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E agora, Brasil? (I)



Argemiro Luís Brum
E o que se previa aconteceu! O governo brasileiro, e particularmente o povo brasileiro, acaba de receber uma ducha de realidade econômica. Tentando manter um crescimento econômico acima de 4% ao ano, a partir de 2010, diante de uma crise econômica mundial grave e duradoura, nosso governo, ignorando os avisos do mercado, e pensando muito eleitoreiramente, tentou manter em prática um processo que pode ser assim resumido: estimular continuamente o consumo interno, via redução de impostos e juros, este último "no grito", incitando a população a consumir já que do exterior nada vem de significativo. Ora, diante de um país que não possui infraestrutura suficiente para receber o impacto de tal demanda, e com baixa taxa de investimentos, hoje na altura de 18% apenas do PIB (no acumulado dos últimos 12 meses encerrados em 31/03/2013, o investimento nacional ficou negativo em 2,5%), era natural que o modelo, embora interessante, se esgotaria rapidamente, estimulando a inflação. Não durou dois anos e estamos recebendo no colo a herança desta política desenvolvimentista irresponsável. Na prática, a pressão inflacionária aumenta, o índice oficial, com maquiagem e tudo, bate no teto da meta (6,49% ao ano); o governo, incrivelmente assustado com o fato, o que revela despreparo ou ignorância sobre os atos que praticava, decide inverter a lógica, aumentando os juros (nos últimos dois meses a Selic subiu 0,75%, batendo na taxa anual de 8%, devendo subir mais até o final do ano); isso num momento em que a economia não decola, tendo crescido apenas 0,6% no último trimestre, acumulando tão somente 1,2% ao ano no final deste último mês de março. A situação é tão séria que o mercado, já apoiado por alguns setores do próprio governo, avança agora a possibilidade de um crescimento econômico de apenas 2% a 2,5% em 2013, após 2,7% em 2011 e 0,9% em 2012. Lembramos que, para o tamanho da economia brasileira, nosso crescimento ideal deveria ser entre 6% e 7% anuais de forma sustentável. Ou seja, aumentar os juros agora, por absoluta necessidade de segurar a estabilidade econômica ameaçada pelas diatribes do próprio governo, é colocar mais combustível no freio da economia. Uma contradição que poderia ter sido parcialmente evitada se tivesse o governo, ao longo destes últimos anos, apostado no investimento como alavanca do crescimento e não no consumo desenfreado. Agora o mesmo parece ter caído na real, anunciando que não irá mais adotar medidas de estímulo ao consumo, priorizando finalmente o controle da inflação e adotando programas de apoio aos investimentos de infraestrutura, já que construir estádios de futebol em nada resolve o problema do país. Mas o custo social de tudo isso já é uma dura realidade!
(continua na próxima semana)

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