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Nutrição de suínos X Meio Ambiente



Karina Ferreira Duarte

1. Introdução

A demanda por carne suína e seus derivados estimulou a expansão da atividade suinícola, resultando na intensificação dos criatórios em confinamento, especialmente no Oeste de Santa Catarina. Isso trouxe em conseqüência, um grande aumento da quantidade de dejetos produzidos, os quais inadequadamente tratados e reaproveitados, passaram a causar poluição ambiental.

A nova realidade dos mercados consumidores, exigindo produtos de qualidade, preços competitivos e oriundos de sistemas não poluidores do ambiente, passou a exercer crescente pressão para a reciclagem desses resíduos, dentro de padrões aceitáveis sob o ponto de vista sanitário, econômico e ambiental.

A quantidade e composição dos dejetos de suínos, como de qualquer outro animal, tende a ser positivamente relacionada com a quantidade e composição do alimento que lhe é fornecido.

Entre os principais componentes poluentes dos dejetos suínos estão o nitrogênio, o fósforo e alguns microminerais, como o zinco e o cobre. O problema do nitrogênio no solo é sua transformação em nitrato. Em vários rios europeus o nitrogênio dos dejetos animais contribuem entre 40 e 60% do nitrogênio total encontrado. Também foi verificada uma correlação positiva entre a concentração de nitrato e nitrito nos rios e o nível de aplicação de aplicação de nitrogênio no solo (fertilizantes e dejetos). Como exemplo do aumento de nitrogênio colocado no solo pelos dejetos, na Holanda, no início do século, o valor total foi de 90.000 toneladas/ano. Já em 1985 este valor subiu para 450.000 toneladas/ano (LEE e COULTER, 1990). O nitrato facilmente movimenta-se no solo e dissolve-se na água. O nitrogênio pode também poluir o ambiente na forma de amônia, que pode causar a chamada chuva ácida. O excesso de fósforo, assim como de nitrogênio e outros nutrientes favorece o desenvolvimento desordenado de algas. A decomposição destas algas consome o oxigênio dissolvido na água, comprometendo o crescimento de espécies aquáticas como peixes, crustáceos, etc. O fósforo em excesso fica acumulado no solo e só é dissolvido na água dos rios quando a capacidade de retenção dele pelo solo fica prejudicada. No caso dos microminerais é sabido que níveis relativamente baixos de cobre podem causar a morte de peixes, algas e fungos. OLIVEIRA (1994), citou que níveis de cobre de 0,025 a 0,2 mg/L são tolerados pelos peixes. O zinco também pode comprometer o desenvolvimento de peixes e algas.

A administração adequada dos dejetos de suínos na propriedade rural tem sido um problema ainda pouco valorizado, mas que tem conseqüências muito sérias na preservação do meio ambiente. No Brasil, algumas Fundações Estaduais de Proteção ao Meio Ambiente têm se mobilizado, objetivando estabelecer critérios de avaliação de ambientes poluídos e, em casos extremos, recomendado o fechamento de propriedades suinícolas.

Normalmente, as iniciativas que predominam para minimizar o problema de poluição por dejetos estão relacionadas com procedimentos de engenharia, que estabelecem maneiras para o seu armazenamento, com o entendimento de seu potencial como fertilizante e, no momento, com a possibilidade do uso como alimento para bovinos e suínos. Entretanto, muitos estudos têm sido desenvolvidos em que os nutricionistas de suínos têm demonstrado que podem interferir no processo, revisando os conhecimentos de nutrição e de alimentação, no sentido de minimizar o fornecimento de nutrientes poluentes e maximizar a sua utilização pelos animais. Também os nutricionistas poderão colaborar no dimensionamento das propriedades suinícolas, visando uma harmonia entre a produção animal e a preservação do meio ambiente.

2. Aspectos relacionados com a eficiência nutricional

Uma vez definida a estrutura e forma de produção dos suínos, sob o ponto de vista ambiental, os aspectos relacionados com a nutrição devem ser os primeiros a serem planejados. Isto se explica porque é mais fácil e econômico evitar excessos nutricionais do que arcar com as conseqüências que são os elevados índices de excreção e a dificuldade posterior de dar destino aos nutrientes em excesso excretados.

Assim, sob o ponto de vista da nutrição devem ser considerados três fatores influentes nas quantidades de nutrientes excretadas pelo suíno. Além das perdas endógenas que representam uma fração pequena das perdas totais e cuja influência sobre a redução na excreção é mínima, a quantidade consumida e a eficiência de utilização dos nutrientes para o crescimento e o desempenho das demais funções produtivas assumem importância primordial. Pouco pode ser feito sobre a perda endógena, entretanto, pode se reduzir de forma estratégica a quantidade de alguns nutrientes na dieta e ao mesmo tempo aumentar a eficiência de utilização de muitos outros.

