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Dívidas rurais, a rodada de 2007


Amado de Olveira Filho

            Não podemos negar os esforços dos parlamentares e lideranças ruralistas no encaminhamento de mais esta rodada de negociação das dividas rurais vencidas ou a vencer em 2007. Afinal, estamos falando de um passivo da ordem de R$ 131 bilhões de reais em todo o Brasil. Isto é uma montanha de dinheiro que não entrou nas contas correntes dos produtores rurais. Estranho não? Mas, é isto mesmo, são saldos que a exemplo do Plano Collor evoluiu num só dia 42,6%, em função do descasamento dos preços agrícolas dos contratos dos financiamentos.

            Chegamos em 2007 e mais uma rodada de renegociação! É claro que era necessário caso contrário, a safra agrícola de 2007/2008 seria uma grande frustração nacional! Porém, o problema está sendo jogado para frente. Certamente que este não é o desejo dos negociadores, mas, esta é a realidade. De prorrogação em prorrogação esta bola de neve vai se transformando num fantasma rural. Sabemos e algumas ações para a possibilidade de solução definitiva para este grave problema brasileiro.

            Mas voltando a rodada de 2007, como foram chamadas estas prorrogações como medidas emergenciais, fiquei com  a sensação de que de fato os verdadeiros beneficiários deste feito não são os produtores rurais, mas sim, o Governo Federal que habilitará o Centro Oeste e especialmente o Estado de Mato Grosso a realizar mais uma grande safra. Assim, novamente verificaremos superávit na balança comercial e mais dólares entrando no Tesouro Nacional, que servirá, inclusive, para desvalorizar ainda mais o próprio dólar.

            Os produtores rurais de Mato Grosso, somente se viabilizarão se resolvidas as questões de infra-estrutura. Não é com esta logística de faz de conta que tiraremos os produtores do fundo do poço. Precisamos baratear urgentemente os fretes, precisamos urgentemente  reduzir o preço do óleo diesel ou de outro combustível que possa substituí-lo. Precisamos de hidrovias e ferrovias, condições estas, mínimas para deixarmos de a cada ano realizar mais uma rodada de renegociação de dívidas rurais.

            Tenho conversado com produtores de diversos municípios produtores de soja e, tenho testemunhado de forma unânime a afirmação de desespero em que se encontram. Algo, no entanto, é espantoso, estes mesmos produtores rurais se orgulham de serem produtores rurais, se orgulham de terem construído cidades, de terem contribuído para a construção deste Estado. Mas invariavelmente, lastimam encontrarem na situação que estão. Sempre reagem dizendo que estão sendo punidos por serem empreendedores.

            Esta estranha realidade nos leva a pensar que um dia poderemos verificar um desencanto com a atividade agropecuária em Mato Grosso. Não dá para manter mais uma atividade, importante como a agricultura e pecuária, sem que sejam remunerados seus fatores de produção. E inconcebível verificarmos que dos R$ 7,0 bilhões referente a custeio e investimento desde a safra 2003/2004 até a 2005/06, vencidas e vincendas em 2007, aproximadamente 3,5 bilhões corresponder apenas ao Estado de Mato Grosso.

            Seguramente não estamos apenas diante de um problema de gestão, porém, de um gigante pela própria natureza, que cresceu ao mesmo tempo em que os responsáveis pela implantação da infra-estrutura continuaram deitados em berço esplendido.

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