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Valor Nutritivo de Pastagens de Brachiaria humidicola na Amazônia Ocidental



Newton de Lucena Costa

A composição química, via de regra, fornece alguns indicadores do potencial nutritivo das plantas forrageiras. Ademais, o conhecimento de sua variação nos diversos estádios fenológicos é um dos fatores a ser considerado para a utilização de práticas de manejo adequadas. Em geral, à medida que as gramíneas tropicais maturam, há uma redução nos teores de proteína bruta (PB) e minerais e elevação nos teores de MS, celulose e lignina, resultando em decréscimo na digestibilidade e aceitabilidade da gramínea. Em Rondônia, foram obtidos teores de 8,2 e 7,2% de PB; 0,18 e 0,11% de fósforo e, 0,33 e 0,24% de cálcio, respectivamente para plantas de B. humidicola com 35 e 63 dias de rebrota, os quais não diferiram significativamente dos registrados com Andropogon gayanus cv. Planaltina. No Amazonas, estimaram-se teores de PB de 8,1 e 6,3%, respectivamente para plantas com 14 e 56 dias de crescimento. Trabalhos realizados em diversas localidades da Amazônia, consistentemente têm mostrado que os teores de PB, cálcio e fósforo de B. humidicola, geralmente, são inferiores aos de P. maximum, B. decumbens, B. ruziziensis e A. gayanus, principalmente em estádios mais avançados de crescimento. No entanto, verificou-se que os teores de PB de B. humidicola, aos 84 dias de rebrota, tanto no período de máxima como de mínima precipitação, foram superiores aos de B. decumbens, B. dictyoneura e Axonopus micay, porém inferiores aos de A. gayanus apenas durante o período de máxima precipitação. Na Costa Rica foram estimados maiores teores de PB e coeficientes de digestibilidade in vitro da matéria seca para B. humidicola, comparativamente a B. decumbens, P. maximum, B. brizantha e B. dictyoneura. No Equador, obteve-se uma taxa de redução nos teores de PB de B. humidicola, em função da idade das plantas (21 até 105 dias de rebrota) de -0,11% ao dia, a qual foi similar às obtidas com outras gramíneas incluídas no ensaio (B. decumbens, B. ruziziensis e B. brizantha). Avaliando-se o balanço de nitrogênio total em quatro espécies de brachiaria (B. decumbens, B. humidicola, B. radicans e B. ruziziensis), crescidas em dois tipos de solo durante 14 meses, não foram detectadas diferenças significativas no acúmulo de nitrogênio da parte aérea das gramíneas testadas. Em Porto Rico, foram obtidos teores de PB similares para B. humidicola, B. brizantha e B. ruziziensis, manejadas sob três frequências de corte (30, 45 e 60 dias).Quantificando-se a composição química de 136 ecótipos de dez espécies de Brachiaria, os três ecótipos de B. humidicola, selecionados como promissores, apresentaram teores de PB superiores ou semelhantes aos registrados em diversos ecótipos de B. decumbens, B. dictyoneura, e B.brizantha. Em geral, para todas as espécies avaliadas, observou-se uma associação positiva entre teores de PB, relação folha/colmo e coeficientes de digestibilidade in vitro da MS.

No Pará, determinando-se os teores dos constituintes da parede celular de B. humidicola, em três idades de corte, obtiveram 72,5; 74,3 e 76,4% para fibra em detergente neutro (FDN); 37,4; 39,7 e 41,9% para fibra detergente ácido (FDA) e, 3,9; 5,1 e 5,8% para lignina, respectivamente para cortes com 35, 65 e 95 dias de rebrota. Do mesmo modo, verificou-se que os teores de FDA de B. humidicola eram inferiores aos de B. decumbens, A. gayanus, Paspalum notatum e B. brizantha, enquanto que os de FDN foram menores que os registrados em B. dictyoneura e A. gayanus. No Pará, não foram encontradas diferenças significativas entre os teores de fibra bruta de B. humidicola e os de P. maximum, H. rufa, B. decumbens e D. decumbens.