A eficiência média na utilização do nitrogênio da ração dos suínos é de 29%, do fósforo é de 28% e do potássio apenas de 6%. Segundo o NRC (1998), cerca de 45 a 60% do nitrogênio, 50 a 80% do fósforo e cálcio, aproximadamente 70 a95% do cobre, zinco, potássio, sódio, magnésio, manganês e ferro consumidos são excretados pelos suínos.

Comparativamente ao frango de corte, a eficiência do suíno na fase de crescimento e terminação em aproveitar o nitrogênio e fósforo ingeridos é de apenas 80 e 85 %, respectivamente. Da mesma forma, comparando a eficiência das porcas em lactação com a das poedeiras verifica-se que as porcas apresentam em média apenas 83 % da eficiência das poedeiras para o aproveitamento do nitrogênio ingerido.

Isto significa que ao considerarmos o respectivo consumo para cada categoria animal com a concentração nutricional média da dieta na fase produtiva, teremos uma equivalência de excreção de nitrogênio e de fósforo. Embora a eficiência das aves para retenção de nitrogênio e fósforo seja maior do que a dos suínos, cada frango de corte abatido com peso médio de 2,5 kg, terá excretado em torno de 100 gramasde nitrogênio e 10 gramasde fósforo durante a sua curta existência.

Estima-se que a quantidade de dejetos líquidos produzidos ao ano por uma matriz suína e sua prole, considerando o sistema de produção em ciclo completo, seja de 23,7 m3. A caracterização da quantidade de dejetos de uma matriz em produção, em termos de volume, apresenta o forte inconveniente da variabilidade na eficiência de manejo da água à nível de granja e que pode ser vinculada à eficiência de aproveitamento dos nutrientes da dieta.

Da mesma forma, a concentração em nutrientes no dejeto sempre deverá ser o critério a adotar ao se recomendar as quantidades efetivas de dejetos a aplicar no solo. Neste sentido não procede o intento de vincular diretamente a produção de dejetos por matriz instalada em termos de volume com a adubação a ser aplicada em determinado solo e desta forma limitar o número de animais nas granjas em função do volume de dejeto e não em função do efetivo balanço de nutrientes que se obtém com o manejo da nutrição.

Segundo JELINEK (1977), citado por OLIVEIRA (1994), a quantidade de dejetos produzida diariamente pelos suínos varia entre 4,9 e 8,5% de seu peso corporal. A maior parte deste volume vem da urina, cujo volume depende da quantidade de água ingerida pelo animal. O mesmo autor sugeriu que para cada litro de água consumido pelo suíno ocorre uma produção de 0,6 litros de dejetos líquidos. OLIVEIRA (1994) mostrou que as diferentes fases de produção dos suínos interferem nas quantidades absolutas de dejetos produzidos, onde as porcas em lactação são as que mais dejetos produzem.

Com relação ao volume de dejetos, um componente importante que pode afetar significativamente os valores é o desempenho dos animais. LATIMIER (1993), afirma que o volume total de dejetos produzido pelos suínos em crescimento depende do ganho de peso e da eficiência de transformação dos nutrientes pelos animais. Suínos com peso entre 28 e 102 kg, com ganho de peso diário de 740 g, produziram um total de dejetos de 370 litrose aqueles com um ganho de peso diário de 800 g produziram 310 litros. O autor observou que os suínos que tiveram conversão alimentar de 3,02 produziram 370 litros de dejetos e aqueles que tiveram conversão alimentar de 2,75 produziram 314 litros. HENRY (1996) sugeriu que para cada redução de 0,1 na conversão alimentar a excreção de nitrogênio reduz em 3%.

No cálculo da produção total de dejetos, não são consideradas as emissões provocadas pelo metabolismo animal e pela atividade microbiana sobre os dejetos. Os dados referentes à produção e liberação de gases, em instalações fechadas na Europa, no período de um ano por mil suínos em crescimento/terminação são: 461.000 kg de CO2; 1.400 kg de NH3; 200 kg de CH4; 140 kg de ácidos graxos voláteis e 20 kg de SO2 e SH2.

