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Mais uma vez o imobiliário



Argemiro Luís Brum
O estopim da grande crise econômico-financeira que vivemos desde 2007/08 foi, particularmente, a forte alavancagem dos bancos dos EUA em favor do setor imobiliário local. A euforia era tanta que empréstimos foram realizados até para quem já era inadimplente, fato que originou a expressão “subprime”.


Quando o mercado saturou e os pagamentos das dívidas se tornaram impossíveis, os bancos pararam de receber e esperaram que o Estado norte-americano salvasse o sistema. O governo local foi seletivo, salvando alguns e deixando outros à deriva. Isso levou à quebra do Lehman Brothers, um dos maiores bancos do mundo até então, com mais de 180 anos. Esse processo, acabou levando o sistema global à crise de hoje.

Nesse momento, além dos EUA e do Japão continuarem com uma lenta e difícil recuperação, frequentemente com recaídas, a China e o Brasil veem freadas suas economias e, especialmente, a União Europeia se vê no centro do problema. O salvamento temporário de suas economias, através da intervenção do Estado, acabou levando a uma disparada da dívida pública global, consolidando a “quebra” de muitos países, a começar pela Grécia. Agora, a Espanha é a chamada “bola da vez”.

Enquanto outros países (Portugal, Itália, Irlanda...) afundam lentamente, a Grécia está na iminência de abandonar o euro (a moeda única de 17 países da União Europeia). Ora, um dos estopins da crise particular da Espanha, mais uma vez é o setor imobiliário, repetindo o que aconteceu com os EUA.  


Mais uma vez o imobiliário (II)

O problema é o seguinte: o quarto maior banco espanhol, Bankia, recentemente estatizado, e que representa 10% do sistema financeiro espanhol, tem 32 bilhões de euros a receber que foram emprestados ao setor da construção civil.

Com o agravamento da crise (25% da população ativa está desempregada na Espanha), os espanhóis não podem pagar a conta dos imóveis comprados ou construídos, havendo igualmente aí um estouro do setor imobiliário. O Bankia, para ser salvo, já recebeu do governo local 23,5 bilhões de euros em ajuda apenas nesse mês de maio, aprofundando a crise fiscal do Estado como um todo. Entre 2007 e 2011 a dívida pública da Espanha dobrou, chegando a 68,5% do PIB no ano passado.

E, para financiar tal dívida, o governo local paga cada vez mais caro o dinheiro emprestado no mercado mundial. Ou seja, assim como na Grécia e todos os demais países do mundo, ou reforma o sistema ou quebra definitivamente. Aqui no Brasil, aonde o setor imobiliário igualmente vem sendo usado como escape para dinamizar a economia, a tendência se mostra parecida. A Caixa Federal vem sendo obrigada a baixar juros e oferecer empréstimos de alto risco, em muitos casos subsidiados e sem nenhuma certeza de receber de volta o dinheiro.

E a oferta de imóveis no país começa a crescer, confirmando os alertas. O recente feirão de imóveis, promovido pela Caixa, na região metropolitana de Porto Alegre, ofertou 30.000 imóveis, sendo 14.500 deles novos e na planta, dos quais 8.500 oriundos do programa Minha Casa, Minha Vida. A semelhança com o mundo não é mera coincidência.            

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