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Morfogênese de Mesosetum chaseae nos Lavrados de Roraima


Newton de Lucena Costa
Introdução

Nos cerrados de Roraima, as pastagens nativas representam a fonte mais econômica para alimentação dos rebanhos. A produção de forragem durante o ano apresenta flutuações estacionais, ou seja, abundância no período chuvoso (maio a setembro) e déficit no período seco (outubro a abril), o que afeta negativamente os índices de produtividade animal (COSTA et al., 2008). A utilização de práticas de manejo adequadas é uma das alternativas para reduzir os efeitos da estacionalidade na produção de forragem. O estádio de crescimento em que a planta é colhida afeta diretamente o rendimento, a capacidade de rebrota e a sua persistência. A morfogênese de uma gramínea, durante seu crescimento vegetativo, é caracterizada por três fatores: a taxa de aparecimento, a taxa de alongamento e a longevidade das folhas, as quais são determinadas geneticamente e podem ser afetadas pelos fatores ambientais e práticas de manejo adotadas (HORST et al., 1978). O conhecimento das características morfogenéticas e estruturais pode permitir a proposição de práticas de manejo específicas para cada gramínea forrageira (GOMIDE, 1997). Neste trabalho foram avaliados os efeitos da idade das plantas sobre a produção de forragem e características morfogênicas e estruturais de Mesosetum chaseae Luces, gramínea nativa dos cerrados Roraima.

Material e Métodos

O experimento foi conduzido em uma pastagem de M. chaseae, localizada em Boa Vista, Roraima, a qual foi submetida à queima em meados do período seco (novembro). O período experimental foi de janeiro a abril de 2010, que corresponde à estação seca, sendo a precipitação acumulada de 48 mm. O solo da área experimental é um Latossolo Amarelo, com as seguintes características químicas, na profundidade de 0-20 cm: pH = 4,8; P = 1,5 mg/kg; Ca + Mg = 0,90 cmolc.dm-3; K = 0,01 cmolc.dm-3 e Al = 0,61 cmolcdm-3. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com três repetições, sendo os tratamentos constituídos por sete idades de corte (14, 21, 28, 35, 42, 49 e 56 dias após a queima da pastagem). As parcelas mediam 2,0 x 2,0 m, sendo a área útil de 1,0 m2.Os parâmetros avaliados foram rendimento de matéria seca (MS), taxa absoluta de crescimento (TAC), número de perfilhos/planta (NPP), número de folhas/perfilho (NFP), taxa de aparecimento de folhas (TAF), taxa de expansão foliar (TEF), taxa de senescência foliar (TSF), tamanho médio de folhas (TMF) e área foliar/perfilho (AF). A TAC foi obtida dividindo-se o rendimento de MS, em cada idade de corte, pelo respectivo período de rebrota. A TEF e a TAF foram calculadas dividindo-se o comprimento acumulado de folhas e o número total de folhas no perfilho, respectivamente, pelo período de rebrota. O TMF foi determinado pela divisão do alongamento foliar total do perfilho pelo seu número de folhas. Para o cálculo da AF utilizou-se a fórmula da área do triângulo (altura x base/2) e, para tanto foram anotados o comprimento e a largura de todas as folhas dos perfilhos amostrados. A TSF foi obtida dividindo-se o comprimento da folha que se apresentava de coloração amarelada ou necrosada pela idade da planta ao corte.

Resultados e Discussão

A relação entre as idades das plantas e o rendimento de MS foi quadrática e definida pela equação: Y = 5,2143 + 7,1276 X – 0,066321 X2 (R2 = 0,98), sendo o máximo valor estimado aos 53,8 dias de rebrota. A TAC foi inversamente proporcional às idades das plantas, sendo a relação linear e descrita pela equação: Y = 7,4793 - 0,071315 X (r2 = 0,99)(Tabela 1). Mochiutti et al. (1999) e Rodrigues (1999) reportaram para M. chaseae, respectivamente, rendimentos de 358 e 612 kg/ha de MS para as pastagens roçadas e, 343 e 417 kg/ha de MS para as pastagens queimadas anualmente. Rodrigues (1999) obteve TAC de 14,1 e 22,4 kg de MS/ha/dia, respectivamente para pastagens de M. chaseae, submetidas a roçagem e queima, as quais foram superiores às registradas neste trabalho. O NPP e o NFP foram ajustados ao modelo linear de regressão e descritos, respectivamente, pelas equações: Y = 2,9607 + 0,142308 X (r2 = 0,97) e Y = 1,9179 + 0,068911 X (r2 = 0,99). A correlação entre o NPP e o rendimento de MS foi positiva e significativa (r = 0,9635; P<0,001), a qual explicou em 92,8 % os incrementos verificados nos rendimentos de forragem da gramínea, em função das idades de corte. A relação entre idades das plantas e o TMF foi quadrática (Y = 4,7543 + 0,0621 X – 0,000617 X2 - R2 = 0,96), sendo o valor máximo estimado aos 50,3 dias de rebrota.

