O cientista de solo, e prêmio nobel da paz, Rattan Lal é um dos principais defensores do manejo do solo como uma estratégia central para combater as mudanças climáticas, focando na ideia de que um solo saudável não é apenas fértil para as plantas, mas também crucial para o sequestro de carbono. Para isso é primordial que o solo esteja em equilíbrio.
A partir de seus estudos e ensinamentos, Lal enfatiza o papel do solo como um grande reservatório de carbono, podendo capturar e armazenar grandes quantidades de carbono da atmosfera.
Ele defende que a adoção de práticas agrícolas sustentáveis pode sequestrar entre 1 a 3 giga toneladas de carbono por ano, uma contribuição significativa para mitigar as emissões globais de carbono. Para ele, o manejo adequado dos solos oferece uma solução natural para o combate às mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, melhora a saúde do solo e a produção agrícola. E o manejo adequado do solo passa, necessariamente, pelo equilíbrio desse ecossistema, pela diversidade microbiológica desse solo.
Dentre seus principais ensinamentos eu destacaria 07 pontos.
- Solo saudável é a chave para o sequestro de carbono:
- Para Lal, um solo saudável é aquele rico em matéria orgânica e capaz de armazenar carbono de forma eficaz. Ele destaca que práticas de manejo sustentável podem ajudar a aumentar o conteúdo de carbono no solo e melhorar sua fertilidade.
- Solos saudáveis não só suportam melhor as plantas, como também atuam como "sumidouros" de carbono, ajudando a mitigar os efeitos das mudanças climáticas.
- Importância da matéria orgânica no solo:
- Lal enfatiza que o aumento da matéria orgânica do solo é uma das formas mais eficazes de sequestrar carbono. Ao adotar práticas agrícolas que aumentem o teor de matéria orgânica, como o uso de compostagem, adubos verdes e a manutenção de resíduos de culturas no campo, o solo pode capturar mais carbono atmosférico.
- Práticas agrícolas regenerativas e de conservação:
- Agricultura de conservação, que inclui o plantio direto, a rotação de culturas e o uso de culturas de cobertura, é uma das práticas promovidas por Lal para restaurar solos degradados e aumentar a capacidade do solo de capturar carbono.
- O plantio direto, por exemplo, reduz a perturbação do solo, preserva a umidade e aumenta a matéria orgânica do solo ao longo do tempo, promovendo a absorção de carbono.
- Recuperação de solos degradados:
- Um dos maiores focos de Lal é a recuperação de solos degradados, que ele vê como uma oportunidade significativa para sequestrar carbono. Solos degradados perderam grande parte de seu carbono orgânico, mas podem ser restaurados com práticas agrícolas sustentáveis e de regeneração, aumentando assim a capacidade de armazenar carbono.
- Agroflorestas e integração de árvores:
- Lal também apoia a integração de árvores em sistemas agrícolas (agrofloresta) como uma forma de sequestrar carbono. As raízes profundas das árvores ajudam a capturar e armazenar carbono no solo, enquanto sua presença promove a saúde geral do ecossistema.
- Intensificação sustentável e redução do uso de insumos químicos:
- Ele defende uma intensificação sustentável, que visa aumentar a produção agrícola sem expandir áreas cultivadas, protegendo os solos de degradação. Isso pode ser feito com uma menor dependência de insumos químicos, o que também ajuda a melhorar a saúde do solo e sua capacidade de reter carbono.
- Benefícios do sequestro de carbono no solo:
- Lal argumenta que a captura de carbono no solo tem benefícios múltiplos: melhora a fertilidade do solo, aumenta a produtividade agrícola, melhora a resiliência a eventos climáticos extremos e, ao mesmo tempo, mitiga o aquecimento global.
Esses ensinamentos são uma base sólida para entender como um solo saudável pode ir além da fertilidade e desempenhar um papel essencial na mitigação das mudanças climáticas através do sequestro de carbono.
Mas não basta solo saudável se não houver produtividade em alto desempenho para atender a demanda crescente.
Na próxima coluna veremos a correlação íntima entre os ensinamentos de Rattan Lal e as tecnologias desenvolvidas no Brasil para uma agricultura que, além de regenerar, permite que a produtividade alcance patamares maiores que os atuais.