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Da agricultura ao agronegócio - O que mudou na teoria e na prática


Eleri Hamer

 A agricultura mundial tem sofrido significativas mudanças, principalmente ao longo dos últimos 50 anos, no que diz respeito a sua estrutura, mercado, tecnologias e concepções teóricas.

A economia de mercado em que se encontra a agricultura hoje, denominada especificamente de concorrência perfeita, não permite por exemplo que boicotemos a comercialização de soja na expectativa de que os preços retomem patamares de rentabilidade mais atraentes.

As alterações ocorridas no cenário mundial não se limitam aos países desenvolvidos como os EUA e alguns da Europa. Pelo contrário, o processo iniciado se alastrou rapidamente e em questão de vinte anos aportou nos países em desenvolvimento como é o caso do Brasil.

O novo contexto ficou mais evidente e gerou grandes mudanças notadamente quando da abertura dos mercados mundiais, que no caso do Brasil ocorreu a partir do final do governo Sarney e início do governo Collor, tendo se perpetuado ao longo dos subsequentes governos neoliberais da era FHC e particularmente se mantido na atual era Lula.

No campo teórico, as mudanças iniciam-se a partir das concepções dos americanos Davis e Goldberg ainda em 1957, que na tentativa de entender e explicar a conformação e importância da agricultura e suas inter-relações cunharam o termo agribusiness. Este fato desencadeou uma sequência de novas teorias, dentre as quais reúnem-se primeiramente a lógica de Filière, oriunda das pesquisas francesas, conhecida como Cadeia de Produção, e mais tarde somam-se os complexos rurais, complexos agroindustriais, sistemas agroindustriais dentre outros conceitos correlatos, permitindo estudos que apontassem com maior segurança o futuro dos diferentes níveis do agronegócio, muito útil para as organizações públicas e privadas.

O que é definitivo porém no âmbito das teorias sobre agricultura e agronegócio é que a possibilidade de analisar a economia agrícola do ponto de vista dos setores primário, secundário e terciário estava esgotada e suplantada já a partir do conceito desenvolvido em 1957 e aportava no brasil pela primeira vez apenas na década de 70, quase 20 anos depois.

No aspecto prático, a agricultura brasileira sofreu incisivamente a interferência do Estado, principalmente até o final dos anos 80, quando ainda era incipiente, através da política agrícola que tinha como propósito central o equilíbrio da balança comercial, o que beneficiou ao longo dos 30 anos que foi praticada, determinados setores, notadamente algumas culturas e determinadas regiões.

Como dito anteriormente, ao final do governo Sarney e início do governo Collor, a abertura comercial brasileira tornou-se irreversível e definitivamente o campo reconheceu a existência do fenômeno da globalização, acirrando o processo concorrencial nos diferentes níveis: agrícola, industrial e comercial.

A concorrência a que foi exposta a agricultura brasileira desencadeou uma nova percepção tanto prática como teórica: de que a capacidade de subsistir e crescer neste novo mercado não estava mais associada a questão do tamanho das estruturas produtivas e sim na inserção ou exclusão destas propriedades à determinadas cadeias ou complexos agroindustriais. A economia de escala, em se tratando de agricultura, obviamente auxilia neste necessário propósito.

No contexto estratégico, as organizações buscaram diferenciais competitivos que permitissem colocá-las em nível de vantagem frente às demais, haja vista que os concorrentes podiam estar em qualquer lugar do planeta. Contudo, no aspeto concorrencial, o processo não se restringe somente às questões inter-organizações e agora amplia-se para a concorrência entre cadeias, que muitas vezes se estendem por regiões amplas e com características diversas.

A partir do final da década de 90 porém, a capacidade explicativa dos conceitos de cadeia e complexo principalmente, começam a dar sinais de esgotamento, sofrendo diversas críticas, justificadas em função do acelerado processo tecnológico associado aos novos arranjos empresariais que ocorrem cada vez com maior frequência.

Esta nova conformação na busca de maior competitividade relegou a um segundo plano as vantagens competitivas que antes representavam os principais diferenciais competitivos, e passou para a posição mais importante as vantagens competitivas, que necessitam ser construídas pelas organizações.

Neste aspecto, tanto em relação às questões teóricas como práticas, é contundente a construção de uma nova estratégia através de uma nova conformação organizacional sendo obrigatória para o agronegócio, que está centrada nos processos cooperativos e nas alianças estratégicas entre organizações, o que muitas vezes é reconhecido amplamente como uma estrutura em rede.

Assim, a questão atual de sobrevivência e avanço das organizações no agronegócio está na capacidade das organizações produtivas articularem-se em forma de redes associativas, estabelecendo ainda entre elas diferentes processos colaborativos ou de alianças com universidades, centros de pesquisa, empresas públicas ou privadas que possam ampliar de alguma forma a sua cadeia de valor.

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