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Microrganismos no coração do sistema produtivo


Altamiro Alvernaz

Bem-vindo a um novo mundo de possibilidades!

Antes de iniciar o assunto dessa segunda coluna, gostaria de recapitular o que falamos na coluna passada, para solidificar os conceitos e partir para o novo tema.

Na última coluna, em maio, apresentamos uma nova visão para assuntos que hoje são tratados como “status quo”, até então intocáveis. Mostramos a diferença de remediação e prevenção. Desde a descoberta da penicilina e sua utilização em massa a partir dos anos 40 até a encruzilhada que nos encontramos hoje, com a resistência bacteriana e o aparecimento das superbactérias em hospitais e nos ambientes de produção animal, trazendo enormes prejuízos. Apresentamos, por outro lado, o modelo preventivo usado no Oriente, com o uso de variados microrganismos naturais que reforçam e protegem os mecanismos de defesa do nosso corpo. Entendemos que remediar interessa a indústria e não interessa a nós. A nós interessa a prevenção, ter saúde. Não queremos ficar gastando fortunas com remédios. Não queremos ter problema com pragas nas nossas fazendas. E concluímos que prevenir é trazer vida para o sistema de produção, enquanto remediar é matar todo o sistema e começar o ciclo de novo, até que se precise remediar novamente, gerando resistência bacteriana e menos produtividade. E entendemos que prevenir é bem mais barato que remediar.

Partindo desse ponto, nessa coluna e na próxima falaremos de como você pode trazer saúde à sua vida e a seu sistema produtivo. Como sair de um processo de décadas de remediação, que aperta suas contas, e adotar um modelo de prevenção, onde possamos ter menos gastos e mais benefícios.

Vou usar um exemplo de dentro da minha casa mais uma vez. Através da ciência e do estudo do chamado microbioma, sabemos hoje que a saúde de todos nós está ligada diretamente à saúde do nosso intestino, o chamado segundo cérebro. Mais especificamente está ligada aos microrganismos que habitam o nosso intestino. Quando comemos carne, por exemplo, nosso organismo não consome essa carne diretamente. As bactérias que habitam o nosso intestino as consomem. A nossa alimentação é feita daquilo que as bactérias processaram e liberaram dessa carne. Daí o segredo da importância de cuidarmos dos microrganismos do intestino. Essa mesma ciência nos mostrou que temos hospedados no nosso intestino microrganismos bons e microrganismos que causam doenças. E esses microrganismos, bons e maus, são capazes de viver harmonicamente desde que se encontrem em equilíbrio.

Por isso desenvolvi uma formulação com alguns microrganismos vivos que equilibram a microbiota do nosso intestino e ajudam a melhorar a nossa saúde. Como já disse na coluna anterior, eu, minha esposa, filha e mãe tomamos essa formulação e há tempos não pegamos doença viral ou bacteriana. Através da diversidade microbiológica no intestino melhoramos a capacidade de absorção dos alimentos da nossa dieta, tendo como consequência uma melhora na saúde e na nossa imunidade. Quebramos o ciclo doenças/remédios/doenças fazendo o manejo da prevenção. Trouxemos saúde ao nosso sistema produtivo introduzindo microrganismos no nosso intestino, melhorando nossa performance em diversos aspectos do dia a dia. Isso gera menos doenças e menos gastos com remédios.

É o poder da prevenção. Levar saúde ao sistema produtivo. E o mundo científico já descobriu isso. Tudo é microrganismo. Eles foram os primeiros habitantes do planeta. E da evolução deles que ganhamos a dádiva da vida.

Enquanto você lê esse texto, existe uma corrida em torno do termo microbioma no mundo. Um novo campo de estudos dentro da microbiologia transformou a forma como os cientistas veem os fungos, bactérias e outros microrganismos.

Vamos abrir um parêntesis para explicar o que é microbioma. Microbioma é a comunidade de microrganismos presentes em uma localidade e todas as funções que eles desempenham dentro dessa comunidade. Resumindo: não são apenas os microrganismos presentes no intestino ou no solo, e sim a função social que cada um deles desempenha dentro da comunidade onde está inserido.

O entendimento do microbioma humano tem aberto uma nova fronteira para a medicina. Da mesma forma, o microbioma da planta está mudando a agricultura moderna. A relação dos microrganismos ao redor da raiz, do solo e das folhas podem complementar ou substituir os produtos químicos na agricultura.

As soluções através de microrganismos e microbiomas é tão promissor que tem atraído a atenção de pesquisadores, órgãos de fomento e até da indústria. Apenas nos Estados Unidos, estima-se que produtos agrícolas baseados em microbioma movimentem um mercado de mais de US$ 10 bilhões até 2025. Na área médica, apenas na última década, foram investidos US$ 1,7 bilhão em pesquisas nesse campo. As pesquisas abrangem tópicos que vão da influência da microbiota intestinal no funcionamento do cérebro humano até o impacto das bactérias marinhas nas mudanças climáticas.

