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Mosca Negra dos Citros


José Luis da Silva Nunes

Por *José Luis da Silva Nunes¹ & Clarissa Melo Cogo²

INTRODUÇÃO

O Brasil é, atualmente, o maior produtor mundial de frutas cítricas, possuindo mais de um milhão de hectares plantados. A maior parte da produção brasileira de laranjas destina-se à indústria de suco. Esta produção está basicamente concentrada no estado de São Paulo que, sozinho, é responsável por 70% da produção nacional de laranjas e 98% da produção de suco.

O aparecimento de novas pragas na cultura citrícola eleva os custos de produção e ameaçam a manutenção da atividade. Desta forma, o surgimento no país da mosca negra dos citros (Aleurocanthus woglumi Ashby) causa preocupação, pois a mesma é uma importante praga dos citros. Esta é originária do Sudoeste da Ásia e, atualmente, encontra-se disseminada em regiões tropicais e subtropicais da África, das Américas, Ásia e Oceania. Ainda não foi encontrada na Europa.

O primeiro registro da praga no país foi feito em áreas urbanas do estado do Pará em 2001 sendo detectada, posteriormente, nos estados do Amazonas, Maranhão, Amapá, Goiás e Tocantins. Em 2008 foi detectada em pomares de citros no estado de São Paulo, primeiramente no município de Arthur Nogueira e, depois, nos municípios de Holambra, Conchal, Cosmópolis, Paulínia, Engenheiro Coelho, Limeira e Mogi Mirim. As infestações foram constatadas principalmente em pomares de lima ácida Tahiti, espalhando-se rapidamente para os demais pomares de citros.

Até 2007, a praga era considerada quarentenária no Brasil, ou seja, por não estar amplamente disseminada no país ainda era considerada sob controle. Atualmente, em função de sua ampla dispersão, não é mais considerada uma praga quarentenária A-2, representando uma ameaça à citricultura brasileira, necessitando medidas fitossanitárias rigorosas para seu controle.

DISPERSÃO, PLANTAS HOSPEDEIRAS E DANOS

Embora as plantas cítricas sejam sua hospedeira primária, a praga pode infestar mais de 300 diferentes espécies de plantas, tanto cultivadas quanto silvestres. Já foram constatadas infestações em abacateiro, cajueiro, videira, goiabeira, entre outras. A principal forma de dispersão da mosca negra ocorre através de uso de mudas ou plantas ornamentais infestadas transportadas pelo homem. Além disto, pode ocorrer naturalmente através de folhas infestadas carregadas pelo vento ou dispersão natural pelo crescimento populacional da praga.

A fêmea faz a postura na face inferior das folhas, em espiral, em grupos de 35 a 50 ovos. Uma fêmea pode colocar, em média, 100 ovos durante seu ciclo de vida. O ciclo biológico pode variar de 45 a 103 dias, em função da temperatura, podendo ocorrer até quatro gerações ao ano.

Os danos diretos causados pela mosca negra se devem ao fato de que a mesma alimenta-se de grande quantidade de seiva, deixando a planta debilitada, levando-a ao murchamento, e, em muitos casos, à morte. Tanto os adultos como as formas imaturas da mosca negra causam danos ao se alimentarem do floema da planta.

Além disto, causam danos indiretos, pois, durante a alimentação, eliminam uma excreção açucarada na superfície da folha, facilitando o aparecimento da fumagina (Capnodium sp.). A fumagina que se desenvolve sobre as excreções da mosca negra, pode revestir totalmente a folha, acarretando redução da fotossíntese, diminuição do nível de nitrogênio das folhas e impedindo a respiração da planta. Em altas concentrações a fumagina interfere na formação dos frutos, prejudicando a produção e diminuindo o seu valor comercial. Uma infestação severa pode prejudicar a frutificação em até 80%.

MONITORAMENTO

O monitoramento deve ser feito através de inspeções semanais das brotações novas, examinando-se a face inferior das folhas, procurando sinais de postura da mosca negra (ovos, ninfas, pupas e adultos). Deve-se observar que:

• As posturas do inseto têm formato em espiral e os ovos são de cor creme e reniformes;

• As ninfas são escuras e as pupas são negras e cerosas esbranquiçadas, chegando ao final do estádio de pupa com grandes espinhos;

• Os adultos são cinza-azulados escuros.

Armadilhas adesivas amarelas também devem ser usadas para detecção de adultos da praga. Na dúvida, se houver necessidade, coletar material (ninfas e adultos), conservando-os em álcool etílico a 70% para envio aos laboratórios para identificação. O monitoramento deve ser registrado em formulários oficiais, os quais serão enviados ao laboratório, constando a identificação do ponto de coleta com GPS.

Nunca carregar material vivo de insetos ou partes vegetais, para evitar a disseminação da praga para locais sem ocorrência.