Os resultados foram obtidos com uma taxa de ventilação de 150 m3/hora e unidade animal. Relativamente importante é a produção e liberação do gás amônia que se distribui entre 80 a90% em um raio de 10 kme o restante pode ser amostrado em distâncias de até 100 km. O problema ambiental causado pelos gases liberados na suinocultura tem sido considerados apenas em países onde a densidade populacional é elevada e onde a criação de suínos é intensa.

3. Manejo da nutrição

Na suinocultura a disponibilidade de ingredientes tem importância estratégica e representa uma alta proporção nos custos de produção. Acompanhando as estatísticas da produção de grãos a nível mundial, pode ser verificado que a demanda por grãos na produção animal está aumentando mais rapidamente do que o aumento no suprimento, mesmo com aumento de produtividade na área vegetal. Isto é previsível porque embora seja esperado um crescimento de 25% na população mundial para os próximos 20 anos, existe uma expectativa de aumento em 50% na demanda por produtos de origem animal. O crescimento da população mundial a uma taxa de 1,5 % ao ano representa um incremento anual de 90 milhões de habitantes, o que tem equivalência ao acréscimo de um contingente de consumidores igual á população do México a cada ano.

Neste aspecto existe um desafio enorme na nutrição animal em descobrir e explorar novas fontes de energia e nutrientes, particularmente em produtos que não podem ser usados na alimentação humana devido ao teor de fibra ou porque são considerados produtos indesejáveis (resíduos e outros subprodutos da indústria alimentícia). O uso de subprodutos na alimentação animal representa um esforço necessário sob o ponto de vista econômico e ambiental.

O aumento da eficiência na produção de suínos com redução no impacto ambiental, passa pela melhor adequação nutricional das dietas, o que pode ser obtido através de correta formulação de rações envolvendo considerações sobre o nitrogênio, fósforo e cobre.

3.1. Redução na excreção de nitrogênio

A redução dos níveis de proteína e a suplementação de aminoácidos sintéticos nas rações é uma opção para reduzir a excreção de nutrientes. Os suínos não têm uma exigência para proteína, mas sim para níveis apropriados e balanço individual de aminoácidos. O balanço nos quais os aminoácidos são suplementados nas rações diferem grandemente do balanço em que eles são exigidos para um ótimo desempenho animal.

Em rações à base de milho e farelo de soja fornecidas para suínos em crescimento, cerca de 25% da proteína ingerida é constituída de aminoácidos não-balanceados, nos quais são degradados. Eles serão usados como uma fonte de energia cara e contribuem com a excreção do nitrogênio na urina e nas fezes, pois os suínos podem excretar cerca de 9 a11% desse elemento consumido nas fezes e 42 a 48% na urina. Pouco menos da metade do nitrogênio excretado nos dejetos de suínos pode ser atribuído ao inadequado balanço de aminoácidos nas rações desses animais (DE LANGE et al., 1999).

Uma simples e importante solução para melhorar o balanço de aminoácidos nas dietas, é substituir algumas fontes de proteína padrão (farelo de soja) com aminoácidos sintéticos (L-Lisina, L-Treonina, DL-Metionina, L-Triptofano). A utilização de aminoácidos sintéticos possibilita a formulação de rações com níveis de aminoácidos mais próximos às necessidades dos animais, reduzindo-se assim, a quantidade de proteína bruta (PB) da ração e a excreção de nitrogênio.

Muitos estudos têm demonstrado que o conteúdo de PB nas rações para suínos em crescimento e terminação podem ser reduzidos em 4% com nenhum efeito sobre a eficiência alimentar, quando quantidades suficientes de aminoácidos essenciais são suplementados. A redução de 1% no conteúdo de PB da ração de suínos suplementadas com aminoácidos sintéticos, pode reduzir em aproximadamente 10% a excreção do nitrogênio.

CROMWELL et al. (1996), avaliou o efeito de 3 níveis de proteína na ração (16,5, 14,5 e 12,5%), suplementada com aminoácidos, sobre a excreção do nitrogênio e emissão da amônia dos dejetos de suínos em crescimento e terminação. Os níveis de proteína da ração não influenciaram no seu consumo e no ganho de peso dos animais. Mas, a redução destes níveis protéicos reduziu a excreção urinária de nitrogênio. O nitrogênio excretado nas fezes e o retido foram constantes. A emissão de amônia reduziu em 10 a 12,5% para cada porcentagem de PB reduzida.

3.2. O efeito do nível de cobre na dieta sobre a sua excreção

O uso do cobre como promotor de crescimento aumenta o ganho de peso e melhora a conversão alimentar nas fases de pós-desmame e crescimento dos suínos. Este efeito não é verificado durante a terminação, acima de 50 kg na maioria dos experimentos relatados e, desta forma o uso de altos níveis de cobre nesta fase apresenta como desvantagem um elevado custo ambiental porque a sua concentração nos dejetos é proporcional ao nível utilizado nas rações.

