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Fobias meteorológicas


Gilberto R. Cunha
Quem não conhece alguém que, diante de uma previsão de tempestade ou nos primeiros sinais de chegada dessa (ventos, nuvens carregadas, trovoadas, raios etc.), sente medo? Algumas pessoas apenas se amedrontam. Outras entram em pânico. As últimas, no meio de benzadeus e valha-nos Santa Bárbara e São Jerônimo, apresentam um comportamento que pode ser caracterizado como uma autêntica fobia meteorológica.
O assunto é deveras delicado. Seguramente, seria melhor tratado por um profissional da área médica. Estamos falando de pessoas com um comportamento normal no dia-a-dia, mas que se transformam radicalmente frente a uma previsão de qualquer evento meteorológico que possa causar algum tipo de desastre. Nessas ocasiões, os batimentos cardíacos ficam acelerados, há aumento de sudorese, a ansiedade domina, tiques nervosos se acentuam e, no mínimo, o sono não vem. Nos casos mais extremos, que envolvem desde dor de estômago, diarréia, pensamentos mórbidos e até crises de choro, entre os chás de laranjeira da vovó, para contornar a situação, pode haver necessidade de tranqüilizantes receitados por médicos.
Não conheço as estatísticas brasileiras sobre diagnóstico de fobias meteorológicas. Talvez até nem existam. Por experiências vividas (24 anos envolvido com meteorologia e suas aplicações) suponho que o número não possa ser considerado desprezível. Nos Estados Unidos, estima-se que mais de oitos milhões de americanos, pelo comportamento diante dos avisos meteorológicos, poderiam, pelos padrões da psiquiatria daquele país, ter um diagnóstico de fobia meteorológica. É essa gente toda que catapulta às estrelas os níveis de audiência do Weather Channel, que alavancaram as vendas do jornal US Today, com base na página de meteorologia, literalmente entopem as linhas telefônicas do Serviço Nacional de Meteorologia, em busca de confirmação daquilo que os veículos de comunicação estão anunciando, e não se separam jamais dos seus receptores de rádio que captam os sinais de avisos meteorológicos da Agência Americana para os Oceanos e Atmosfera (NOAA).
Passadas as crises, ninguém distingue mais um fóbico meterológico de qualquer outro comum mortal. Por razões compreensíveis, muitos fóbicos meteorológicos preferem manter isso em segredo. Apenas as pessoas mais próximas sabem da existência desse nível extremo de medo. Talvez se julguem os únicos no mundo com esse comportamento, mas, com certeza, não estão sozinhos. E, mesmo tendo consciência que não são casos isolados, o problema volta a se repetir, quando do próximo alerta de tempestade. Nos casos graves, a solução é buscar ajuda médica.
Uma simples brisa, uma nuvem mais carregada, alguns trovões e raios dispersos são suficientes para criar todo um cenário de pânico e tragédias. Não necessariamente, mas quase sempre, a origem desse tipo de medo está associado com alguma experiência traumática envolvendo eventos meteorológicos extremos. Essas pessoas acabam internalizando tragédias, e passam a prever sempre o pior, em cada prenúncio de mau tempo. Outras adquirem esse medo indiretamente, a partir da convivência, quase sempre na infância, com gente que sofre desse problema, praticamente por intermédio de uma espécie de contágio psicológico.  Presume-se que o problema começa na infância, mas não existe uma consciência de memória claramente definida, por quem sofre do mal, de quando e como, de fato, tudo começou. Há, inclusive, quem acredite em influências genéticas nesse tipo de trauma.
Curiosidades à parte, mas alguns estudos tem apontado que  as crianças que sentem esse tipo de medo, cerca de 1/3 delas  mantém esse comportamento depois de adulto. Também que a fobia meteorológica predomina em mulheres, numa razão de 3,6 mulheres para cada homem; embora se desconheça a razão.
O problema é real, e se está começando a ficar insuportável a convivência com o problema, não hesite: procure ajuda do seu médico e esqueça a meteorologia. Para quem está interessado no assunto, recomenda-se a leitura do artigo assinado por Ronald A. Kleinknecht, “Afraid of the weather?”, publicado na revista Weatherwise, November/December 2002, páginas 14-20.  Este texto foi baseado nele.

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