Como mencionei no post anterior, o conhecimento nos faz evoluir. Diversas comprovações científicas e práticas no campo demonstram que precisamos inserir diversidade microbiana no coração do nosso sistema produtivo.

Hoje o coração do sistema produtivo de mais de 90% do nosso agronegócio está como essa figura da balança abaixo, em desequilíbrio. Se o amigo leitor utiliza defensivos no coração da sua produção, sinto em lhe informar, mas você faz parte desses 90% a que me refiro. Isso significa que alguma coisa acontece no seu processo produtivo que o desequilibra e força você a usar o defensivo. Já parou para pensar nisso? Qual a causa desse desequilíbrio na sua produção se damos tudo que a planta e o animal necessita em termos de nutrientes para crescerem forte, saudável e produzindo? Falarei sobre a causa de alguns desses desequilíbrios em um próximo post. Por enquanto vamos focar no tema de trazer saúde para seu sistema produtivo.

 A figura acima foi o que aprendemos e está enraizado na nossa cultura: remediar, matando tudo, microrganismos benéficos e patogênicos, gerando o desequilíbrio e a resistência bacteriana.

Necessitamos equilibrar essa balança, trazer saúde ao sistema produtivo, qualquer que seja ele. Inserir microrganismos vivos e diversificados que ajudem a equilibrar e harmonizar o sistema produtivo, desencadeando uma série de reações e funções que aumentem a imunidade, a saúde e, consequentemente, a produção desse sistema produtivo. Microrganismos vivos e diversificados significam microrganismos vivos, benéficos, projetados e variados. Microrganismos benéficos porque precisam desempenhar diversas funções além da sua principal. Projetados porque precisamos inserir um grupo que vá trazer benefício para aquele sistema produtivo em função de suas características. Vivos porque estão produzindo constantemente aquilo que é o interesse final da sua aplicação: suas enzimas, aminoácidos, ácidos orgânicos, açúcares, antibióticos naturais, vitaminas e hormônios para levar saúde ao sistema produtivo. E variados porque quanto mais indivíduos benéficos, projetados, vivos, diferentes e que exerçam variadas funções nós tivermos, mais eficientes, resistentes e resilientes a doenças será o nosso sistema produtivo. E consequentemente menos doenças teremos e maior produtividade alcançaremos. Sua balança com a inclusão de microrganismos vivos/variados/benéficos e projetados, ou simplesmente um microbioma projetado, ficará assim:

 

A importância de manter esse equilíbrio em qualquer sistema produtivo, incluindo o nosso corpo, é fundamental. O nosso desempenho diário está diretamente ligado a essa balança equilibrada. Mais saúde, maior imunidade, mais resistência, maior produtividade. No caso da agricultura, por exemplo, a importância de manter esse equilíbrio, de manter a preservação do microbioma do solo é corroborada pela descoberta do ciclo da rizofagia, onde os estudos da Rutgers University (New Jersey/USA) confirmam o papel fundamental que os microrganismos desempenham na nutrição das plantas. Resumidamente as plantas cultivam microrganismos em torno das extremidades das raízes, secretando açúcares, proteínas e vitaminas. As bactérias simbióticas de vida livre adentram a planta e ao saírem têm a importante missão de transmitir as demais bactérias e outros microrganismos que compõe a rizosfera, das necessidades nutricionais específicas dessas mesmas plantas. Em outras palavras a planta “fala” com as bactérias: “eu preciso de fósforo, nitrogênio e silício”, e as bactérias transmitem para as suas congêneres essas mesmas instruções. Quanto maior essa comunicação entre as plantas, via suas raízes, com a comunidade microbiana maior é a nutrição proporcionada a essas mesmas plantas.

São inúmeras as matérias em sites e revistas especializadas divulgando que uma melhor condição biológica do solo melhora a disponibilização de nutrientes, gera maior enraizamento, melhora a estrutura do solo, combate pragas e patógenos. Diversos cientistas, consultores e professores entendem que os bioinsumos estimulam a regeneração da terra, agregam vida ao solo, geram maior equilíbrio de microrganismos benéficos que protegem as raízes, e oferecem barreira aos fitopatogênicos que causam danos a cultura e prejuízos a você, produtor. E isso só é possível com diversidade microbiológica, com microrganismos vivos dentro do sistema produtivo. A própria Embrapa e o MAPA estimulam o uso de microrganismos vivos, via biofertilizantes, para melhorar a condição do solo e trazer mais produtividade. Está na página deles na internet. Clique nesses links e veja você mesmo.

