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Desenvolvimentistas X Monetaristas (Final)



Argemiro Luís Brum

Nessa disputa entre práticas desenvolvimentistas e monetaristas, tudo indica que o Brasil ficará com um crescimento ao redor de 3% em 2013. O pior dos mundos será tentar realizar medidas apenas de curto prazo, para se ter um PIB maior agora, deixando estourar o problema, com um potencial de crise ainda maior, para os anos seguintes. Dito de outra maneira, se você deseja conduzir a economia como ela precisa, levando em conta os padrões existentes no país e mantendo a estabilização, tem-se que ignorar o lado político (eleições e reeleições) e fazer o dever de casa, mesmo que isso seja dolorido. Caso contrário, o país afunda na sequência. A coisa pode demorar um pouco mas vem. Veja o caso atual da Grécia, Espanha, Irlanda, Portugal e outros países europeus e do mundo afora. Internamente, o problema é conseguir que a população entenda a necessidade de tais medidas. Infelizmente, continuamos muito imediatistas e com muito pouca cultura econômica. Necessário se torna, e não cansamos de alertar sobre isso, que sejam feitos movimentos estruturais como o de realizar as amplas reformas, que tanto se fala, enxugando particularmente o custo do Estado pelo enxugamento de seu tamanho e aumento de sua eficiência. Assim, o Estado tomaria menos dinheiro emprestado e pressionaria menos o mercado financeiro com venda de títulos, além de realizar poupança que estimularia os investimentos. Com mais e melhor infraestrutura a produção cresce, o PIB aumenta, e a economia pode suportar um aumento de demanda interna sem gerar inflação elevada. Como isso requer uma equação política que o Brasil não consegue resolver nos dias de hoje, já que nosso Congresso é um desastre, as coisas não andam e não conseguimos realizar o essencial. Assim, sobram as medidas de curto prazo, duras, como o aumento dos juros e outros aspectos. Ora, aumentar juro significa aumentar custos. Isso freia a economia. Assim, salvo em momentos muito específicos - que dependem especialmente da conjuntura internacional -, não há como reduzir a inflação e aumentar o PIB ao mesmo tempo na realidade em que o Brasil se encontra. Daí vem a disputa entre monetaristas e desenvolvimentistas. Os primeiros consideram que é melhor ter uma inflação reduzida e construir com o tempo as condições estruturais para um crescimento sustentado, e os segundos consideram que se pode gerar um crescimento mais imediato à custa de maior inflação. A prática, aqui e fora do país, está mostrando (como sempre mostrou) que os primeiros estão com mais razão. Ou seja, antes de gerarmos as condições estruturais para o país crescer, é um risco muito grande aplicar políticas desenvolvimentistas. Já no governo JK nós vimos no que deu tal processo. A herança de altíssima dívida externa e de uma hiperinflação, que nos consumiu os anos de 1960, 1970, 1980 e início dos anos de 1990, veio do desenvolvimentismo aplicado por aquele governo, potencializada pelas administrações econômicas seguintes. Somente com o Plano Real, em 1994, é que começamos a reverter esse quadro e estabilizamos a economia. Agora, com a atual política, se continuar assim, corremos o risco de criarmos rapidamente as condições para voltarmos a esse passado escabroso não tão distante assim (veja o caso da Argentina, mais uma vez).

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