A concentração média de cobre em rações de leitões na fase de creche, na região sul do Brasil nos anos de 1995 e 1996, foi avaliada e constatou-se que nas rações de 64,6% das granjas amostradas, ela foi superior a 100 ppm. O uso preventivo deste mineral e do zinco no controle de diarréias e da doença do edema vem acompanhado do fornecimento de água não potável em creches de 72,3% das granjas. Também nas fases de crescimento e terminação dos suínos o valor médio de concentração de cobre nas rações, em 65 granjas da região sul do Brasil, foi de 73 e 86 ppm, respectivamente, com 45% das granjas apresentando nível acima de 100 ppm nas rações de crescimento e, na terminação, 38% ultrapassam este valor. Considerando os valores médios, as concentrações de cobre nas rações ultrapassam respectivamente 18,2 e 24,6 vezes o nível de exigência no crescimento e terminação, especificado no NRC (1998).

A redução dos níveis de cobre nas rações de suínos a níveis mais próximos da exigência nutricional, terá como vantagem imediata a melhor adequação da concentração do mineral nos dejetos, possibilitando um melhor balanço de nutrientes solo/planta e uma conseqüente sustentabilidade ambiental no uso do dejeto de suínos como fertilizante.

A concentração do cobre nos dejetos é proporcional ao nível de sua inclusão na ração conforme foi determinado por PAYNE et al. (1988), que observaram uma concentração de 1500 ppm de cobre na matéria seca de dejetos de suínos que recebiam em média 251 ppm de cobre na ração. Estudos demonstram que suínos em terminação excretaram 6,7 vezes mais cobre quando recebem rações contendo 218 ao invés de 32 ppm do mineral.

3.3. Fatores que afetam a perda de nutrientes nos dejetos suínos

Em geral, os animais são ineficientes em transformar os nutrientes a eles oferecidos em produto (carne, leite, ovo). No caso dos suínos e das aves, é estimado que somente 35 a45% do nitrogênio protéico consumido é transformado em produto animal. Para o fósforo, o que compromete seu uso é sua baixa digestibilidade em ingredientes de origem vegetal. Assim, para reduzir estas perdas e o conseqüente comprometimento do meio, é importante o conhecimento de alguns procedimentos em nutrição animal. Entre eles estão:

  • o conhecimento da composição nutricional dos ingredientes que compõem a ração;
  • a digestibilidade dos nutrientes poluentes em cada um dos ingredientes e quais as tecnologias disponíveis para melhorar sua digestibilidade;
  • os níveis de exigência de cada um deles nas diferentes fases de produção e em cada sexo e tipo de genótipo;
  • qual o programa alimentar empregado;
  • qual o período do ano em que o problema está sendo tratado, etc.

Conhecer estas variáveis permite uma redução de perda de nitrogênio e de fósforo na ordem de 30 a 40%. Assim, por mais eficientes que os processos de redução de poluição possam ser considerados, é através da nutrição que grandes avanços podem ser obtidos.

3.3.1. Composição nutricional dos ingredientes

O desconhecimento da composição nutricional dos ingredientes que compõem uma ração tem sido um dos principais fatores de aumento de poluição pelos dejetos de suínos. Todo o técnico que desconhece a real composição nutricional dos ingredientes tende a trabalhar com margens de segurança. Estas margens variam de acordo com o nível de conhecimento do técnico, da fase de produção dos animais, do impacto econômico da decisão, etc. SHUTZE e BENOFF (1981), recomendaram que o valor a ser empregado para um determinado nutriente em um ingrediente deverá ser o da média, obtida analiticamente, menos meio desvio padrão. O desconhecimento do real valor leva o técnico a trabalhar com margens de segurança para todos os ingredientes.

VIOLA (1996), mostrou que o tratamento térmico indevido (62 minutos de tostagem contra 31 minutos de tostagem) do grão de soja, empregado em rações de suínos com peso médio entre 17 e 21 kgde idade aumentou, pelo menos numericamente, a excreção fecal de proteína bruta, especialmente quando as rações tiveram níveis inferiores de lisina. A suplementação deste aminoácido em nível 20% acima do recomendado pelo NRC (1988) para a fase compensou a excreção de proteína, promovendo valores semelhantes de perda, independente do tempo em que o tratamento térmico foi empregado.

