Em um post passado falei sobre o ciclo da rizofagia e mencionei sobre a correlação dele com o equilíbrio do ambiente produtivo. Expliquei o porquê de os resultados produtivos com zero fertilizante serem iguais a lavouras com 100% de fertilizante. E afirmei que o uso de fertilizantes sem o processo químico para extrair nutrientes é a solução para maior produtividade e saúde do seu solo. Recebi muitas mensagens querendo entender o porquê de tal afirmação. Vou explicar nesse post.
Fertilidade do solo, conceitualmente, é sua capacidade de fornecer nutrientes, em quantidade e proporção adequadas às plantas, na ausência de elementos tóxicos, para o seu desenvolvimento e produtividade; essencialmente, um conceito restrito às condições químicas do solo. Este conceito, baseado na teoria mineralista — os minerais (nutrientes) solúveis são o alimento das plantas — construída por Liebig em 1842, não foi alterado e é amplamente utilizado no mundo há mais de um século e meio. A avaliação da fertilidade do solo, definida com base no conceito mineralista, é feita de modo semelhante em todo o Brasil, pela interpretação dos resultados de alguns indicadores analisados quimicamente em amostras de solo (Anghinoni, 2005). Com base nos resultados dessa avaliação, são recomendados fertilizantes, adubos (minerais ou orgânicos) e corretivos (de acidez ou de alcalinidade) para aumentar ou manter a fertilidade dos solos e, consequentemente, potencializar a produtividade das culturas.
Acontece que já é notório a insuficiência do conceito mineralista para expressar a fertilidade do solo. Principalmente para expressar a fertilidade do solo percebida no sistema do plantio direto. Os resultados nesse tipo de manejo deixam claro que esse conceito não é adequado ou suficiente para expressar a fertilidade percebida. Existem outros elementos responsáveis pela fertilidade do solo. Em solo cultivado no sistema de plantio direto temos a preservação das relações construídas nesse solo, entre elas a diversidade biológica que determinam as condições dadas pelo solo para o crescimento e desenvolvimento das plantas. No sistema do plantio direto, a rotatividade de culturas proporciona uma variedade microbiológica no solo.
Com a descrição do ciclo da rizofagia, ficou ainda mais claro que quem fornece nutrientes para às plantas são as relações existentes entre os microrganismos do solo. Isso ajuda, inclusive, a explicar o porquê de maiores produtividades no sistema de plantio direto.
É sabido que a melhora das condições biológicas e físicas melhoravam as condições químicas, principalmente as condições alteradas pelo uso do fertilizante químico. Só não se sabia explicar o porquê. Agora fica mais fácil entender como se dá todo o processo.
O fertilizante químico está enraizado no sistema convencional de cultivo, assim como o cloreto de potássio. Acontece que o pH ácido no processo produtivo desses fertilizantes e o cloro contido no cloreto matam a grande maioria dos microrganismos do solo, safra após safra, ano após ano. E matando os microrganismos do solo, a chance de termos a nutrição via microrganismos é pequena. Ficamos a mercê dos nutrientes que o fertilizante químico nos oferece. Por isso do uso da teoria mineralista: os minerais solúveis passam a ser o alimento das plantas. Acabou sendo um modo acadêmico de justificar o uso de fertilizante químico, justamente por não se ter o conhecimento científico sobre a grande importância dos microrganismos para o solo e para a nutrição das plantas. E por isso ela não ter sido modificada até hoje.
Acontece que o fertilizante químico, aclamado como 100% solúvel, não está 100% disponível para a planta. Quando em contato com a água da chuva, daqueles 100% solúvel, apenas algo em torno de 20% a 25% se torna disponível e é aproveitado realmente pela planta. Mais ou menos 80% desse fertilizante fica indisponível no solo, fixado em argila e óxidos (Carvalho et al.,2006), formando a famosa “poupança do solo”. E você provavelmente não usará essa poupança do solo porque você está matando os microrganismos do seu solo utilizando esse mesmo fertilizante químico. E tem mais. Ao utilizar esse fertilizante químico e matar os microrganismos do seu solo, você está desequilibrando o seu solo. E esse desequilíbrio é o motivo real de sua lavoura precisar usar algum tipo de defensivo (sobre esse assunto falarei em um outro post apresentando comprovações científicas).
Desse modo, a planta recebe do fertilizante químico, o mínimo para ter um crescimento e desenvolvimento digno. Os 80% restantes fica indisponível no seu solo. Acredito que seja um mau investimento, pagar por 100 e utilizar 20. É como se você fosse obrigado a comprar 1kg de carne onde 800 gramas fosse osso e apenas 200 gramas fosse realmente aproveitado por você. Vale mais investir em uma carne sem osso de apenas 200 gramas.
FERTILIZANTES QUE AUMENTAM A BIODIVERSIDADE DO SOLO
A conclusão que se chega é que não precisamos de nutriente solúvel para gerar fertilidade no solo. Precisamos de microrganismos para gerar fertilidade no solo e nutrientes disponíveis para a planta. Ter um fertilizante químico 100% solúvel não significa ter nutriente para a planta. Significa apenas que ele é 100% solúvel, nada mais. Solúvel, porém não disponível para a planta. Não na sua totalidade.
O que o produtor precisa é de fertilizantes que tenham nutrientes disponíveis para a planta. Eles não precisam ser solúveis. Fertilizantes produzidos sem o processo de acidulação aumentam a diversidade microbiológica do solo além de trazer nutrientes. Desse modo proporcionamos um solo equilibrado microbiologicamente, onde o ciclo da rizofagia ou qualquer outro ciclo natural acontecerão na sua plenitude. As plantas terão mais resistência a doenças, ao stress hídrico, produzirão mais, e a planta conseguirá seus nutrientes através da interação entre os microrganismos que retirarão do solo e do fertilizante tudo que a planta precisa.
Fiquem com Deus e até o mês de novembro!