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Você é um Consultor, mesmo que não se veja assim


Eleri Hamer

A relação dos profissionais com seus clientes ou empregadores tem mudado muito ao longo dos últimos anos. As necessidades e as expectativas mudam e a maneira de atuar dos profissionais também deve mudar.

Embora a maioria dos profissionais da engenharia, da arquitetura ou da agronomia não encare as suas atividades como consultorias, esses profissionais, nas suas mais diversas especialidades, já devem ter realizado várias, sem nem mesmo se dar conta disso.

As consultorias são atividades mais freqüentes nas diversas áreas da administração, porém estão se tornando corriqueiras e altamente demandadas nas várias formações acadêmicas. Qualquer um de nós já deve ter realizado uma pequena consultoria. Por exemplo, quando alguém lhe pede uma informação ou uma opinião, mesmo que seja no aeroporto ou na rua, já é uma consultoria. O quê faz de você um sujeito confiável a primeira vista a ponto de alguém confiar em sua informação e seguir a sua indicação. Na profissão também é assim.

Existe uma fama perniciosa dos consultores, de que há uma certa distância entre aquilo que recomendam e a prática, fruto principalmente de que muitos profissionais, embora experientes em suas áreas, acreditam que possam se tornar consultores e para isso basta colocar o termo abaixo do nome, no seu cartão pessoal.

Não é bem assim. O verdadeiro consultor jamais comete tal equívoco. A consultoria diz respeito a filosofia de trabalho. Na verdade todo profissional precisa atuar como consultor. A expertise técnica é uma necessidade óbvia, mas a consultoria é um diferencial.

Quando se contrata um engenheiro, arquiteto ou engenheiro agrônomo, o que esperamos dele? É evidente que ele deve entender de sua especialidade. É isso que se espera. Porém, nos surpreenderíamos se atuasse como um verdadeiro consultor de nosso empreendimento. Independente se o nosso empreendimento é uma casa, um armazém, uma lavoura ou criação pecuária.

Por isso precisamos lembrar que a consultoria é um processo interativo de um agente externo, com a responsabilidade de auxiliar nas tomadas de decisões, implantando-as sempre que necessário, mas que não tem o controle da decisão. Os aspectos sublinhados são particularmente importantes a medida que nos levam a perceber o tamanho e a complexidade da nossa tarefa.

Somos chamados a interagir com o empreendedor, sugerindo e implantando as decisões escolhidas, mas sem contudo, ter o controle da decisão, uma vez que essa fica, dentro dos parâmetros legais, com o contratante.

Um empreendimento é um sonho. Muitas vezes é pensado, almejado, durante anos. Contrata-se um profissional para tornar aquele sonho realidade. Essa é a função principal do consultor: tornar um sonho realidade.

Ao se contratar um engenheiro, arquiteto ou agrônomo espera-se que com ele o sonho se realize sem sobressaltos. Esperamos tranqüilidade, paz e o sonho realizado dentro das nossas expectativas.

Muitos profissionais porém, tornam o sonho do empreendedor um pesadelo. Ninguém quer executar um pesadelo. Ninguém quer passar raiva, discutir, ter dúvida ou ficar endividado.

Qual a função desse profissional então? É o de conduzir o empreendedor pelo labirinto da execução sábia, que ele já conhece, interagindo e discutindo com os demais profissionais envolvidos, adaptando o seu sonho a realidade possível.

Portanto, é pertinente entender de gestão e de sonhos para entendermos de empreendimentos. Muitos sonham com algo que são incapazes financeiramente ou tecnicamente de realizar. Para isso o profissional é pago. Para ajustar entre o sonho e o sonho possível. Não deixar o contratante ter problemas no futuro, dissimular a intenção se ela poderá ser ruim para ele.

Conheço muitas pessoas que jamais farão uma obra novamente. Isso é péssimo para a categoria. Dentre outros motivos, a fama corrente é que não há obra (em qualquer área da engenharia, arquitetura ou agronomia) em que o orçamento se aproxime minimamente da execução. Já é comum entre os pares, admitir essa atrocidade profissional. Talvez por isso os orçamentistas sejam um dos profissionais mais valorizados no mercado.

Outro aspecto relevante é em relação a propriedade do sonho. De quem é o sonho afinal? Muitos profissionais pensam que o empreendimento é deles e se atritam com os proprietários a ponto de se incompatibilizar, pois querem colocar à força as suas crenças e gostos na obra. Lembrem-se, somos pagos para auxiliar nas melhores decisões e implanta-las, mas não temos controle sobre a decisão. O empreendimento não é nosso.

Todos os profissionais envolvidos devem ter uma visão sistêmica e integrada do empreendimento. Com início, meio e fim. Sem surpresas desagradáveis. Quando cada profissional enxerga somente a sua parte, o resultado pode ser desastroso. Tanto para o profissional como para o empreendedor.

Uma coisa difícil de se conseguir é a relação harmoniosa entre profissionais no empreendimento. Sempre existe uma necessidade medíocre de se destacar, quando na prática todos perdem. O empreendedor fica no meio, muitas vezes sem saber o que fazer.

Existem inúmeras ferramentas de gerenciamento de projetos, mas que poucos profissionais utilizam efetivamente. A maioria é para o projeto no banco ou para alguma necessidade técnica específica. O profissional é pago para fazer uma atividade que ele não vai usar depois. Dentre estes se destacam o "caminho crítico, o ciclo de vida do projeto, a curva S de custos e o famoso gráfico de gantt".

Por isso, a pró-atividade é fundamental. Deixemos de atuar somente como profissionais da engenharia, arquitetura e agronomia e passemos a atuar como consultores profissionais nestas áreas. Novos negócios e novas áreas se abrirão para todos e melhorará a credibilidade no trabalho.

Como diz um ditado chinês: quando você perder, não perca a lição. Boa semana para todos.

Eleri Hamer é Mestre em Agronegócios, Professor de Graduação e Pós-Graduação do CESUR, desenvolve Palestras, Educação Executiva e Consultorias em Gestão Empresarial e Agronegócio. Home-page: www.elerihamer.com.br E-mail: [email protected]

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