Entre os fatores que definem o valor nutritivo de uma planta forrageira, o consumo voluntário, a palatabilidade, a composição química (energia, proteína, minerais), a digestibilidade e a eficiência de utilização dos nutrientes pelo animal são os mais importantes. O consumo, a palatabilidade e a composição química da planta são influenciadas pelas características intrínsecas da espécie, as quais por sua vez podem ser modificadas por fatores ambientais (clima e solo), pela comunidade vegetal (monocultivo ou consorciação) e pelo manejo (fertilização, frequência e intensidade de corte ou pastejo).

A definição do grau de palatabilidade é importante, já que algumas espécies forrageiras apresentam uma correlação positiva entre palatabilidade, consumo e ganho de peso. Em testes de preferência com novilhos, comparando B. humidicola com diversas cultivares de D. decumbens, concluiu-se que não houve diferença entre as duas espécies. Na Colombia, um ensaio de aceitabilidade relativa sob pastejo mostrou que B. humidicola teve aceitabilidade superior a B. decumbens, B. brizantha e B. ruziziensis. No Peru, avaliando-se a preferência relativa de oito gramíneas forrageiras por bovinos Holando-Zebu, verificou-se que B. humidicola teve maior aceitabilidade que Paspalum conjugatum, Axonopus compressus e H. rufa; semelhante a B. dictyoneura, porém menor que B. decumbens, A. gayanus e P. plicatulum. Na Colombia, avaliando-se a frequência de pastejo por novilhos da raça Zebu, em nove espécies de gramíneas forrageiras tropicais, observou-se maiores percentuais para B. humidicola. Durante o período chuvoso, observaram-se maiores índices de palatibilidade relativa para B. humidicola, comparativamente a B. brizantha e B. decumbens. No entanto, verificou-se que B. humidicola era menos preferida por bovinos que P. purpureum, B. mutica e B. brizantha.

Em plantas forrageiras a digestibilidade é muito instável, podendo variar para cada espécie e dentro da mesma espécie em função de inúmeros fatores, entre os quais se destaca o estádio de crescimento. A digestibilidade é o principal fator do valor nutritivo de uma forragem, a qual não apenas determina a proporção do alimento que pode ser utilizado pelos animais mas, também a quantidade a ser ingerida, já que está altamente correlacionada com a fibrosidade da planta. No Pará, estimando-se DIVMS de B. humidicola, em quatro idades de crescimento, foram obtidos teores de 58,20; 53,90; 52,56 e 51,60% no período seco e, 55,77; 54,25; 52,64 e 47,00% no período chuvoso, respectivamente para 35, 65, 95 e 125 dias de rebrota. Avaliando-se o efeito da idade da planta (42, 84 e 112 dias) sobre a DIVMS de 42 gramíneas forrageiras tropicais, verificaram-se maiores teores para B. humidicola, comparativamente a B. decumbens, B. ruziziensis, A. gayanus, H. rufa, P. maximum cv. Makueni, Setaria sphacelata, Cenchrus ciliaris e Chloris gayana. Ademais, a taxa de redução da DIVMS (%/dia) de B. humidicola (0,25%) foi inferior às verificadas com B. brizantha (0,28%, Sorghum sudanense (0,35%) e B. mutica (0,43%). Foram estimadas taxas de decréscimos na digestibilidade da MS, PB e FB de 0,18; 0,34 e 0,18% ao dia, respectivamente. Na Colombia, comparando-se a DIVMS de folhas de B. humidicola coletadas no início, meio e final da estação chuvosa, com as de B. decumbens e A. gayanus, verificou-se maiores valores para B. humidicola em relação ao A. gayanus, nas três épocas de amostragem. No entanto, as folhas de B. humidicola apresentaram maior taxa de redução na DIVMS, a qual esteve relacionada com maiores valores no início do período chuvoso.

