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O absurdo dos gastos públicos



Argemiro Luís Brum
O mês de março terminou com a divulgação de um dado estarrecedor, embora não surpreendente para quem conhece a realidade brasileira. Segundo a ONU, o Congresso brasileiro é o segundo mais caro do mundo, perdendo apenas para o dos EUA.

Os gastos de nosso Congresso somaram, em 2012, nada mais nada menos do que R$ 7,9 bilhões, sendo R$ 4,5 bilhões junto aos 513 deputados federais (cada deputado federal custou ao cidadão brasileiro, no ano passado, R$ 8,77 milhões) e R$ 3,4 bilhões junto aos 81 senadores (cada senador custou ao cidadão brasileiro mais R$ 41,97 milhões no ano passado). Ou, visto de outra forma, o conjunto do Congresso Nacional custou aos brasileiros R$ 21,6 milhões por dia em 2012, incluindo aí os dias feriados, sábados e domingos.

Apesar do apego à democracia, é de se perguntar se o Brasil precisa gastar esta astronômica soma com seu poder Legislativo. Ou ainda, pelos serviços que o mesmo vem prestando à Nação, é justificável tamanho gasto diário?

A resposta parece óbvia. Todavia, para facilitar a compreensão do descalabro em que vivemos na esfera pública em geral e federal em particular, vamos aqui realizar um exercício de comparação, embora se saiba que nada se resolve de forma tão simplista. É do conhecimento geral que o sistema cooperativista agrícola brasileiro vem enfrentando sérios problemas de sustentação econômico-financeira nos últimos 20 anos.

Dentre os casos específicos, hoje, encontramos a Cotrijuí, empresa que no passado chegou a atingir o posto de maior cooperativa da América Latina em soja. Esta cooperativa, sem entrar no mérito da questão, corre o risco de deixar cerca de 19.000 associados sem apoio, ao sabor do mercado. A grande maioria formada de pequenos e médios produtores rurais. No total, em média, trata-se de 76.000 pessoas (considerando a família de cada associado) diretamente atingidas caso a cooperativa venha a “fechar”. Uma empresa que alcança um faturamento anual de R$ 1,0 bilhão e possui uma capacidade de recebimento de grãos que atinge um milhão de toneladas, porém, se encontra estrangulada por uma dívida imediata que gira ao redor de R$ 270 milhões. E sua crise leva de roldão uma região inteira, com um efeito dominó evidente. Pois um empreendimento desta envergadura poderia ter seus problemas de endividamento imediato solucionados com apenas 12 dias do que os brasileiros gastam para manter 594 pessoas “legislando” em seu Congresso Nacional.

O exemplo poderia ser aprofundado tomando-se como referência o que o país destina para sua educação e saúde públicas, e assim por diante. Aliás, o gasto com nossos 594 congressistas representa 28% do que o governo está destinando para toda a educação do país em 2013. Não há dúvida de que temos algo muito errado na estrutura de nosso Estado. Está mais do que na hora de a sociedade brasileira mudar esse quadro.  

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