CI

Do otimismo à realidade



Argemiro Luís Brum
Em recente entrevista o presidente do Banco Central do Brasil afirmou que espera um país economicamente bem melhor em 2013, em especial porque “o mundo não está mais à beira do abismo como parecia há seis meses”, mesmo concordando que a crise mundial ainda durará mais dois anos. Nesse momento, o máximo que se pode concordar é que o Brasil tende a viver um ano um pouco melhor, pois pior do que está será difícil em considerando o crescimento econômico. Todavia, em termos internacionais, a recente reunião anual do FMI e do Banco Mundial, ocorrida entre 9 e 13 de outubro passado, em Tóquio (Japão), não nos deixa tranqüilos. Em síntese, ficou cristalizado o seguinte a partir deste encontro de 188 ministros da Fazenda e presidentes de Bancos Centrais do mundo, dentre eles o Brasil (CF. Le Monde, 18/10/2012):
1) o mundo financeiro está sem controle, e o “cada um por si” adicionado ao “faço o que eu digo mas não faça o que eu faço” se tornou a regra internacional;
2) a Grécia já é considerada como incapaz de pagar suas dívidas e, muito menos, se recuperar da crise em que está. Tanto é que ninguém deseja mais lhe emprestar dinheiro, afora o que já foi prometido (que se mostra insuficiente). O sentimento geral é que “a Grécia dará calote, mas ninguém assumirá a responsabilidade pelo fato”, apesar das conseqüências mundiais do ato;
3) hoje, mais do que a Grécia, é a Alemanha que vem sendo acusada. Afinal, os alemães se aproveitaram da desvalorização do euro para aumentarem sua participação no mercado mundial exportador. Além disso, com a dura política orçamentária de gastar só o possível, a Alemanha estaria bloqueando a retomada do crescimento europeu;
4) por sua vez, os EUA, até este início de novembro envolvido com suas eleições presidenciais, ameaçam o equilíbrio mundial. Afinal, não há entendimento interno de como reduzir seu déficit orçamentário gigantesco. Em três meses (a partir de fevereiro próximo), se nada for feito, cortes automáticos no orçamento do Estado norte-americano passarão a ser feitos (a mesma ameaça ocorrida em meados de 2011), fato que mergulharia o país e o mundo inteiro na recessão;
5) paralelamente, as reformas junto ao FMI não saem e a Rodada Multilateral de Doha, junto a OMC, não caminha e, com isso, o comércio mundial patina (os EUA estão bloqueando as duas situações);
6) Japão e Índia igualmente não conseguem avançar. O primeiro por não concretizar uma política fiscal para cortar sua dívida fiscal (a mais alta do mundo), e o segundo não realiza as reformas de fundo em sua economia;
7) ao mesmo tempo, para salvar suas economias em perigo, os bancos centrais de cada país lançam políticas monetárias e financeiras sem controle adequado, não importando os estragos que isso possa causar ao futuro do país e aos seus países vizinhos;
8) a situação é tão grave que o próprio FMI acaba de alertar que tais políticas podem superaquecer a economia mundial, gerando um novo ciclo de inflação mundial. Ao mesmo tempo, prega a continuidade dos ajustes orçamentários pelos países membros, porém, sem que os mesmos matem a possibilidade de um retorno ao crescimento econômico (o remédio não estaria a ponto de matar o paciente?);
9) o G20 já pouco resultado conquista e está adormecido, fato que permite indicar que a estabilidade financeira; a luta contra a pobreza; e o controle da volatilidade dos preços dos alimentos se fazem presentes apenas nos discursos políticos, deixando sombras sobre os próximos anos no cenário mundial;
10) a economia do Planeta está completamente desorientada a ponto de ninguém se importar com o fato de que “cerca de 40 países continuam gravemente doentes de seus déficits públicos, onde muitos não conseguirão se curar, declarando calote de suas dívidas. Quem administrará as turbulências daí resultantes, e como? Quando o mundo começará a pensar nisso em conjunto?” Por enquanto, não há respostas para tais inquietações. Diante disso, não há como esperar que o Brasil navegue em mares serenos, por mais vontade que tenha o presidente do Banco Central e o governo em geral.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.