https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/22865878/microrganismos-beneficos-em-biofertilizantes

https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/sustentabilidade/organicos/fichas-agroecologicas/arquivos-fertilidade-do-solo/31-preparo-de-microrganismos-eficientes-e-m.pdf

Um resultado científico emblemático sobre inclusão de microbioma projetado no processo produtivo eu presenciei nos estudos do professor Doutor Antônio Fancelli, da USP/Esalq, em soja e feijão. Ele faz há mais ou menos uns 4 anos estudos comparando o manejo padrão fazenda com o manejo preventivo utilizando microrganismos vivos. Ele melhorou a condição do solo, sua saúde, e a planta respondeu com maior produtividade. Reduziu custos e obteve resultados financeiros maiores. Tratamento padrão fazenda produzindo 95 sacas de soja. Tratamento com a inclusão de microrganismos vivos produzindo 102 sacas de soja. E pasmem, produção com microbioma projetado e zero utilização de fertilizantes produzindo as mesmas 95 sacas do tratamento padrão fazenda com 100% de fertilização. Maior germinação, enraizamento, massa aérea, vagens, massa de mil grãos, e por fim, produtividade. Não é milagre, o conhecimento nos faz evoluir. É manejo preventivo, reduzindo custos e aumentando a produção. Na mesma linha existem mais resultados nas culturas de feijão, milho e cana. E usando de um artifício muito simples: microrganismos vivos e projetados para aquele sistema produtivo.

Em uma coluna fica difícil entrar mais a fundo no assunto, mas vocês podem ir atrás de referências que já têm resultados e utilizam de forma constante microrganismos vivos e projetados na sua produção. A revista Agroanalysis, da Fundação Getúlio Vargas, especializada em economia e agronegócio, fez uma edição especial sobre a utilização de microrganismos vivos no sistema produtivo brasileiro com diversos especialistas, e com o testemunho de produtores em grãos e proteína animal que têm sucesso mudando a forma como enxergam o mundo. Sim, o mundo. Se você adotar isso como um modelo de vida, te garanto, você irá contar nos dedos as próximas vezes que ficará doente ou precisará de remédios. Depende apenas de você. Se desejar aprofundar a leitura, segue o link para você baixar a revista da Fundação Getúlio Vargas na íntegra clique aqui.

Há um consenso em relação a uma correlação positiva entre a estabilidade de sistemas biológicos e sua complexidade. Quanto maior o número de microrganismos e maior as suas relações, maior a estabilidade do sistema. Isso acontece porque em sistemas complexos existe a possibilidade de substituição de funções. Se um organismo morre, outro toma o seu lugar e desempenha aquele papel. Essa é a grande vantagem na utilização de microrganismos vivos através de um microbioma projetado no seu sistema produtivo.

Se você parar para pensar, tudo que apresentei acima é o que a floresta sabiamente faz há séculos: mantém o equilíbrio do seu sistema produtivo e não sofre com doenças. Concordo que no meio de produção intensiva exige-se mais do solo e dos animais, fazendo com que o uso de defensivos e antibióticos selecionem apenas populações microbianas adaptadas a essa realidade. Realidade essa que os produtores ficaram e são escravos. Ou eram, porque hoje é possível equilibrar esses meios produtivos, gerando mais saúde, menos gastos e mais produtividade. Manejo preventivo. Faz uma pesquisa básica: se o amigo leitor nunca ouviu falar sobre o que estou apresentando, pergunte ao seu médico sobre o que ele acha de usar microrganismos, ou probióticos, para manter a sua saúde intestinal. Depois da resposta, volte e comece a ler esse texto novamente. Tenho certeza, assimilará ainda mais sobre o conteúdo que lê nesse momento. Ficará mais claro para o amigo que a aplicação dos microrganismos corretos no coração do nosso sistema produtivo é fundamental para o bom funcionamento dele.

Iniciei o texto mostrando a aplicação prática de um microbioma projetado, ou microrganismos vivos em consórcio, que utilizo dentro da minha casa para melhorar a saúde de todos. O que eu não expliquei é que hoje em dia faço esse mesmo microbioma projetado para diversos amigos, empresários do agronegócio, que me pediram para utilizar e hoje são testemunhas com suas famílias sobre os benefícios que obtiveram utilizando microrganismos vivos no coração do seu sistema produtivo. Na próxima coluna continuarei com esse assunto e apresentarei resultados do manejo preventivo com microrganismos vivos na produção de proteína animal. Até a próxima coluna. E que Deus nos abençoe na nossa caminhada. Bem-vindos a um novo mundo de possibilidades.

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