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De olho no movimento



Manoel Carlos Ortolan

O grupo Morgan Stanley, um dos três maiores bancos de investimentos dos Estados Unidos, anunciou que irá investir em uma usina de etanol no Brasil e até o fim do ano deve definir o seu parceiro na empreitada. O grupo chegou a ter participação em uma indústria de etanol à base de milho, mas se desfez do negócio para investir no álcool de cana. O interesse pelo Brasil começou em setembro do ano passado, quando o setor de commodities do banco começou a negociar etanol. Neste ano, o grupo deverá ser responsável pela exportação de 10% a 15% do total de etanol embarcado pelo país.

O movimento de um investidor da importância do Morgan Stanley, com presença nos principais mercados mundiais, confirma a crença no futuro do etanol, apesar das dificuldades pelas quais o setor sucroalcooleiro brasileiro atravessa. Para os produtores de cana, açúcar e álcool, que desde a safra passada estão passando apertado, isso pode não ser um refresco imediato nesse momento de crise - mesmo porque não sabemos exatamente quanto tempo ela durará – mas é um indício de que compensa persistir na atividade.

O comportamento dos investidores estrangeiros é um parâmetro para avaliar o potencial de um setor. São grandes grupos que analisam os mercados do mundo inteiro para definir onde estão os negócios mais rentáveis e seguros. E, em se tratando de lucros, ao menor sinal de risco, os investidores deixam o negócio. O interesse estrangeiro sobre o setor sucroalcooleiro brasileiro não é novo. O capital internacional aportou no setor em 2000, com os grupos franceses Tereos e Louis Dreyfus. Depois deles vieram outros grandes grupos, como a Cargill, , Bunge, e investidores financeiros como Merrill Lynch, George Soros e Carlyle Riverstone.

Aos olhos externos, que procuram enxergar o mercado mais adiante, o etanol brasileiro é um negócio da China. O problema é que internamente o dia-a-dia do setor é de problemas, resultados do processo de crescimento, que estimulou os produtores a fazerem grandes aportes em ampliações e implantação de indústrias, e das condições do mercado internacional, ainda bastante fechado ao etanol brasileiro e não muito favoráveis ao açúcar.

No caso da cana-de-açúcar, por exemplo, cujo valor é definido por uma equação que considera os preços no mercado interno e externo dos produtos e no mix de produção das usinas, o cenário é depressivo: a tonelada da cana é comercializada em média por R$ 35,00, enquanto o custo de produção beira os R$ 50,00. Assim como os industriais, os fornecedores de cana também investiram na ampliação da atividade, adquiriam áreas, compraram equipamentos e nesses dois últimos anos as contas não fecharam.

É um momento extremamente delicado e desanimador, mas ainda assim é preciso insistir na atividade até que os preços reajam. O setor já passou por outras crises e as superou. Essa será mais uma. O essencial nessa hora é estar organizado e as associações e cooperativas acabam sendo uma tábua de salvação principalmente para os pequenos e médios produtores, que precisam que seus interesses sejam defendidos, de orientação e de outros serviços que facilitem sua vida. O mar não está para peixe, mas se grandes grupos, como o Morgan Stanley, se lançam para a pescaria, é sinal de que a situação vai mudar.

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