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Mais um desafio



Argemiro Luís Brum
Os países do mundo constantemente se encontram às voltas com desafios econômicos que exigem sabedoria na gestão pública de longo prazo. Na atual crise mundial, que já avança para o seu sexto ano consecutivo, tais desafios aumentam. Muitos se contentam com ações imediatistas, envoltas em populismo e demagogia, já outros agem mais seriamente, mesmo sem ignorar a necessidade de ações conjunturais igualmente. Dito de outra forma, soluções de curto prazo ajudam, porém, estão longe de serem suficientes. Nesse contexto, no início desse mês de outubro o Fundo de População das Nações Unidas lançou mais um estudo preocupante e desafiador sobre o futuro da humanidade e de países como o Brasil. Em síntese, o mesmo nos mostra que o mundo possui 7 bilhões de pessoas, caminhando para 9 bilhões em 2050. Da população atual, 12,8%, ou 893 milhões de pessoas possuem mais de 60 anos. Nos próximos 10 anos o número destes chamados idosos (hoje seria necessário rever esse conceito em relação a idade, pois as pessoas vivem muito mais tempo) alcançará um bilhão de pessoas. Dito de outra maneira, em 2022 cerca de um sétimo da população mundial já se classificaria como idosa, pelos conceitos atuais. Já em 2015 os de 60 anos e mais ultrapassarão o número de menores de 15 anos. No Brasil, confirmando essa tendência, enquanto a população total crescia 13% nos últimos 10 anos, a parte dos chamados idosos aumentava 40%. Ou seja, o mundo está envelhecendo e nós ainda mais rapidamente. Além disso, em nosso país, os brasileiros com mais de 80 anos tiveram um acréscimo acima de 60% no período. O nosso “baby boom” ocorrido nos anos de 1970, na esteira do que ocorreu no mundo nos anos de 1960, associado a enorme melhoria da ciência da saúde, além de outros fatores que melhoraram a qualidade de vida em geral, provoca hoje um aumento substancial da população idosa. Como isso bate na economia do país e do mundo?
Mais um desafio (II)
Dentre os diferentes aspectos, destaca-se o fato de que os Estados estão sendo obrigados a reverem seus sistemas previdenciários e trabalhistas. Com uma população cada vez mais idosa, não há como sustentar um sistema de aposentadoria precoce, em particular junto aos setores públicos. Além disso, se o sistema previdenciário não for eficiente, como é o caso brasileiro, os idosos, cada vez em maior número, continuarão trabalhando após a aposentadoria, pois sua renda de aposentado não lhes permite sobreviver. Isso leva a impedir que os jovens tenham mais espaço no mercado de trabalho. Logo em seguida, e isso já é um problema nos países mais desenvolvidos, o número de jovens diminuindo, é preciso construir leis trabalhistas que privilegiem o trabalho do idoso por mais tempo. Esse fato tende a eliminar a aposentadoria compulsória. Assim, as leis previdenciária e trabalhista devem sofrer profundas reformas de adaptação aos novos tempos, sob pena do sistema quebrar definitivamente, e cujos sinais já se espalham em nosso país. E, por mais que se avente a melhoria na distribuição de renda, caso aqui no Brasil, a grande maioria está longe de poder arcar com um sistema previdenciário particular. Outro aspecto está na área da saúde, onde as doenças características de pessoas mais velhas crescem em número, exigindo igualmente mais tecnologia e recursos em favor de suas soluções. Muitos países estão longe de alcançarem tal status para o conjunto de sua população, dentre eles o Brasil. Aliás, nem mesmo saneamento básico se tem a contento em nossas cidades. Enfim, é preciso criar infraestrutura em apoio a essa nova e grande população que surge. Que investimentos estruturais estão sendo feitos nesse sentido? E a situação será ainda mais desafiadora em 2050. Nesse quadro, governo bom, assim como gerente de empresa bom, é aquele que enxerga longe e não apenas se limita a “apagar incêndio” no curto prazo.

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