatários que necessitam adequar-se e também inovam, mas já não conseguem mais aproveitar o ciclo favorável dos preços, afetada pela maior oferta no mercado e acabam se endividando.

Assim, com a queda dos preços as margens também diminuem e entra em cena a necessária escala de produção, antes mascarada pelos altos preços, que permitiu que produtores sem escala adequada operassem nesse mercado. Ou seja, se a minha margem por unidade produzida é menor, então preciso produzir mais ainda para atender os meus compromissos já contratados por ocasião das inovações adotadas.

Dessa forma observa-se que esse novo padrão tecnológico adotado normalmente diz respeito ao novo cotidiano produtivo e ainda que ocorra uma redução nos preços dos produtos, dificilmente o produtor regrida para uma situação tecnológica anterior. Em síntese, quem experimentou produzir 65 sc por hectare, não volta aos 45 sc/ha.

Portanto, são necessários alguns anos de preços ruins para que o produtor se sinta estimulado a reduzir o processo produtivo, optar por um produto alternativo ou sair da atividade, principalmente em função da estrutura que tais atividades requerem, reduzindo a liquidez do capital.

As conseqüências atuais nesse cenário são de que o problema dos preços futuros operem a patamares menores ainda do que os atuais, estejam motivados não pela produção americana, mas sim pela potencial exuberante produção brasileira. 

 

Aquele abraço!!!!!

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.