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Seres humanos, consumidores de meio ambiente!


Amado de Olveira Filho

“Um homem que nasce num mundo ocupado, se não lhe é possível obter dos seus pais os meios de subsistência… e se a sociedade não tem necessidade do seu trabalho, não tem direito a reclamar a mínima parte da alimentação e está a mais. No grande banquete da Natureza, não existe talher disponível para ele, a Natureza diz para ele se ir embora e não tardará a executar esta ordem salvo se recorrer à compaixão de alguns convivas do banquete”. Frases de Thomas Robert Malthus em seu An Essay on the Principle of Population, Londres, 1798.

 Lá se vão 210 anos e Malthus continua presente, suas frases ecoam cada vez mais fortes aos nossos ouvidos, como dizendo: vocês homens consumidores de meio ambiente, tremeis. Os fatores que apontam para um grande descompasso entre oferta e demanda de alimentos no mundo são vários, inclusive no Brasil. Isto assusta em muito e deveria ser objeto de preocupação das autoridades de todas as esferas governamentais.

 Certo dia ao concluir uma palestra no interior de Mato Grosso, afirmei que eu iria consumir a minha parcela de meio ambiente a que tinha direito. Na platéia quase todos eram produtores rurais, eu podia falar isto. Estava exatamente, nos dias atuais, diante da parcela da população que é grande responsável por facilitar o consumo do meio ambiente pelos convivas do banquete diário que a natureza nos oferece.

 Em recente reunião ministerial o Presidente Lula pediu aos ministros da Fazenda e Planejamento que estudem “com carinho” um reajuste no seu programa bolsa-família, que segundo o próprio governo beneficia 11 milhões de famílias, portanto, aproximadamente 44 milhões de pessoas. Para o presidente o aumento é necessário em função dos aumentos de preços dos alimentos. Sem questionar o programa bolsa-família, sua conveniência, seus benefícios e o fato de estarmos a poucos meses das eleições municipais, os impactos de um provável aumento no programa terão efeito passageiro e, ainda retro-alimentarão a inflação.

 Já uma medida anunciada na mesma reunião, a de aumentar internamente a produção de fertilizantes é fundamental para resolver o problema, não só dos brasileiros, mas de milhões de pessoas dos países importadores de alimentos do Brasil. É impossível produzir alimentos importando praticamente 80% dos fertilizantes. A medida é correta, mas é necessário que se defina com urgência o como fazer.
 
 A Petrobras alguns anos atrás tentou licitar a implantação destas usinas sem êxito, agora poderá ser diferente já que os preços internacionais de derivados de petróleo colocam um grande mercado demandador de fertilizantes à disposição da pequena oferta interna. Uma preocupação surge e necessita de outra tomada de decisão, a de não colocar os produtores rurais, mesmo com a produção interna de fertilizantes, nas mãos das multinacionais. Ao licitar tais jazidas, precisamos impor um eficiente controle de preços.

 Mas se a decisão for de a própria Petrobras produzir esses insumos que a sua política de preços não inviabilize ainda mais a agropecuária, como vem sendo inviabilizada pelos preços do óleo diesel. Reduzir os preços do óleo diesel para a produção de alimentos seria uma sábia decisão, já que está muito claro para toda a sociedade que este insumo tem grande culpa na elevação dos preços dos alimentos.

 Nós consumidores de meio ambiente sabemos que os insumos da agropecuária são retirados do meio ambiente. Na carne bovina, no arroz, no feijão, na alface e no tomate e, ainda no sal que tempera e no óleo de soja que frita, temos uma grande porção de meio ambiente consumido mesmo antes de o alimento chegar à mesa. Este raciocínio lógico precisa ser de domínio popular. A sociedade precisa decidir até onde podemos e precisamos crescer tanto no aumento da produção de alimentos como no aumento da população. Ambas as decisões hoje consideradas indigestas!

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