CI

Lula de novo, com o aval do povo


Cláudio Boriola

São Paulo, Domingo, 29 de outubro de 2006, por volta das 19h, horário de Brasília. Com 80% das urnas já apuradas, Luis Inácio Lula da Silva já é, matematicamente, o nosso Presidente da República re-eleito, fato confirmado horas depois.

O clima, obviamente, é bem diferente de 2002. Agora, os empresários não ameaçam fugir do país em forma de protesto contra um "comunista" que está prestes a tomar o poder. Lula conseguiu a confiança dos companheiros empresários e comerciantes mantendo praticamente a mesma política econômica que o seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso. Não que esses, em sua totalidade, tenham sido beneficiados durante o mandato (vide carga tributária). Foi o conservadorismo econômico que garantiu a trégua, pelo menos por um longo período.

Entre a população, mesmo depois desse festival denuncias que foi travado entre governo e oposição, ainda persiste o sentimento de "um dia vai melhorar", com um importante detalhe: o presente também tem sido bem avaliado. Numa pesquisa realizada pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) entre os dias 2 e 23 de setembro, o índice de pessoas que julgam a situação econômica atual como boa subiu de 8,9% para 12,3%, em relação a pesquisa anterior. Se 12,3% dos entrevistados na última pesquisa disseram estar interessados em comprar bens duráveis (veículos, por exemplo), desta vez 14,7% responderam positivamente à questão. O desemprego também está num patamar relativamente baixo: 10%, em setembro.

O "novo" governo Lula tem alguns obstáculos grandes para serem superados. A já citada carga tributária tem de ser revista na tão anunciada reforma tributária, tanto para as pessoas jurídicas quanto para as físicas. A reforma da Previdência Social é outro tema que deve mexer com toda a população. A reforma política também é necessária. Ou seja, Lula vai ter de mexer em alguns vespeiros caso queira realmente colocar o Brasil nos eixos.

Lula deve tentar acelerar a queda dos juros, um dos maiores vilões do seu mandato. Assim como a questão do crédito também deveria ser analisada. Será que os bancos e as instituições financeiras em geral não estão com poder demais? Juros extorsivos e dezenas de taxas são cobradas, lesando o cidadão. O Governo Federal finge que não vê que está tudo certo... mas a população sente no bolso os impactos e abusos.

Saindo um pouco da questão econômica, temos essa crise ética que tomou conta da classe política. No Brasil, desde a colonização, sempre existiu corrupção. O primeiro português que ofereceu a um índio espelhos e bugigangas em troca de ouro deixou o herança de seu ato para nós. Ela existe independente de partido político, porque é facilitada, não é combatida. O resultado final – dinheiro no bolso (ou na cueca) – é o que é valorizado. Querem transportar Maquiavel ("os fins justificam os meios") de qualquer forma para tempo presente, sendo que o contexto é totalmente diferente.

Que em seu segundo mandato, Lula consiga atuar de forma mais ativa e saiba escolher os seus escudeiros. Torcer contra não adianta. Estamos no mesmo barco. Se Lula afundar, não vai ter colete salva-vidas para todo mundo.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.