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Desenvolvimentistas X Monetaristas (1)



Argemiro Luís Brum

As dificuldades que o atual governo enfrenta para conter o ímpeto inflacionário têm, como origem, o próprio governo. Nestes anos da presidente Dilma venceu a corrente desenvolvimentista em relação à monetarista. A troca de presidente do Banco Central, de Meirelles para Tombini, evidenciou isso. Assim, o ministro Mantega, desenvolvimentista, assumiu as rédeas da economia e o Banco Central perdeu a pouca autonomia que tinha. Dentre as ideias do desenvolvimentismo tem-se que se deve gerar mais crescimento na economia mesmo que a inflação seja maior. Nessa linha vieram os pacotes de apoio ao consumo que o governo largou nestes últimos tempos, inclusive a baixa dos juros à força. Ora, o desenvolvimentismo é bom quando o país tem infraestrutura para aguentar a pressão da demanda. Como não é o caso brasileiro, o resultado de tal política tem sido desastroso. O PIB não cresce e a inflação sobe, gerando um risco gravíssimo que é a estagflação (inflação com estagnação econômica). Assustado com o problema, o governo já está aceitando revalorizar o Real, visando baixar o custo das importações, para azar dos exportadores, e, se a situação não melhorar, será obrigado a aumentar os juros, leia-se a Selic, nos próximos meses, embora politicamente lute para não o fazê-lo. Nesse sentido, duas reações já se fazem presentes e mostram o risco que o ministério da Fazenda assume ao agir desta forma: 1) os especialistas internacionais, via a grande imprensa especializada mundial, começam a duvidar do Brasil e até mesmo destacar que estamos levando a economia no "jeitinho", ou seja, de forma não profissional; 2) já há divergências de opinião entre o Ministério da Fazenda e o Banco Central, embora o Sr. Tombini tenha sido posto lá para ser mandado. Tecnicamente, como as reformas estruturais não são feitas no país e os investimentos acontecem muito pouco e tardiamente, com boa parte dos recursos desviados, não temos infraestrutura e preparo para crescermos mais do que 3% ao ano. Quando a demanda aumenta e provoca um crescimento maior do que isso, somos obrigados a frear tudo sob pena de a inflação disparar. Foi o que aconteceu em 2010, quando o Brasil cresceu 7,5% e não teve como sustentar a parada. Todavia, na época o objetivo primeiro do então presidente Lula era eleger sua candidata, a hoje presidente Dilma. Depois, o problema caiu no colo da nova presidente e estamos aí, esgrimindo com o problema, num cenário internacional que continua em crise e com difículdades para dela sair. A inflação ainda pode ser controlada, desde que o governo volte a adotar medidas monetaristas mais duras, deixando de lado, pelo menos parcialmente, o sonho desenvolvimentista. Além do câmbio, os juros elevados são as armas imediatas. Afora isso, há outras medidas pontuais que podem ser tomadas. Todavia, se demorarmos em fazê-lo, a inflação dispara e rompemos o teto da meta. Um exemplo prático do que o populismo desenvolvimentista pode causar nós vemos na Argentina dos Kirchner (o país vizinho entrou num caos econômico e social que levará décadas para solucionar, pois retrocedeu ao que era antes da estabilização que tinha conseguido - e não foi por falta de aviso). Aqui, ainda estamos longe disso, mas caminhamos no mesmo sentido se o governo continuar insistindo com a atual política econômica. (continua)

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