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O lixo nosso de cada dia


Edivaldo Del Grande

O lixo acumulado nas ruas de Nápoles virou notícia mundial e reacendeu o debate sobre a responsabilidade pela destinação do lixo urbano. Em São Paulo, dois aterros em operação - Bandeirantes e São João - estão com capacidade esgotada. A expansão de um deles é polêmica entre os moradores do entorno. Se nada for feito, caminhamos para uma situação similar à de Nova York, que aluga espaços em 5 Estados para mandar o lixo gerado diariamente.

O cenário reflete a mudança de hábitos da população das últimas décadas. A mesma geração que privilegia o conforto, a conveniência e a praticidade também estimula a indústria a desenvolver produtos menores e usar mais embalagens descartáveis - os grandes responsáveis pelo aumento do volume de resíduos nos centros urbanos. A Cidade de São Paulo gera 15 mil toneladas de resíduos por dia - 1,5 kg por habitante.
A destinação do lixo exige posicionamento da Prefeitura, seja para implantar a coleta seletiva, incentivar a formação de cooperativas de catadores e de reciclagem, ou promover a educação ambiental. De nada adianta, porém, a Cidade adotar um sistema eficiente de reciclagem, se cada morador não fizer a sua parte. Segundo o Ibope, 92% dos cidadãos concordam que separar o lixo para a reciclagem é uma obrigação da sociedade, mas só 30% fazem isso. O mais assustador é que a Cidade de São Paulo recicla menos de 4%. Em Nova York, são 18%.

O incentivo à coleta seletiva é uma das maneiras mais eficazes de tratar a destinação do lixo, porque reduz a quantidade de materiais que não se decompõem facilmente na natureza. Uma garrafa PET, por exemplo, pode demorar 500 anos para se degradar.

A boa notícia é que esse trabalho pode ser feito por meio do estímulo à formação de cooperativas. De acordo com dados do Compromisso Empresarial pela Reciclagem (Cempre), 43,5% dos programas de coleta seletiva do País mantêm relação direta com cooperativas de catadores.

Um exemplo bem-sucedido vem de São José dos Campos. Uma parceria da prefeitura com o Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Paulista (Sescoop-SP) viabilizou oficinas para preparar os catadores para trabalhar de forma cooperada. Mais de 40 pessoas foram capacitadas e formaram a Cooperativa Futura, que funciona desde 2005.

Uma coisa é certa: se nada for feito, a convivência com o lixo, a exemplo da assustadora visão dos resíduos em Nápoles, poderá se transformar em realidade em mais cidades, inclusive em São Paulo.

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