Para evitar este tipo de situação, as empresas que produzem ração deverão intensificar a introdução de laboratórios de bromatologia e a segregação de lotes de ingredientes para que os mesmos só sejam empregados após as análises.

3.3.2. Exigências nutricionais

Os valores propostos como exigências nutricionais, têm se tornado cada vez mais os determinantes nos problemas de poluição. Formular com margem de segurança para exigência nutricional é caro e aumenta a quantidade de nutrientes perdidos. No caso de suínos em crescimento e terminação, a dúvida que sempre fica é em quantas fases deve ser dividido esse período. Além das fases, também deve ser determinado se há diferenças entre machos e fêmeas ou se existem diferenças entre genótipos.

Com relação ao número de fases, é possível observar que a Academia Americana de Ciência, em seu boletim de 1988 (NRC, 1988), reduziu o número delas em animais em crescimento/terminação de 6 para 5, quando comparado com o documento de 1979 (NRC, 1979). BAKER et al. (1997) no boletim anual do FEEDSTUFFS também sugeriram 5 fases e o documento apresentado por ROSTAGNO et al (1983) sugeriu 4 fases.

Latimier (1990), citado por PARSONS e BAKER (1994), trabalhou com suínos no período entre 28 e 102 kg de peso corporal e os alimentou com ração única, contendo 17% PB, ou com a mesma ração de 17% PB, durante a fase de crescimento dos animais, e uma ração com 14% PB, durante a fase de terminação, observando que os suínos mantidos com uma mesma ração (17% PB) durante todo o período experimental consumiram 5,7 kg de nitrogênio e excretaram 3,0 kg. Naquele caso, a retenção de nitrogênio foi de aproximadamente 53%. Já os animais que receberam uma ração de crescimento com 17% PB e outra de terminação com 14% PB tiveram um consumo de nitrogênio de 5,1 kg e excretaram 2,5 kg. Quando foram usadas duas rações, a retenção de nitrogênio foi de 49%. A retenção de nitrogênio não foi significativamente alterada pela modificação dos teores de proteína das dietas, porém, no segundo caso houve uma redução de 0,5 kg de nitrogênio excretado por animal, só pela redução do teor de PB da ração de terminação.

PINHEIRO MACHADO (1992) e SILVA (1993), mostraram que entre 20 e 100 kg de peso corporal os suínos podem ser classificados em 4 fases de desenvolvimento. Também observaram que os valores de proteína das rações diminuem com a idade dos animais e variam com o sexo. Os valores encontrados pelos autores são próximos daqueles sugeridos pelo NRC (1988).

Quanto maior o número de fases menores serão as perdas de nutrientes dentro da fase. Este pressuposto sustenta-se pelo fato de que, em princípio, o nível nutricional estabelecido para fase é aquele em que o animal necessita no primeiro dia da fase. Em todos os dias, após o primeiro, os animais estarão consumindo mais nutrientes do que necessitam. Logo, maior será o desperdício de nutrientes quanto menor for o número de fases. Evidentemente que existe uma relação entre o que é mais conveniente, sob o ponto de vista teórico, e o que pode ser aplicado na prática. Logo, a compatibilização do número de fases fica na dependência da possibilidade de operacionalizar o seu uso e não na falta de argumentos técnicos que a sustente.

HENRY (1996), fortaleceu o argumento que o ideal, para minimizar as perdas de nitrogênio na alimentação de suínos é ajustar o nível de proteína de uma ração para suínos em intervalos curtos de tempo. A proposta do autor, para facilitar o processo, é que o produtor tenha duas rações com níveis protéicos diferentes (alto e baixo) e que as proporções de participação de ambas as rações na mistura final seja alterada com o crescimento dos suínos. Inicialmente a ração com alto teor protéico deverá ser usada exclusivamente e ao final do período de terminação somente será oferecida aos animais a ração com baixo teor de proteína. Entre os extremos as proporções entre elas variarão com o peso dos animais. Neste caso as relações entre os aminoácidos nas duas dietas deverão ser muito próximas para que não ocorram alterações significativas com as diferentes misturas. Mesmo assim, este procedimento não está totalmente correto, pois as relações entre alguns aminoácidos variam com o desenvolvimento dos suínos. Isto ocorre, pois aminoácidos como treonina, triptofano, metionina e cisteina tendem a ser mais exigidos, pois têm uma maior contribuição nas necessidades de mantença, que aumentam com a idade dos animais (PARSONS e BAKER, 1994).

