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Neymar (Parte II) - de cortador de cana a gerente


ANDRE MARQUES VALIO
Ontem começamos a contar a história do Neymar, um jovem filho de migrantes que começou a vida como cortador de cana e conseguiu, com muito suor e fé vencer na vida (clique Aqui para ver).
Neymar já tinha 24 anos, apresentava uma carreira ascendente nos 6 anos em que estava trabalhando na empresa. Era um estudante dedicado de Engenharia Mecânica em curso noturno e um líder de manutenção mecânica jovem, mas que já era respeitado pela sua chefia direta, pelos seus pares e, principalmente pelos seus subordinados.

Diferentemente do seu homônimo famoso, ele não era uma pessoa que se fazia notar por onde passava. De pouca fala, dicção lenta e em baixo volume, porém firme, apresentava um perfil de seriedade, mesmo com a pouca idade.
Nesta época, juntamente com os gerentes de processos agrícola e automotivo, nós havíamos decidido implantar um sistema de indicadores-chave de performance (os famosos KPI) e a partir deles seriam pagos os bônus anuais por desempenho a baixa e a média liderança.
Como plano de avaliação individual de desempenho, criamos um "rating" que variava de 1 a 4:
Nível 1: profissional excepcional e apto a receber maior responsabilidade;
Nível 2: acima da média para a função, mas ainda com necessidade de algo mais para uma promoção;
Nível 3: aptos para a função que exercem, mas sem nenhum diferencial.
Nível 4: profissional abaixo do nível mínimo para exercer a função.
Esta análise era feita em comitê, juntamente com o nosso suporte de RH e o "feedback" era discutido individualmente com cada um de nossos líderes avaliados.
Foi então que o nosso comitê chamou o Neymar para dá-lo o nosso "feedback" e na reunião informamos a ele que, naquele ano ele estaria recebendo o bônus no máximo para o seu cargo, pois tinha atingido todos os objetivos traçados dentro dos KPI, mas que o seu "rating" era 2, pois ainda apresentava pouca experiência na gestão, já que ainda não havia completado nem um ano na nova função e ainda não tinha passado por todos os treinamentos oferecidos pelos fabricantes dos equipamentos de nossa frota.
Neymar nos agradeceu pelo reconhecimento em ter cumprido todos os objetivos do ano e por poder ouvir qual era o nosso sentimento quanto à sua gestão. E voltou naturalmente ao trabalho.
Dez dias depois, Neymar solicitou a mim uma reunião para me fazer um "follow up" do seu trabalho. Embora eu não fosse o seu superior imediato, sempre mantive a cultura de portas abertas na minha gestão e por isso sempre dou a liberdade de todos me acessarem quando julgarem necessário.
Neymar: "Dr., depois daquela reunião com vocês lá no RH fiquei quase 2 noites sem dormir. Porque o meu trabalho e a minha família são a minha vida. Se eu tenho algo pra melhorar, eu vou melhorar. O Dr. vai ver que no próximo ano eu serei nível 1".
AMV: "Não se preocupe, você é jovem e é a sua primeira experiência como líder e está se saindo muito bem".
Neymar: "Mas Dr., eu já tenho 24 anos!" (resposta típica da Geração Y que acha que aos vinte e poucos anos tudo já aconteceu na vida...) "Mas eu também entendo que eu preciso me preparar. Então eu vim solicitar ao Dr. que me autorize a "tirar" 45 dias de férias, para que eu possa estudar inglês".

AMV: "45 dias?"
Neymar: "Depois da reunião, eu conversei muito com a minha mulher e decidi que eu preciso estudar mais. Vários dos tratores que estamos comprando são importados e os manuais são em inglês. Os melhores livros de mecânica que vejo na faculdade são em inglês. E eu já estou a 3 anos fazendo curso de línguas na cidade, mas não está sendo suficiente. Então eu estou querendo comprar um curso de inglês e passar 45 dias estudando no Canadá. Mas eu já planejei tudo, e eu vou na entressafra, pois é quando o meu trabalho é mais tranquilo e os cursos são mais baratos porque lá vai ser inverno".
E mais uma vez o Neymar me surpreendeu! Ele tinha um VW Gol de 6 anos de uso e vendeu o carro para pagar as passagens e o curso. Decidiu que iria andar apenas de ônibus ou de bicicleta, mas que iria estudar inglês no Canadá.
Dois meses se passaram e eu encontrei pela primeira vez o Neymar após seu retorno das férias. E foi quando eu o vi com livros e manuais do "Sistema Toyota de Produção" e de "Gestão da Qualidade Total - TQM". Quando ele me viu e percebeu o meu interesse por sua leitura, ele me respondeu: "Dr., não sei se um dia a Usina vai estar pronta para implantar todas estas ferramentas, mas se esse dia chegar, eu vou estar pronto para elas!"
No final do ano, Neymar mais uma vez atingiu todos os seus objetivos de safra, faturou o bônus integral e, desta vez, alcançou o tão sonhado "rating" 1.
Um ano mais tarde, ele foi promovido a Supervisor de Manutenção de Colheita e, após dois anos nesta nova função, ele alcançou a posição de Gerente de Manutenção Automotiva.
E agora, os próximos desafios do nosso pupilo: juntar dinheiro pelos próximos 4 anos e tirar um ano de sabático para fazer um MBA na Alemanha.
Aqui vai uma mensagem pessoal do AMV para o Neymar: "Garoto, eu tiro o meu chapéu pra você! Um forte abraço e meus mais sinceros votos de sucesso."

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