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Tendências 23/04/2012



Argemiro Luís Brum
A Selic e o estado da economia

Sem entrar novamente no mérito da redução forçada dos juros no Brasil, particularmente no que diz respeito aos juros comerciais, assunto que já abordamos em nossa coluna passada, vale aqui explicar outro aspecto do processo. Os juros no Brasil somente estão baixando porque o governo percebeu, desde meados de 2011, que a recuperação da economia mundial, a qual poderia puxar a economia brasileira igualmente, não está ocorrendo na velocidade esperada. Pior ainda, nota-se que a mesma está desaquecendo ainda mais em 2012.


Os EUA, na melhor das hipóteses, deverão repetir um crescimento de 1,7% no atual contexto. A União Europeia não espera um crescimento melhor do que uma taxa negativa ao redor de 0,5%. O Japão, se alcançar 1% de PIB já será um vitória. E por fim, a locomotiva emergente chamada China acaba de anunciar que espera um crescimento de 7,5% neste ano, após taxas médias acima de 10% entre 2005 e 2010.

Aliás, nesse último caso, o crescimento econômico do primeiro trimestre de 2012 ficou em 8,1%, em comparação com igual período do ano anterior, segundo o próprio governo chinês. Essa expansão trimestral foi a pior dos últimos 11 trimestres, ou seja, em quase três anos.

Nesse contexto de marasmo econômico internacional, o Brasil deverá contar novamente e particularmente com o seu mercado interno. Ora, esse mercado, convidado a consumir desde o final de 2009, respondeu aos apelos oficiais e se endividou a ponto de criar uma situação de inadimplência que vem se agravando. Como fazê-lo recuperar o ritmo de consumo, pelo menos parecido, com o observado em 2010, quando o PIB nacional pulou para 7,5%?

A Selic e o estado da economia (II)

Afinal, o governo espera um PIB entre 4% e 4,5% enquanto o mercado, sempre mais realista, não vê condições para um crescimento maior do que 3% em 2012 (segundo o Banco Central do Brasil, o crescimento do PIB nacional recuou 0,13% em janeiro e sofreu novo recuo em fevereiro, desta feita de 0,23%).


Pelo sim ou pelo não, o fato é que o governo lança mão de novos artifícios de estímulo ao consumo, além de aprofundar os já existentes. Todos de efeito imediato e com uma duração curta, pois nos falta criar as condições estruturais para um arranjo de longo prazo.

É nesse contexto que entra a pressão para que os juros de mercado sejam reduzidos, a começar pelos bancos estatais. Nesse momento, o governo inclusive ressuscita a fracassada ideia de solicitar aos cidadãos que controlem os juros dos bancos (lembram dos fiscais do Sarney na luta contra a alta de preços durante o fracassado Plano Cruzado?).

Por outro lado, a redução da taxa Selic continua, dentro do previsto, tendo chegado agora a 9% ao ano. Esse instrumento obtém resultados no médio prazo (seis meses), porém, está chegando ao seu limite. O menor índice de taxa Selic que o Brasil alcançou na história desse indicador foi 8,75%.

A Selic e o estado da economia (III)

Por que não podemos ir mais longe? Politicamente até se pode! O problema é que tecnicamente os indicativos inflacionários apontam para uma retomada da inflação (IPCA) a partir de maio próximo, no mais tardar junho. Baixar demais a Selic é aquecer ainda mais a economia no horizonte de 2013, criando problemas na estabilidade econômica do país.


Em segundo lugar, o governo rola parte de sua dívida pública, em constante crescimento e hoje estando ao redor de US$ 1 trilhão, indexada na Selic. Em reduzindo demais a mesma, tal rolagem ficará difícil. Particularmente se os juros internacionais começarem a subir, na medida em que a economia mundial, se espera, consiga se recuperar mais rapidamente do que o observado até agora.

Enfim, as condições estruturais de produção, na área da infraestrutura especialmente, estão longe de serem reunidas a fim de sustentar uma demanda ainda maior caso os juros baixem muito. Isso provoca um colapso na oferta e uma conseqüente elevação da inflação, fechando o círculo. Assim, salvo surpresas, a Selic, para este restante do ano e para 2013, não deverá mais ser reduzida.

Na melhor das hipóteses ainda recue entre 0,25 e 0,5 ponto percentual na próxima reunião do Copom. Isso significa dizer igualmente que os instrumentos oficiais para manter a economia aquecida estão se esgotando. Mesmo porque, junto aos consumidores, começa a se tomar consciência das enormes dificuldades que significa ficar inadimplente, especialmente num momento, inclusive, em que o emprego cresce bem menos (no país, em março, a geração de empregos caiu 36% em relação a fevereiro), sem falar na retomada do desemprego em diversos setores.

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