Uma outra forma de alimentar os suínos é com o uso do sistema de cafeteria. Aos animais são fornecidas duas opções de rações e eles balanceiam o consumo de nutrientes pelo consumo parcial de cada ração. Em tese isto é possível. Entretanto, situações como má mistura dos ingredientes, presença de substâncias tóxicas e palatabilidade de algum ingrediente, podem interferir na harmonia do consumo entre as rações e interferir no desempenho dos animais.

Um problema de fases também ocorre com animais em reprodução. Em algumas situações é inadequadamente empregada a mesma ração para porcas em gestação ou lactação. As gestantes necessitam menos proteína do que as lactantes. Além disto, as gestantes consomem a ração por 114 dias enquanto que as lactantes somente por um período curto (21 a28 dias) e de alta exigência nutricional. Assim, é indispensável empregar rações diferenciadas para porcas em gestação e lactação.

BAKER et al. (1997) sugeriram, após os 50 kg de peso corporal, que as exigências sejam separadas entre machos e fêmeas. As fórmulas devem ser obtidas levando em consideração as necessidades de aminoácidos e não as de proteína total. Isto tem um efeito muito importante na redução das perdas de nitrogênio, especialmente quando os preços dos aminoácidos sintéticos, lisina, metionina e treonina estão acessíveis.

BAKER et al. (1975) demonstraram a importância em formular com base em aminoácidos e não em base proteína bruta. Eles reduziram o teor de proteína em duas unidades e primeiramente mantiveram o mesmo valor de lisina da dieta testemunha. Os resultados foram semelhantes, mesmo com a redução da proteína bruta. Em um dos tratamentos os autores diminuíram, junto com a proteína, o teor de lisina suplementada, considerando que a lisina sintética tinha 100% de disponibilidade. Também encontraram valores de desempenho semelhantes àqueles obtidos pelos animais recebendo a ração testemunha. Assim, na época os autores já rompiam com a idéia da formulação com base em proteína bruta e propunham o conceito da formulação com base em aminoácidos digestíveis.

Em um experimento desenvolvido para avaliar o efeito da redução da proteína em dieta para suínos em crescimento/terminação, VAN ESSEN (1989), demonstrou que uma suplementação conveniente de aminoácidos às rações permite que o teor de proteína delas baixe para níveis inferiores àqueles propostos por BAKER et al. (1997), sem prejudicar os resultados de desempenho dos suínos. Além disto, a quantidade de nitrogênio excretada diminuiu significativamente com a redução do teor de proteína da ração.

Ainda, seguindo o conceito de formular rações para suínos com base em aminoácidos e não com base em proteína bruta, CROMWELL et al. (1996), mostraram em dois experimentos de digestibilidade, que a redução do nível de proteína (4 unidades) da ração com a suplementação de aminoácidos, promoveu uma redução da excreção total e da excreção urinária de nitrogênio. Os autores também verificaram uma redução na retenção de nitrogênio. Esta perda na retenção de nitrogênio não era esperada, entretanto, pelos níveis nutricionais das rações e as suplementações dos aminoácidos, é possível especular que a redução de 4 unidades de percentagem foi severa demais. Os autores só suplementaram, nas rações com baixa proteína, a lisina, a metionina, a treonina e o triptofano.

Com esta rigorosa redução de proteína pode ter comprometido a resposta animal e, por conseqüência, comprometido a retenção de nitrogênio. Esta hipótese pode ser sustentada pelo aumento do percentual de nitrogênio retido quando ocorreu a redução de nitrogênio. Os suínos foram mais eficientes em reter o nitrogênio mesmo não retendo a quantidade eventualmente esperada. Porém, o que importa é que a redução de proteína nas duas fases promoveu uma diminuição na quantidade total de nitrogênio excretado.

3.3.3. Formulação com base em nutrientes digestíveis

Formular dietas para suínos com base em aminoácidos digestíveis é um procedimento que vem tornando-se cada vez mais comum. A principal vantagem deste procedimento é que o mesmo permite que as rações sejam formuladas com menor margem de segurança. Como são atribuídos valores de digestibilidade para cada aminoácido em cada ingrediente, os níveis empregados podem ser mais próximos àqueles que realmente os animais necessitam.

Michel (1964), citado por PARSONS e BAKER (1994), recomendava que as fórmulas deveriam ser feitas com base na digestibilidade dos aminoácidos e a relação entre eles deveria ser preservada. Pela primeira vez defendeu-se o conceito da proteína ideal, ou seja, as fórmulas devem ser feitas utilizando os valores de aminoácidos digestíveis e todos devem ter suas exigências relacionadas à exigência dos animais em lisina digestível. Ainda existe relutância por parte de alguns nutricionistas em usar este conceito. Entretanto, tudo indica que ele será empregado, quando a pressão em minimizar as perdas de nitrogênio das dietas for intensificada.

