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Sementes poderosas


FMC
Por: Mauro Braga
Pesquisador na área de Entomologia da MTB Consultoria/Instituto Phytus.
Escrito a pedido da FMC Agricultural Produtcs


A biotecnologia moderna, ou seja, aquela que faz uso da informação genética para aprimoramento de sementes, surgiu em 1938, na França, com o primeiro formulado comercial à base de Bacillus thuringiensis (Bt) e sua introdução nos Estados Unidos ocorreu em 1950. Desde então, essa bactéria vem sendo utilizada amplamente para controle de pragas (Sayyed e Wright, 2002).

A sua utilização resulta no desenvolvimento de variedades e híbridos de plantas mais produtivas e mais adaptadas às condições agrícolas locais.

O crescimento do uso dessa tecnologia deu-se a partir de 1996, quando foram comercializados e plantados algodão Bt e milho Bt em milhares de hectares nos Estados Unidos.

Atualmente, o milho Bt é a planta transgênica mais cultivada no mundo, ocupando 15% da área global cultivada com transgênicos em países como Estados Unidos, Canadá, Argentina, África do Sul, Espanha, França e também no Brasil.

O Brasil só entrou nesse grupo de países em 2007, com as aprovações do milho transgênico resistente a insetos pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CNTBio). Em 2011, várias marcas de milho Bt, destacadas na Tabela 1, foram disponibilizadas para uso comercial, com ação inseticida contra lagartas de lepidópteros, como a lagarta-do-cartucho (
Spodoptera frugiperda), a broca-da-cana-de-açúcar (Diatraea sacharalis) e a lagarta-da-espiga (Helyothis zea).

Duas regras são requisitos para esse tipo de plantio: o respeito às normas de coexistência e a obrigatoriedade do plantio das áreas de refúgio como forma de manejo da resistência de insetos.

A norma de coexistência se explica pelo fato de o milho ser uma planta de polinização aberta, existindo a possibilidade de uma lavoura de milho Bt polinizar uma de milho convencional, podendo, assim, ser classificado como transgênico. Portanto, é uma norma que visa proteger os direitos de opção, respeitando o direito de escolha do agricultor vizinho em optar pelo uso ou não desta tecnologia.

Quanto às áreas de refúgio, referem-se ao fato de existirem pragas resistentes aos inseticidas. E é exatamente essa seleção de insetos resistentes que gera uma das maiores preocupações pela possibilidade de reduzir a vida útil do milho Bt. Essa resistência, apesar dos avanços da tecnologia Bt, abriu uma lacuna em relação ao manejo da resistência das pragas que atacam as culturas de milho Bt, o que torna relevante o desenvolvimento de uma fórmula inovadora voltada exclusivamente para essa tecnologia. A estratégia sugerida e que deve ser usada pelos produtores para o manejo da resistência é a adoção de áreas de refúgio contendo milho convencional. Na prática toda área com milho Bt tem, obrigatoriamente, uma área anexa com milho convencional, isto é, sem o gene Bt.

A prevenção requer as seguintes condições: que tenha uma quantidade suficiente de insetos suscetíveis próximos às lavouras do milho Bt e que os insetos sobreviventes, resistentes, oriundos da área de milho Bt, sejam raros. Essas duas condições são importantes para que o plano de manejo de resistência tenha êxito. Dadas as condições de clima, tipo de praga e da agricultura brasileira, recomenda-se o uso de um refúgio equivalente a 10% da área total de milho da propriedade e que a mesma não exceda 1500 metros de distância da área com milho Bt.

O manejo da resistência é um conjunto de procedimentos que tem por objetivo retardar ao máximo o surgimento de populações resistentes em campo. Essas estratégias visam retardar o cruzamento de insetos não resistentes com aqueles que desenvolveram mecanismos de resistência a B. thuringiensis, em áreas chamadas refúgio (áreas em que não são cultivadas plantas de milho Bt).

