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Zoneamento da cana, bom para São Paulo, o resto...


Amado de Olveira Filho
Continua repercutindo em todo o Brasil e fortemente no Estado de Mato Grosso o Zoneamento da Cana implementado pelo Governo Federal. Os produtores rurais mato-grossenses estão preocupados com a forma e, sobretudo com as restrições impostas sem demonstrar de fato os riscos de se produzir cana de açúcar na Bacia do Alto Paraguai.
Técnicos da Casa Civil da Presidência da República tentam explicar que se trata de uma estratégia de marketing internacional para o etanol brasileiro. Difícil de engolir, afinal, desconsiderou quase 30 anos de experiência!
A produção de cana no Estão de Mato Grosso está praticamente estabilizada desde a safra 2003/2004 em pouco mais de 14 milhões de toneladas, sendo que houve duas inflexões na produção nas safras de 2005/2006 e na seguinte, que ficou em torno dos 12,5 milhões de toneladas e, não deverá sair dos 14,5 milhões na safra 2008/2009.
Será que isto se explica em função das elevadas inversões financeiras necessárias a implantação de uma indústria açucareira e ainda somada a enorme mobilização agrícola que precisa ser realizada para a oferta da matéria prima?
Nesta linha de raciocínio, podemos afirmar que a estagnação se dá, também, pela falta de uma logística adequada para o escoamento da produção. Mato Grosso produz aproximadamente 800 milhões de litros de etanol e recebe em torno de 2,0 bilhões de litros de gasolina e diesel por via de transporte rodoviário.
O etanol que exportamos para outros estados é transportado via frete/retorno dos derivados de petróleo e monta em aproximadamente 500 milhões de litros. Este cenário nos faz refletir, até onde a indústria açucareira não se interessou em sua expansão na última década?
Por outro lado, quando observamos a distribuição da produção de etanol em todo o território nacional verificamos que somente o Estado de São Paulo produz mais de 62,0% da produção nacional e toda a região sudeste se aproxima de 70,0% da produção brasileira. Assim, o que se percebe é uma situação de conforto do Governo Federal em determinar a estagnação da produção na Amazônia e na Bacia do Alto Paraguai, afinal, as bancadas na Câmara dos Deputados de todos estados da Amazônia legal, em número, empatam com a do Estado de São Paulo.
Uma outra discussão está em curso em Mato Grosso. O autoritarismo demonstrado no caso da cana se restringirá apenas à cana de açúcar? Claro que não! Está dada a largada para outras restrições como a produção de algodão, cereais, fibras e oleaginosas, destacando que no caso da soja, a indústria brasileira já se antecipou e ela mesma decretou a moratória da produção de soja na Amazônia.
Passada a TPZ – Tensão Pós Zoneamento, estão satisfeitas tão somente as indústrias filiadas à União das Indústrias de Cana de Açúcar (Unica), que também poderia ser chamada de União das Indústrias de Cana de Açúcar do Estado de São Paulo, afinal, apenas uma ou outra planta industrial a ela ligada está fora daquele Estado. A concentração paulista é tão grande que apenas 5 grupos detêm 65 plantas industriais.
A alegria das empresas filiadas a Unica é demonstrada na fala de seu Presidente Marcos Jank que, após a fala do Presidente Lula na ONU expressou: “É fundamental disseminar mundialmente as importantes medidas que têm sido tomadas no Brasil para garantir o reconhecimento da sustentabilidade socioambiental de nossa produção de biocombustíveis e o Presidente Lula faz isso ao levar essa mensagem essencial à ONU, e, portanto, ao mundo”.
Claro que além da sustentabilidade sociambiental o Presidente da República poderia ter anunciado o fim da concorrência de São Paulo com a maioria dos Estados brasileiros, poderia ainda dizer que os Estados do norte do Brasil e da Amazônia legal continuarão com grande desigualdade sócio-econômica em relação aos do Sudeste, especialmente a São Paulo e, ainda, num gesto de euforia gritar: O álcool do Brasil é paulista! O resto é o resto...

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