Um outro cuidado que os nutricionistas devem ter é o de manter uma relação lisina:proteína constante para cada fase de produção. Em dietas sem o uso de aminoácidos sintéticos esta relação deve ficar entre 4,5 a 5,2%. No caso do uso de aminoácidos sintéticos esta relação pode aumentar para 6,5 a 7,0% (HENRY, 1996). Aumentando a relação lisina:proteína ocorrerá uma redução de consumo (27%) e de excreção de nitrogênio (40%), assumindo o uso de uma única dieta durante todo o crescimento e com a retenção de nitrogênio ficando em um terço do nitrogênio consumido.

HENRY (1996), observou que quando o teor de proteína de uma dieta que tem a lisina como primeiro aminoácido limitante diminui, a suplementação de lisina ao nível desejado, aumentando a relação lisina:proteína, em nada afeta o consumo de ração e o desempenho dos suínos. Já com o triptofano a situação é diferente. Excesso de proteína em dieta deficiente neste aminoácido tem como conseqüência uma redução no consumo de alimento e no crescimento dos animais. Isto ocorre pelo mau balanceamento entre este aminoácido neutro e os demais aminoácidos neutros (leucina, isoleucina, valina, fenilalanina e tirosina). O autor sugeriu que em dieta onde o triptofano pode ser o segundo aminoácido limitante, o aumento de proteína pode comprometer o consumo de alimento. Em contrapartida, dieta bem balanceada, com menos proteína, nestes casos pode estimular o consumo de alimento.

A redução de nitrogênio consumido e conseqüente redução de nitrogênio excretado, que ocorre quando as fórmulas das rações são feitas com base ao conceito da proteína ideal, não só melhora o aproveitamento dos aminoácidos, como também da energia. A menor excreção de nitrogênio também resulta em uma menor produção de calor para catabolizar os aminoácidos, pois eles estarão na dieta em menor quantidade e de forma balanceada. Assim, a energia líquida da dieta aumenta. Logo, HENRY (1996) sugeriu que a formulação de ração com base a proteína ideal deverá vir acompanhada do uso de valores de energia líquida dos ingredientes e não de valores de energia digestível ou metabolizável.

Nos últimos anos os nutricionistas também têm estabelecido as exigências dos suínos em fósforo com base ao fósforo disponível. Em um primeiro momento foi generalizado que a digestibilidade das fontes vegetais de fósforo seria 1/3 do valor total do fósforo no ingrediente. A metodologia para o estudo da digestibilidade de fósforo nos ingredientes não é muito simples. Vários são os fatores que podem interferir nos valores encontrados. Entre eles podem ser citados: o estádio de maturação dos grãos, a idade dos animais empregados no ensaio biológico, a fonte de fósforo utilizada para a comparação da digestibilidade, etc. Entretanto, mesmo com estas dificuldades, alguns valores de digestibilidade de fósforo estão disponíveis na literatura. O NRC (1988) apresentou uma tabela de valores estimados de disponibilidade biológica de fósforo em diferentes ingredientes, empregados para suínos de 15 a35 kg de peso corporal. HENRY (1996) citou que a introdução da formulação de suínos com base em fósforo disponível permitiu na Holanda uma redução de 30% na concentração deste nutriente nos dejetos.

3.3.4. Efeito do genótipo no desempenho e na produção de dejetos de suínos

HENRY (1996), em sua revisão sobre o tema nutrição e poluição dos dejetos de suínos, mostrou as diferenças de desempenho de suínos de diferentes genótipos em um período entre 25 e 95 kgde peso corporal.

O autor citou que os animais mais magros têm uma maior relação lisina:consumo de alimento que os animais dos outros dois genótipos. Para os animais magros a redução da exigência de lisina na fase de crescimento (25 a 40 kg de peso corporal) foi bastante acentuada e na fase de terminação foi pequena, quando comparadas com as alterações de lisina nos machos inteiros da raça Large White. Já para os animais da raça Large White castrados a redução de lisina foi bastante grande, desde a fase de crescimento, mantendo-se com a mesma intensidade na fase de terminação. Assim, o autor propôs que a alimentação de suínos depende do seu genótipo, de sua capacidade em depositar proteína ou gordura. Animais com propensão para depositar gordura devem ter os níveis nutricionais das dietas reduzidos mais rápida e intensamente que os suínos de genótipo magro.