LEVANTAMENTOS DE DETECÇÃO NO PAÍS

A Instrução Normativa 52/2007 preconiza que cada Unidade Federativa (UF) do país deve identificar possíveis focos em seu estágio inicial, o que permitiria a sua rápida erradicação. Desta forma, os órgãos de defesa agropecuária das UF devem realizar, semestralmente, levantamentos de detecção, comunicando ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) seus resultados, por meio de relatórios detalhados.

Para o monitoramento da Mosca Negra dos Citros no Brasil, as unidades da federação foram classificadas quanto ao risco de introdução da praga, conforme segue:

- UF com ocorrência da praga: estados do Amazonas, Pará, Maranhão, Tocantins, Goiás e São Paulo;

- UF com alto risco de ocorrência da praga: Roraima, Acre, Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e Piauí;

- UF de médio risco de ocorrência da praga: Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Espírito Santo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Deve-se observar que, nas UF de médio risco, devem ser inspecionadas plantas hospedeiras em pelo menos 10% dos comerciantes de mudas cadastrados na UF, em todas as Centrais de Abastecimento e principais postos de parada de caminhoneiros nas rodovias de acesso ao Estado.

Já nas UF de alto risco a inspeção deve ser realizada nos locais de risco (Centrais de Abastecimento e principais postos de parada de caminhoneiros nas rodovias de acesso ao Estado) e em 100% dos pomares comerciais e viveiros de produção de mudas de espécies hospedeiras, localizados nos municípios que fazem limite com a UF de ocorrência da praga. Além disto, em pomares comerciais de até cinco hectares, inspecionar dez plantas por unidade produtiva e em áreas maiores que cinco hectares inspecionar vinte plantas por unidade produtiva.

Nas UF com ocorrência da praga, o monitoramento da mosca negra deverá ser feito pelo Responsável Técnico (RT) da Certificação Fitossanitária de Origem (CFO), a fim de que seus produtos possam transitar por UF sem ocorrência da praga. Para que sejam permitidas partidas de plantas, flores de corte e material de propagação das espécies hospedeiras quando tiverem como destino estabelecimentos localizados em UF sem ocorrência da praga, devem ser provenientes de locais onde não tenha sido constatada a presença da praga nos últimos seis meses que antecederam a partida, comprovado por anotações no Livro de CFO. Mesmo assim, antes da expedição a partida deve ser inspecionada e a CFO supervisionada pelo órgão de defesa agropecuária da UF, através da inspeção das Unidades de Produção e Unidades de Consolidação, a fim de verificar a conformidade fitossanitária atestada pelos RT.

DETECÇÃO DA PRAGA

No caso de detecção da praga, deve-se:

• Informar ao MAPA imediatamente;
• Eliminar as partes infestadas da planta;
• Instalar armadilhas amarelas, trocando-as a cada 07 dias;
• Realizar o controle químico das plantas afetadas com uso de Imidacloprido.

CONTROLE QUÍMICO

O controle químico é realizado com uso de Imidacloprido (200 gramas L-1), único princípio ativo registrado para controle da mosca negra dos citros. A calda deve ser preparada com a diluição de 20 mL de produto comercial para cada 100 L de água, aplicando-se de 1.800 a 2.000 L ha-1, respeitando-se o intervalo de 21 dias, atingindo, principalmente, a face inferior das folhas. Deve-se salientar que o inseticida é mais eficiente para controlar as ninfas do que os adultos. Podem-se utilizar óleos minerais, que tem alguma ação sobre a praga, porém sua maior eficácia é na diminuição da ação da fumagina.

CONTROLE BIOLÓGICO

O controle biológico é bastante eficaz no controle da mosca negra dos citros. A praga tem vários inimigos naturais, dentre eles os mais efetivos são as vespinhas Encarsia opulenta (Silvestri) e Amitus hesperidum Silvestre.
Além das vespinhas, foi constatado que os fungos entomopatogênicos Aschersonia aleyrodes, Fusarium sp. e Aegerita webberi parasitam as ninfas de mosca negra de citros.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O uso e a regulação das medidas preconizadas na Instrução Normativa 52/2007 e a aplicação das regras de controle fitossanitário são necessárias e devem ser cumpridas de forma a mitigar o risco da disseminação da praga em todo o território nacional. Além disto, as medidas de controle necessárias devem ser implementadas para erradicar a praga de importantes áreas produtoras, como o estado de São Paulo.
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¹Engenheiro Agrônomo, Dr. em Fitotecnia, grupo técnico do BADESUL, Agência de fomento do Estado do Rio Grande do Sul.
²Engenheira Agrônoma, Drª em Ciências, grupo técnico do BADESUL, Agência de fomento do Estado do Rio Grande do Sul.

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