O consumo voluntário é um dos fatores mais importantes na avaliação de forragens, o qual na maioria das vezes é muito mais variável que a digestibilidade. O consumo voluntário é bastante afetado pelo peso dos animais, deste modo, sugere-se a avaliação deve ser feita com base no seu consumo diário de MS expresso por unidade de tamanho metabólico, tendo para tal estabelecido os consumos padrões de 80 e 140 g/kg, respectivamente para ovinos e bovinos. Ainda não há suficiente evidência para sustentar a hipótese de que o consumo voluntário de alimentos volumosos pelos ruminantes está diretamente relacionado com a quantidade de digesta no retículo-rúmen e com sua velocidade de passagem, ou seja, com sua digestibilidade. Em pastagens de B. humidicola, submetidas a três cargas animal (1,9; 2,9 e 5,7 an/ha), verificou-se que o consumo voluntário de forragem por bovinos de corte foi maior na carga de 2,9 an/ha (59,8 g de MS/kg/dia) que com 5,9 an/ha (44,3 g de MS/kg/dia), porém não diferiu do registrado com 1,9 an/ha (50,4 g de MS/kg/dia). A digestibilidade da MS não foi afetada pelas diferentes cargas animais. Em pastagens de B. humidicola, puras ou consorciadas com A. pintoi, o consumo de MS não foi afetado pelas cargas animal (2 e 4 an/ha), contudo, o maior consumo foi registrado nas pastagens consorciadas (1.109 vs. 941 g MS/100 kg de peso vivo). Em geral, há um relacionamento positivo entre o consumo voluntário de MS de B. humidicola, sob pastejo, e sua digestibilidade, sendo verificados aumentos no consumo de MS de 1,17 para 1,50 kg/100 kg de peso vivo/dia, quando a DIVMS passou de 52,4 para 60,5%. No Pará, verificou-se maior consumo de B. humidicola, por bubalinos, durante o período chuvoso (77,25 g de MS/kg) comparativamente ao período seco (61,84 g de MS/kg), sendo tal comportamento direta e positivamente relacionado com a digestibilidade da matéria orgânica e os teores de FDA e PB. Em ensaios com carneiros mantidos em gaiolas metabólicas, observou-se que o consumo de MS de B. humidicola não foi afetado pela digestibilidade e sim pelo nível de oferta de forragem. Possivelmente, os baixos teores de PB encontrados na foragem disponível, seja o principal fator limitante ao consumo de MS de B. humidicola, o qual, geralmente, é inferior aos comumente observados em diversas gramíneas forrageiras tropicais (2 a 3% do peso vivo).

Vários pesquisadores têm procurado correlacionar o consumo voluntário com a composição química da forragem, contudo torna-se relativamente difícil esta comparação devido ao fato de que a individualidade animal afeta mais o consumo que a digestibilidade. A correlação existente entre composição química e o consumo voluntário é menor que entre composição química e digestibilidade. O decréscimo nos teores de PB torna-se o primeiro fator limitante ao consumo. Entretanto, o efeito inibidor só se manifesta em forragens com teores abaixo de 8,5% nas gramíneas temperadas e 7,0% nas tropicais. Os resultados encontrados indicam que baixos teores de PB deprimem a atividade bacteriana no rúmen, diminuindo a velocidade de passagem da forragem. Em pastagens de B. humidicola puras ou consorciadas com D. ovalifolium, verificaram-se decréscimos significativos no consumo voluntário de MS à medida que os teores de PB na dieta eram reduzidos.

O volume estrutural da forragem é representado pela parede celular e, consequentemente, o consumo está altamente correlacionado com a taxa de passagem. Desta forma, as taxas de digestão dos constituintes digestíveis da parede celular podem ser menos importantes para controlar o consumo do que as taxas de degradação física e de passagem. Constatou-se que o maior consumo de MS em pastagens de B. humidicola consorciada com A. pintoi (1.109 g MS/100 kg de peso vivo), comparativamente ao da gramínea pura (941 g MS/100 kg de peso vivo), foi consequência da menor taxa de retenção da forragem no retículo-rúmen (51,5 vs. 59,3 horas). Tal fato foi devido a maior percentagem de folhas na dieta, as quais foram degradadas mais rapidamente. Além dos fatores relacionados com a planta forrageira, o consumo voluntário pode ser afetado, também, pelas espécies de ruminantes (ovino, bovino, bubalino), variabilidade animal (tamanho, idade, sexo, estado fisiológico, grau de sangue), frequência de alimentação, disponibilidade de água e temperatura ambiente.

Newton de Lucena Costa – Embrapa Amapá

 
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