3.3.5. Formulação empregando aditivos que melhoram a digestibilidade

A digestibilidade das dietas pode ser melhorarada pela utilização de ingredientes com alta digestibilidade. Entretanto, nem sempre estes ingredientes estão disponíveis ou seus preços são atrativos. Assim, uma maneira de melhorar a digestibilidade dos ingredientes é usar enzimas exógenas, que são adicionadas às rações. Entre elas podem ser citadas as enzimas que digerem os polissacarídios não amídicos, as fitases, as lipases, as proteases, etc. Também a digestibilidade de um alimento pode ser aumentada pela redução de fatores anti-nutricionais como anti-tripsinas, lectinas, taninos e proteínas antigênicas.

A fitase é a enzima mais importante na alimentação animal no presente momento. Seu preço aproxima-se de valor compatível ao seu uso e permite uma ação eficiente sobre a digestibilidade do fósforo fítico, indisponível para os monogástricos. A digestibilidade do fósforo das plantas é baixa e esta enzima favorece seu aproveitamento, permitindo uma menor adição deste nutriente às rações e, por conseqüência, uma diminuição da possível poluição que este nutriente pode causar ao ambiente, caso não seja digerido e aproveitado pelos animais. A adição de fitase em uma dieta para suínos, com peso corporal entre 50 e 70 kg, diminuiu a excreção de fósforo em aproximadamente 35%. Estes mesmos autores, trabalhando com leitões entre 10 e 30 kgde peso corporal, também encontraram efeito positivo da fitase no aproveitamento do fósforo fítico.

CROMWELL et al. (1996), também avaliaram a eficiência da adição de fitase (1250 unidades de fitase/kg) em dois experimentos de digestibilidade com suínos, quando os níveis de fósforo total das rações foram reduzidos.

A redução do fósforo total com a inclusão de fitase reduziu a excreção fecal, urinária e total de fósforo e não interferiu na retenção de fósforo. Na fase de crescimento a enzima promoveu um aumento na eficiência de retenção em 50% e na fase de terminação em 72%.

Além de todos estes procedimentos descritos, no futuro cada vez mais a biotecnologia proporcionará ingredientes com maoir digestibilidade. Novas variedades de milho já estão tornando-se disponíveis com mais lisina, o que poderá permitir a redução dos níveis de proteína das rações e a suplementação de lisina sintética. Também já existem estudos avançados na produção de soja, onde as sementes não têm inibidores de crescimento como as anti-tripsinas. Além disto, o mercado começa a ser suprido com minerais quelatados (zinco, selênio, cobre, etc.), que favorece a sua absorção e, por conseqüência, a redução de seus níveis nas rações animais. Também tecnologias estão avançando no sentido de que a amônia produzida pelos dejetos seja retida por substâncias específicas, evitando os prejuízos conhecidos aos animais e aos seres humanos, como agente poluidor.

4. Vantagens econômicas do uso restrito de nutrientes poluidores

Reduzir a inclusão de nutrientes poluidores nas rações, com conseqüente redução da excreção deles, tem uma importância muito grande na preservação da qualidade do meio ambiente. A redução dos nutrientes, feita de forma adequada, não compromete negativamente o desempenho dos suínos. Ao contrário, em vários casos pode até melhorar. Entretanto, existe uma outra razão para que os nutricionistas devam estar atentos: no emprego de programas de alimentação com múltiplas fases tanto com animais em crescimento/terminação quanto com porcas em reprodução, e para animais de diferentes sexos. Esta razão está relacionada com os custos das diferentes dietas.

5. Considerações finais

A questão dos dejetos suínos não se constitui apenas num problema que envolve o setor produtivo de suínos. Ela tem inter-relação com todas as atividades que de certa forma afetam a qualidade da natureza que temos ao nosso redor. Assim, regiões onde há problemas de emissões de resíduos industriais, alterações no ecossistema, contaminações da natureza com dejetos urbanos e aqueles produzidos por outras espécies animais podem tornar mais complexo o problema.

Essa questão deve ser tratada amplamente pela sociedade de maneira técnica, sem apegos particulares, visando a qualidade de vida das populações, o atendimento dos anseios do consumidor e o desenvolvimento sustentável de nossa Agricultura.

Dentro deste cenário encontram-se os nutricionintas que cada vez mais deverão participar deste processo, visando uma melhor utilização dos nutrientes oferecidos aos animais e formulando suas dietas com menos margem de segurança, baseados nos conhecimentos das exigências nutricionais dos animais nas diferentes fases de produção e também conhecendo melhor a qualidade nutricional dos ingredientes disponíveis para a alimentação dos suínos.

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