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Tendências



Argemiro Luís Brum
Freada do dólar

Desvalorizado em demasia, chegando a bater em R$ 2,08 em alguns momentos desta semana (a moeda estadunidense chegou, na semana, a um valor que não se via há três anos no país), o Real passou a preocupar o governo brasileiro, como o previsto. Após estimular a desvalorização de nossa moeda, esperando trazê-la para um nível em torno de sua paridade de poder de compra (R$ 1,94), o governo foi surpreendido pelo aguçamento da crise europeia.


Com isso, o dólar passou a se valorizar no cenário mundial, pois serve de valor refúgio diante das crises maiores. A soma dos dois fatores determinou uma perda de valor demasiada do Real. Ora, uma moeda muito desvalorizada acaba introduzindo no país mais inflação porque os produtos importados ficam mais caros em moeda nacional. Esse sinal foi dado em abril e vem se confirmando em maio, assustando o governo. Assim, antes de voltar a subir o juro (a ideia oficial é ainda reduzir a Selic, na próxima reunião do Copom, no dia 30/05) o Banco Central brasileiro começou a vender dólares no mercado visando frear a sua alta.

O movimento de venda, que havia iniciado no dia 18/05, aumentou em seguida, sendo que somente no dia 22/05 foram vendidos US$ 2,19 bilhões de nossas reservas cambiais. Com isso o dólar retrocedeu para R$ 2,03, porém, ainda continua muito elevado. O governo fala que tem munição para enfrentar o problema, porém, a história mostra que, diante das forças do mercado, não há munição suficiente para ações isoladas. Portanto, resta esperar que no front externo as coisas, mesmo que não venham a se resolver, pelo menos que se acalmem um pouco. Nesse contexto, é bom frisar que o mercado espera o fechamento de 2012 com um câmbio ao redor de R$ 1,85, ou seja, na mesma linha do valor que tínhamos terminado 2011.

Nova redução de investimentos

É notório que o Estado brasileiro gasta mais do que arrecada, está inchado e ineficiente, precisando urgentemente de reformas estruturais para melhor atuar em prol da Nação. É notório igualmente que, embora defendidas há anos no Brasil (em seu discurso de posse, em 1º de janeiro de 1995, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso já destacava essa necessidade), tais reformas não acontecem e o Brasil vai patinando ao sabor de ações conjunturais, as vezes estimuladas por um populismo inconsequente.

Essa situação leva o Estado a um enorme endividamento interno, hoje ao redor de R$ 1,8 trilhão, e em crescimento quase constante. Obrigado a fazer alguma economia, tentando evitar o inevitável no longo prazo, que é o estouro das contas públicas ao estilo grego ou espanhol, caso as reformas estruturais não sejam feitas a tempo, o governo opta por cortar despesas lá onde não deveria. Além de enxugar a máquina em áreas como a saúde e a educação, em função de uma Constituição que igualmente tem engessado o Estado, o governo corta investimentos.


Tanto é verdade que nesse primeiro quadrimestre do ano anunciou um corte de 5,5% nos mesmos. Se esse corte tenha sido sobre
investimentos desnecessários, o processo é aceitável. Todavia, geralmente não é o caso. Ora, um país sem investimentos não avança, pois não consegue suprir a Nação com a infraestrutura necessária para crescer. Dito de outra maneira, na falta de capacidade de cortar despesas e estruturas desnecessárias, via amplas reformas, o governo corta despesas lá onde não deveria. Assim, por exemplo, de nada adianta estimular o consumo de automóveis, via um altíssimo endividamento e inadimplência dos cidadãos, visando manter em funcionamento as indústrias, se não há estradas e ruas suficientes, em bom estado, para esses automóveis circularem.

A situação está tão ruim que os estudantes que circulam todas as noites por nossas estradas regionais já estão fazendo movimentos de paralisação do trânsito em defesa de melhoria das estradas. Em troca, ao invés de consertá-las, o governo faz a pintura das mesmas, sobre os buracos, jogando dinheiro fora mais uma vez.

Para onde caminha o preço da soja

Nas últimas semanas o preço da soja, em Chicago, perdeu mais de um dólar por bushel (recuou de US$ 15,03, no dia 30/04, para US$ 13,76, no dia 24/05). Esse movimento é consequência de um clima normal, por enquanto, junto à safra dos EUA e, especialmente, de uma valorização do dólar no mercado mundial, motivada pela retomada da crise na Europa em especial. Mantidas essas condições no cenário internacional, Chicago aponta hoje cotações, para o final do ano, com uma redução de mais um dólar por bushel, com o mesmo batendo em US$ 12,76 para novembro, no fechamento do dia 24/05.

Nesse quadro, em safra normal nos EUA (colheita em outubro próximo), e com um câmbio que, no Brasil, recue para a sua paridade (R$ 1,94), como parece ser do interesse do governo, o preço médio da soja, no balcão gaúcho, tende a recuar para algo em torno de R$ 47,00/saco no final do ano, contra os atuais R$ 53,50. Na sequência, se a safra sul-americana se recuperar em 2012/13, como todos desejam, e o câmbio se estabilizar, o mercado pode muito bem retornar para o que devia ter sido nesse ano: preços ao redor de R$ 40,00 a R$ 42,00/saco no balcão gaúcho.


Obviamente isso não é uma certeza, porque essa ninguém tem, mas uma tendência com base nos fatos atuais. Estamos, portanto, mais uma vez, diante de uma realidade complexa: a nova lavoura de verão tende a ser feita com custos muito mais elevados, tendo como contrapartida preços do produto mais baixos na hora de vendê-lo.

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