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Manejo de Pastagens de Brachiaria humidicola na Amazônia Ocidental


Newton de Lucena Costa
Introdução

O quicuio-da-Amazônia (Brachiaria humidicola) é uma gramínea originária do leste e sudeste da África tropical, onde ocorre naturalmente em áreas relativamente úmidas. Sua introdução no Brasil foi feita em 1965, por S. C. Schank, através de material vegetativo procedente da Universidade da Flórida. É uma planta perene e estolonífera que atinge até 1,0 m de altura e com hábito de crescimento decumbente.

Características agronômicas

O quicuio apresenta boa adaptação a solos ácidos, com alta saturação de alumínio e baixa fertilidade natural; fácil propagação por material vegetativo ou sementes; seu crescimento é bastante vigoroso e agressivo; apresenta altas taxas de colonização do solo devido ao seu hábito estolonífero; tolera bem os excessos de umidade do solo, porém não o encharcamento prolongado; apresenta alta tolerância à queima, pragas e doenças, sendo tolerante a altos níveis de infestação de cigarrinhas-das-pastagens; produz sementes de baixa viabilidade e com períodos longos de dormência. Na Amazônia Ocidental, os rendimentos de matéria seca estão em torno de 10 a 20 t/ha/ano. Em Porto Velho, em parcelas sob cortes mecânicos, o quicuio produziu 208% mais que Brachiaria decumbens e 184% mais que Brachiaria dictioneura. Durante o período seco produz cerca de 20 a 30% de seu rendimento anual de forragem. Em Rondônia, pastagens de quicuio, submetidas a cargas animais de 2,4 e 1,6 UA/ha, respectivamente para os períodos chuvoso e seco, apresentaram rendimentos de matéria seca de 4,3 e 2,1 t/ha. Apresenta alta percentagem de folhas, cerca de 82% durante o ano. Em Rondônia, foram obtidos teores de 8,2 e 7,2% de PB; 0,18 e 0,11% de fósforo e, 0,33 e 0,24% de cálcio, respectivamente para plantas de quicuio com 35 e 63 dias de rebrota, os quais não diferiram significativamente dos registrados com Andropogon gayanus cv. Planaltina. Os teores dos constituintes da parede celular do quicuio, em três idades de corte, foram de 72,5; 74,3 e 76,4% para fibra em detergente neutro (FDN); 37,4; 39,7 e 41,9% para fibra detergente ácido (FDA) e, 3,9; 5,1 e 5,8% para lignina, respectivamente para cortes com 35, 65 e 95 dias de rebrota. Estimando-se os coeficientes de digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) do quicuio, em quatro idades de crescimento, foram obtidos teores de 58,20; 53,90; 52,56 e 51,60% no período seco e, 55,77; 54,25; 52,64 e 47,00% no período chuvoso, respectivamente para 35, 65, 95 e 125 dias de rebrota. Ademais, a taxa de redução da DIVMS (%/dia) do quicuio (0,25%) foi inferior às verificadas com B. brizantha (0,28%, Sorghum sudanense (0,35%) e B. mutica (0,43%). Apesar de sua grande agressividade, o quicuio pode formar consorciações estáveis com diversas leguminosas, notadamente aquelas de hábito de crescimento estolonífero ou prostrado (Pueraria phaseoloides, Arachis pintoi, Centrosema acutifolium, Desmodium ovalifolium e Calopogonium mucunoides).

Estabelecimento

A semeadura deve ser realizada no início do período chuvoso (outubro/novembro). O plantio pode ser em linhas espaçadas de 0,5 a 1,0 m entre si ou a lanço. A profundidade de plantio deve ser de 2 a 4 cm. A densidade de semeadura varia de 10 a 15 kg/ha, dependendo da qualidade das sementes e do método de plantio. Quando em consorciação com leguminosas, o plantio pode ser feito a lanço ou em linhas espaçadas de 1,0 a 1,5 m. Apesar de sua grande tolerância aos solos ácidos, responde satisfatoriamente a aplicação de doses moderadas de calcário dolomítico (1,0 a 2,0 t/ha) e de adubação fosfatada (50 a 80 kg de P2O5/ha). A adubação potássica deve ser realizada quando os teores deste nutriente forem inferiores a 30 ppm, sugerindo-se a aplicação de 40 a 60 kg de K2O/ha. Em geral, o quicuio apresenta menor requerimento externo de fósforo, quando comparado com os de Melinis minutiflora, B. decumbens, P. maximum, Digitaria decumbens e Pennisetum purpureum, o que lhe assegura maior eficiência na absorção de fósforo e, consequentemente, na produção de forragem. Para as condições edáficas de Rondônia, o nível crítico interno do quicuio foi estimado em 0,140% de fósforo, o qual foi obtido com a aplicação de 54,9 kg/ha de P2O5.

Manejo e utilização

O primeiro pastejo deve ser realizado 90 a 120 dias após o plantio. O quicuio, face ao seu hábito de crescimento prostrado, há uma proteção razoável de seus pontos de crescimento, o que permite a utilização de pressões de pastejo maiores, comparativamente às espécies de hábito cespitoso. Pastagens bem formadas e manejadas apresentam uma capacidade de suporte de 1,5 a 2,5 UA/ha, durante o período chuvoso, e de 1,0 a 1,5 UA/ha no período seco (UA = 450 kg de peso vivo). Os ganhos de peso/animal/dia variam de 300 a 500 g no período chuvoso e de 150 a 200 g na época de estiagem. Os ganhos de peso/ha estão em torno de 300 a 500 kg. O manejo mais adequado para a gramínea seria o pastejo contínuo ou a alternância de períodos curtos de descanso (menores ou iguais a 21 dias) e uso de cargas animal adequadas para manter a pastagem com cerca de 10 cm de altura. Em Rondônia, verificou-se que a utilização de 3,2 an/ha implicava numa redução de 20% na disponibilidade de MS de pastagens de B. humidicola, comparativamente a 1,8 an/ha, ocorrendo o inverso quando a pastagem foi adubada com 50 kg de P2O5/ha, ou seja, um incremento de 11%. No entanto, utilizando-se o mesmo nível de adubação fosfatada, foram observados decréscimos na disponibilidade de forragem de B. humidicola à medida que aumentava as taxas de lotação (2,7; 1,8 e 1,5 t/ha, respectivamente para 2, 3 e 4 novilhos/ha). Em pastagens de B. humidicola, submetidas a pastejo contínuo por bubalinos, não foram detectados efeitos significativos da carga animal sobre a produção de forragem (rendimentos médios de 6,7; 6,9 e 6,6 t MS/ha, respectivamente para 1,0; 1,5 e 2,0 an/ha). Para pastagens de quicuio consorciadas com D. ovalifolium ou P. phaseoloides, recomenda-se a utilização de cargas animal não superiores a 2,0 UA/ha e períodos de descanso não inferiores a 28 dias. Desta forma, além da manutenção da produtividade e persistência da pastagem, ter-se-á um balanço gramínea-leguminosa bastante equilibrado, mantendo-se uma proporção, em relação à disponibilidade de matéria seca verde total, entre 5 e 15% para D. ovalifolium e, 30 a 50% para P. phaseoloides.

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