CI

Desenvolvimento não é prioritário



Argemiro Luís Brum
O governo brasileiro ataca novamente os juros, desta vez àqueles relativos ao cartão de crédito. Efetivamente, reduzir tais juros não só é uma necessidade mas igualmente uma questão de coerência econômica. Não há como justificar juros acima de 300% ao ano nessa forma de pagamento, para um país que consegue manter a inflação oficial ao redor de 5,3% anual no momento. Todavia, por que o governo somente se preocupa com esse fato agora? Porque ele continua mirando apenas o crescimento econômico para 2013, após a frustração que se desenha para 2012 (crescimento de apenas 1,5% segundo as últimas projeções). Nesse contexto, a continuidade do consumo interno, via endividamento crescente da sociedade, é a principal estratégia. E esse consumo está calcado na chamada nova classe média, cuja renda é muito baixa para os padrões de preços brasileiros. Aliás, com tal renda média esse segmento social jamais poderia ser classificado como classe média. Ora, juros elevados levam grande parte desta sociedade a aumentar sua inadimplência e inviabilizar o processo. Aliás, algo que já vem ocorrendo, mesmo com a tentativa de reduzir os demais juros ainda em maio passado. Assim, na lógica de criar pacotes de apoio imediato ao consumo, o governo ataca agora os juros do cartão de crédito, pois é aí que a dívida mais cresce junto ao cidadão brasileiro, despreparado que está, em sua maioria, para o uso deste instrumento comercial. Nesse contexto, aonde o desenvolvimento, via melhor bem-estar social, entraria?
Desenvolvimento não é prioritário (II)
Ora, o real desenvolvimento, sustentável, não é prioridade. Afinal, as condições estruturais não sendo resolvidas e nem mesmo atacadas, não há como chegar ao desenvolvimento e, mesmo as medidas para o crescimento acabam sendo de curto efeito. Portanto, mesmo sabendo que o desenvolvimento se dá na esteira de um crescimento econômico sustentável (para o Brasil o mesmo teria que ser de 6% a 7% ao ano), chama a atenção o fato de o governo pouco se preocupar, na prática, com as questões que efetivamente atingem o bem-estar social. Sem falar na educação nacional, que tem sido um caos generalizado e constante motivo de debates sem encaminhamentos de solução, temos a saúde pública. Recente pesquisa mostra que os brasileiros comprometem 7,2% de seu orçamento em saúde, sendo que 48,6% se dá em remédios e 29,8% em planos de saúde. Primeiro, o percentual geral é pequeno em se tratando de saúde. Em segundo lugar, gastar tanto em remédios, que possuem preços exorbitantes de uma maneira geral, mostra que praticamente não há prevenção (apenas 5% do orçamento é destinado a consultas médicas e hospitais) e sim ataque a doenças já consolidadas sem orientação, o que é um retrocesso. Gastar tanto em plano de saúde é o testemunho de que o serviço de saúde pública não funciona, forçando parte da população a pagar duplamente para ter acesso a melhor qualidade de vida. Enfim, o brasileiro gasta o mesmo percentual destinado à alimentação (16% do orçamento) para o transporte, pois não há infraestrutura adequada para este funcionar.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.