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De bolha em bolha estamos todos nus


Amado de Olveira Filho
    Sexta feira 3 de outubro de 2008, alegria geral em todo o mundo. Edições extraordinárias noticiaram a aprovação pela Câmara dos Deputados dos Estados Unidos do plano de socorro ao mercado financeiro preparado por Henry Paulson, Secretário do Tesouro. Que lição! Que roupa nova cara para um rei cuja nudez se vê estampada nos milhares de mortes mundo afora e nos trilhões de dólares torrados com guerras absurdas.

    Tentaram de todas as formas que a bolha não explodisse. Tudo isto vem se arrastando desde fevereiro de 2007. Entrando em 2008 com toda a sorte de engenharia financeira para dar liquidez aos mercados, especialmente pelos Estados Unidos e Inglaterra. Verificou-se um processo de autofagia de mercado que obrigou a criação de um fundo de emergência por dez bancos internacionais de US$ 70 bilhões para atender a suas necessidades mais urgentes.
Em seguida, já em desespero, o Banco Central dos Estados Unidos (Fed) aceita receber dos bancos os títulos considerados de risco (moeda podre) em troca de dinheiro bom, concomitantemente, outros bancos centrais implementaram outras medidas de aumento de crédito. Tudo em vão, a crise continua!

     A solução, mesmo que parcial, deveria vir dos EUA, assim, a proposta de US$ 700 bilhões é ampliada para US$ 850 bilhões e a oposição ao Governo Bush viabiliza a aprovação, após a inserção de vários mecanismos de favorecimento aos contribuintes. Isto é nada para o Tesouro, se comparado aos mais de US$ 3,0 trilhões que a guerra do Iraque poderá custar aos contribuintes americanos, segundo o prêmio Nobel de economia Joseph Stiglitz.

    Números da Organização Internacional do Trabalho (OIT) apontam que a crise internacional já estabelecida provocará o desemprego de mais 5 milhões de pessoas em todo o mundo. Isto agravará a situação dos tesouros de todos os países, pois deverão promover maiores transferências diretas à sociedade, ao mesmo tempo em que se verificará a redução da arrecadação pela quebradeira que se sucederá nas pequenas empresas.

    E no Brasil, o que de fato acontecerá? Segundo o Ministro Guido Mântega, italiano de nascimento e Ministro da Fazenda no Brasil, “a crise é grave, porém, as reservas internacionais brasileiras poderão ser usadas de maneira criativa para dar mais liquidez ao mercado no momento mais agudo da crise externa”. Esta semana veio a resposta: Vamos ajudar os bancos brasileiros!

    Mas o que já sabemos é que reduziu recursos para as exportações e, por conseguinte podemos esperar a redução da produção interna o que implica em poder afirmar que o crescimento do PIB ficará inferior a 3% em 2009. A Bolsa de Valores deverá continuar registrando volumes de negócios equivalentes ao do ano passado, porém, se confirmar que a queda do índice Bovespa se associa a redução de uma euforia passageira, os investidores deverão aguardar por muito tempo a realização de lucros. Por enquanto as oscilações serão constantes.

    Internamente também haverá a possibilidade da explosão de várias bolhas. Para nós mais graves que a dos Estados Unidos.  Uma bolha que inevitavelmente explodirá em curto prazo se refere às dividas agrícolas. A situação é tão grave que com apenas um exemplo entendemos isto, vez que, uma colheitadeira comprada por R$ 400 mil no ano de 2004, hoje vale R$ 200 mil e o saldo devedor é de R$ 800 mil. Esta realidade tornará insolventes milhares de produtores rurais, hoje ainda protegidos por uma renegociação que já se mostrou ineficaz.

    No caso da agricultura isto está ocorrendo em função de um forte processo de inflação de custo de produção com elevada queda de preços dos produtos, porém, também outros setores da economia como o setor de transporte que precisa renovar sua frota, a indústria e o comércio que investiram pesadamente em sua modernização, também está inflando suas bolhas que inevitavelmente uma hora explodirá.

    Por outro lado a crise internacional provocada pelos Estados Unidos, matará com apenas US$ 850 bilhões mais gente mundo afora do que com suas guerras. Sob este aspecto, a roupa do Rei ficará extremamente barata, porém, nós é que a cada dia estamos ficando todos nus!

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