Os valores obtidos neste trabalho para o NPP, NFP e TMF foram inferiores aos reportados por Costa et al. (2008) para Axonopus aureus, gramínea nativa dos cerrados de Roraima, que estimaram 10,75 perfilhos/planta; 6,95 folhas/perfilho e 14,88 cm. A AF foi diretamente proporcional às idades da plantas, ocorrendo o inverso quanto a TAF, sendo as relações lineares e descritas, respectivamente, pelas equações: Y = 1,3139 + 0,077607 X (r2 = 0,98) e Y = 0,2131 – 0,002214 (r2 = 0,99). A TEF foi ajustada ao modelo quadrático de regressão e descrita pela equação: Y = 1,4834 -0,03112 + 0,000313 X2 (R2 = 0,95), sendo o máximo valor registrado aos 49,7 dias de rebrota. A AF, TAF e a TEF obtidas neste trabalho, para a maioria das idades das plantas, foram inferiores às reportadas por Costa et al. (2008) para A. aureus (51,71 cm2/perfilho; 0,154 folhas/perfilho.dia e 2,15 cm/perfilho.dia, para plantas cortadas aos 45 dias de rebrota.

A TEF, em decorrência de sua alta correlação com a produção de biomassa, tem sido utilizada como um dos critérios para a seleção de germoplasma forrageiro em trabalhos de melhoramento genético (HORST et al., 1978). No presente trabalho, as correlações entre TEF, TAF e o rendimento de MS foram negativas e significativas (TEF: r = -0,9905; P<0,01; TAF: r = -0,9973; P<0,01), possivelmente como conseqüência da baixaumidade do solo, a qual restringiu a maximização das características morfogênicas e estruturais da gramínea.

A TAF afeta diretamente o tamanho da folha, a densidade populacional de perfilhos e o número de folhas/perfilho (HORST et al., 1978). Neste trabalho, a correlação entre TAF e TEF foi positiva e significativa (r = 0,9836; P<0,01), evidenciando uma sincronização entre o intervalo de tempo para o aparecimento e a expansão das folhas, como consequência da baixa disponibilidade de água no solo, a qual limitou os processos fisiológicos para o adequado crescimento da gramínea. A TEF foi positivamente correlacionada com a quantidade de folhas verdes remanescentes no perfilho após a desfolhação (r = 0,7666; P<0,04). A relação entre TSF e as idades das plantas foi linear e definida pela equação: Y = 0,0115 + 0,000915 X (r2 = 0,97). O processo de senescência só ocorreu a partir dos 28 dias de idade, sendo as maiores taxas verificadas aos 35 e 42 dias de idade. Os valores registrados neste trabalho foram inferiores aos reportados por Costa et al. (2008) para A. aureus, que estimaram uma TSF de 0,224 cm/perfilho.dia, para cortes em plantas aos 45 dias de rebrota.

Conclusões


O aumento da idade das plantas resultou em maiores rendimentos de forragem, taxa absoluta de crescimento, número de perfilhos/planta, número de folhas/perfilho, taxa de senescência foliar, área foliar e tamanho médio de folhas. As taxas de aparecimento e expansão de folhas foram inversamente proporcionais às idades das plantas. Visando conciliar produtividade de forragem com a maximização das características morfogênicas e estruturais da gramínea, o período de utilização mais adequado de suas pastagens situa-se entre 42 e 49 dias de rebrota.


Referências Bibliográficas

COSTA, N. de L.; MATTOS, P.S.R.; BENDAHAN, A.B. et al. Morfogênese de duas gramíneas forrageiras nativas dos lavrados de Roraima. Pubvet, Londrina, v.2, n.43, Art#410, 2008.

GOMIDE, J.A. Morfogênese e análise de crescimento de gramíneas tropicais. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE PRODUÇÃO ANIMAL EM PASTEJO, Viçosa, 1997. Anais...Viçosa: UFV, p.411-430, 1997.

HORST, G.L.; NELSON, C.J.; ASAY, K. H. 1978. Relationship of leaf elongation to forage yield of tall fescue genotypes. Crop Science, v.18, n.5, p.715-719, 1978.

MOCHIUTTI, S.; MEIRELLES, P.R.L.; SOUZA FILHO, A.P. Efeito da freqüência e época de roçada sobre a produção e rendimentos das espécies de pastagem nativa de cerrado do Amapá. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 36., Porto Alegre, 1999. Anais... Porto Alegre: SBZ, 1999, 3p (CD-ROM).

RODRIGUES, C.A.G. Efeitos do fogo e da presença animal sobre a biomassa aérea e radicular, nutrientes do solo, composição florística, fenologia e dinâmica de um campo de capim-corona (Elyonurus muticus (Spreng.)O.Ktze) no Pantanal (Sub-região de Nhecolândia). Campinas: UNICAMP, 1999, 282p. Tese de Doutorado.

Newton de Lucena Costa (Embrapa Roraima)

Vicente Gianluppi (Embrapa Roraima)

Aníbal de Moraes (UFPR)

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