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Marfrig, MT Legal e a moratória da carne


Amado de Olveira Filho
O Marfrig é um conglomerado de empresas com especialidade na produção de alimentos. Seu nicho de mercado é o abate, industrialização e distribuição de proteínas animais. Suas unidades estão distribuídas entre plantas de abates, industrialização e centros de distribuição.
No Brasil sua atuação na bovinocultura de corte é representada por nove plantas de abates, quatro centros de industrialização e um centro de distribuição. Com esta mesma formatação, o gigante Marfrig possui outras 55 unidades de bovinos, suínos e aves, espalhadas pelo Uruguai, Argentina e países da Europa.
Seguramente, uma empresa deste porte possui, ou deveria possuir, um grande ativo. Por outro lado, informações divulgadas em seu site mostram uma dívida total de aproximadamente R$ 4,6 bilhões, sendo que destes 71,8% são dívidas de curto prazo e possui um plano de amortização que vai até o ano 2016. No entanto, no 1º trimestre de 2009 o resultado líquido da empresa foi negativo em R$ 38,2 milhões, um pouco melhor quando se compara aos R$ 74,3 milhões do 4º trimestre de 2008.
O MT Legal é um programa de regularização ambiental, ainda não regulamentado pelo Estado, mas sua formatação foi objeto de amplo debate e tem o apoio das principais lideranças do setor produtivo rural e ambiental, além de ter conseguido sua ratificação pelo governo federal, inclusive pelo confuso ministro do Meio Ambiente, que o adotou em seu discurso.
Várias são as novidades introduzidas na gestão ambiental através do MT Legal. É um programa de adesão, ou seja, o produtor rural tem um prazo para se cadastrar voluntariamente num sistema denominado Cadastro Ambiental Rural (CAR), e ainda, sem punição, multas.
Enfim é um avanço extraordinário que, se bem gerido, poderá ser modelo para todos os Estados brasileiros. Tenho absoluta convicção de que o MT Legal, somado ao Zoneamento Socioeconômico e Ecológico, após os ajustes que certamente virão, mostrarão ao mundo nossa produção sustentável.
Mesmo diante da clara possibilidade de Mato Grosso conseguir avanços significativos diante dos mercados de sua gestão ambiental, o Marfrig, com apoio da ONG Aliança da Terra, declara uma moratória no abate de bois, oriundos do bioma amazônia cujas áreas de pastagens foram derrubadas até o ano de 2005, imitando a moratória do Estado do Pará, pelas redes de supermercados Pão de Açúcar, Carrefour e Wal Mart. No comunicado ao mercado, colocam na mesma situação os produtores que desmataram de forma legal.
Alguns aspectos precisam de avaliação. Um deles é o envolvimento do setor produtivo rural na busca de soluções para as questões ambientais. Esta comprovação vem da clara demonstração do interesse dos produtores com maciça participação em audiências públicas onde se discute meio ambiente. Semana passada em Juína lá estavam mais de sete mil pessoas, num município de produção de carne bovina no bioma amazônia com apenas 15% de áreas desmatadas.
Um outro aspecto é a compreensão clara e a atitude em recuperar áreas de preservação permanentes e ainda a participação pró-ativa das instituições de classes assinando acordos com o governo do Estado, investindo em pesquisas para apurar a quantidade de áreas a recuperar e orientando seus filiados nesse sentido. Tudo isto com seus próprios recursos.
Então, qual o efeito prático desta infeliz moratória? Certamente o de eliminar a espontaneidade de adesão ao MT Legal de produtores rurais que estão no bioma amazônia e, um outro resultado é uma tremenda média com a mídia.
Demonstra ainda a continuidade da total desarmonia na cadeia da carne bovina no Brasil e contribui para o desânimo de cidadãos que estão sendo motivados à aderirem ao MT Legal. Traduz-se ainda a um desserviço a Mato Grosso, patrocinado pelo Marfrig e pela ONG Aliança da Terra!

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