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Governo privatiza



Argemiro Luís Brum
No Brasil, como em grande parte dos países do mundo, insistir apenas com o governo como motor da economia acaba sendo um erro estratégico decisivo. A ex-URSS quebrou e implodiu também por insistir nessa estratégia. A China, antes que a quebra ocorresse, para sair da pobreza absoluta, passou à economia de mercado, reorientou o Estado para um sistema de organização mais efetivo e privatizou grande parte dos investimentos. Hoje, até mesmo Cuba, embora que lentamente, inaugura um sistema de privatização à sua maneira. No Brasil, um processo de privatização mais consequente teve início no governo FHC, em meados dos anos de 1990, muito mais pela incapacidade de o governo manter o sistema público funcionando a contento, com constante modernização, do que propriamente por questões ideológicas.


Todavia, mais por estas últimas questões, houve um forte movimento contrário ao processo, que mais atrapalhou do que ajudou. Discursos populistas de toda a ordem foram realizados em defesa na nacionalização dos setores estratégicos, mesmo que nenhum tenha apresentado projetos consequentes de como modernizá-los e com que dinheiro. A chegada do governo do PT ao poder central estagnou o processo e procurou reverter a lógica das privatizações (promessas de campanha?), visando demonstrar que o Estado pode sim gerenciar, e bem, muitos serviços e atividades industriais.

Isso é verdade, porém, junto a Nações organizadas, profissionalizadas em sua esfera pública, com baixa corrupção e cujos funcionários estejam voltados ao interesse da coletividade e não em benefícios próprios. Infelizmente, a maioria dos países do mundo não reúne estas condições e, com isso, os serviços públicos acabam se tornando um desastre de eficiência, de custos e de desvios de verbas públicas. O Brasil tem sido um destes países.

Governo privatiza (II)

Apesar das boas intenções, geralmente de uma minoria, a prática demonstra que a gestão pública não funciona a contento. O atual pacote (mais um) que a presidente Dilma acaba de anunciar, voltado particularmente à recuperação da infraestrutura nacional, é o claro testemunho disso. Para não passarmos um fiasco sem precedentes, por ocasião da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016, mesmo que tardiamente o governo procura agora atrair o setor privado aos investimentos necessários ao país (na prática, o setor privado nunca esteve afastado de fato, porém, sofre com o engessamento estatal na maioria dos casos).


Por tabela, a ideia é remobilizar a economia visando gerar condições para um crescimento mais robusto do PIB para 2013, pois 2012 já está praticamente perdido. Ou seja, o governo confessa que lhe faltam recursos, apesar da altíssima carga de impostos cobrada à Nação, pois tais recursos são mal gerenciados, sustentando uma máquina pública inchada e ineficiente e que não para de crescer. Em segundo lugar, confessa que não possui capacidade de gestão para fazer a contento obras de infraestrutura e outras ações positivas em favor da sociedade de forma sustentável, para usar uma palavra da moda.

Governo privatiza (III)

Enquanto isso, aqui no Estado do Rio Grande do Sul, enquanto ficamos na pior posição em qualidade na educação, de toda a Região Sul, fruto de péssimos investimentos no setor nos últimos 20 anos pelo menos, o governo estadual se preocupa com os pedágios nas estradas, lançando, contraditoriamente, a criação de mais uma empresa estatal para cuidar do assunto. Provavelmente tal empresa, com o tempo, fique fadada a ser mais um cabide de emprego público, carregada nos ombros pelo trabalho da sociedade. Na iniciativa privada, maus gestores são demitidos, muitas vezes por justa causa.

No setor público, os maus gestores, inclusive aqueles que nos roubam, na maioria dos casos são apenas transferidos de função e, em muitos casos, até promovidos, aumentando seus rendimentos mensais, vantagens em aposentadorias precoces e outros penduricalhos, pois a fonte pagadora é a população. População essa que não tem acesso a uma educação de qualidade, em particular a oferecida pelo Estado, a ponto de conseguir alcançar o discernimento para fazer uso adequado de seu voto quando, através dele, poderia dar uma resposta a essas más gestões públicas, por exemplo.


E, com isso, o círculo vicioso se fecha nesse país e continuamos subdesenvolvidos, vivendo de ilusões momentâneas de que as coisas poderão melhorar, enquanto boa parte de nossos políticos fazem belos discursos, porém, sem nenhuma base econômica que os sustentem na prática. Mas, para manter o poder, já diziam os romanos, basta dar ao povo pão e circo. Mesmo assim, o Império Romano um dia ruiu. O problema é que um país, nos dias de hoje, precisa avançar com rapidez, não podendo esperar muito tempo para concertar os erros de seus governantes e corrigir seu rumo.

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