Até então, lançavam-se mão de várias soluções, porém nenhuma delas preventiva. Normalmente, as técnicas disponíveis só eram aplicadas quando o problema já estava estabelecido, como, por exemplo, a substituição do produto por outro que tivesse um princípio ativo com mecanismos de ação diferente.


Tabela 1. Marcas de milho Bt disponíveis no Brasil a partir de 2011 visando o controle de lepidópteros.



Como funcionam as toxinas do Bt

As toxinas Bt são sintetizadas como protoxinas, que não possuem atividade tóxica. A toxina só se torna ativa quando ingerida pelo inseto, porque, devido às condições alcalinas (pH acima de 8) do tubo digestivo, ocorre a quebra da proteína, liberando o núcleo ativo. Este deve se ligar a receptores específicos na parede intestinal do inseto, desencadeando o processo que se inicia pela inibição da ingestão e absorção dos alimentos, ocasionando, com a evolução dos sintomas, a ruptura das células da parede do tubo digestivo, provocando a morte das lagartas. É importante ressaltar que essa toxina é inócua a humanos e vertebrados, que possuem o pH intestinal ácido, onde a proteína é rapidamente degradada.

Com o uso dessa tecnologia, independente do local ou época onde a lavoura for plantada, a toxina – proteína letal aos insetos-alvo – estará distribuída por toda a planta e durante todo o ciclo da cultura.

Fonte: Associação Brasileira dos Produtores de Milho

Mudanças das pragas com a chegada do milho Bt

A adaptação das pragas a novas plantas hospedeiras acontece rapidamente e a pressão dos insetos sobre os cultivos comerciais tem tendência de aumento à medida que as práticas culturais vão sendo usadas pelos agricultores.

Cada milho Bt tem uma proteína específica que atua apenas para alguns insetos da ordem lepidóptera. Insetos como os corós (Diloboderus abderus, Phylophaga cuyabana, P. triticophaga, Liogenys suturalis), broca-da-coroa-do-azevém (Listronotus bonariensis), lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus), lagartas cortadoras (Agrotis ipsilon, Striacosta albicosta), lagartas desfolhadoras (Pseudaletia spp., Spodoptera cosmioides, S. eridania), cigarrinha-do-milho (Dalbalus maidis), cigarrinha-das-pastagens (Deois flavopicta), percevejos  (Dichelops spp., Euschistus heros, Nezara viridula), tripes (Franceniella spp.) e pulgão-do-milho (Rhopalosiphum maidis), entre outros, não são controlados pelo milho Bt.

A mudança desses insetos para o milho Bt já é evidente em algumas regiões produtoras de milho no Brasil, com ataques na fase inicial, às folhas, e na fase de espiga. A partir deste novo cenário de pragas, o milho Bt deve ser adotado como parte do MIP (Manejo Integrado de Pragas), em que uma das principais ferramentas é o monitoramento constante da área e, por isso, em locais de alta pressão de pragas e em determinados híbridos pelos quais os insetos apresentem uma maior preferência, pode vir a ser necessária uma complementação com inseticidas específicos.

O milho Bt não dispensa o tratamento de sementes com inseticidas, que surge como uma ferramenta que complementa o MIP. Portanto, o tratamento de sementes com inseticidas é recomendável em qualquer circunstância, associado à tecnologia empregada no milho Bt, garantindo enraizamento, que é muito IMPORTANTE, proporcionando uma solução mais completa para o produtor e, assim, permitindo que as plantas expressem todo o seu potencial produtivo.

Vários fatores podem afetar a produtividade de um híbrido de milho e, entre eles, o ataque de pragas. Como o milho Bt apresenta elevada resistência a algumas lagartas específicas e mais a complementação com inseticidas se necessário, os danos causados por esses insetos serão minimizados. E, desse modo, a produtividade alcançada com o plantio do milho Bt  tem sido maior que a versão convencional do mesmo híbrido.

No Brasil, a taxa de adoção do milho Bt é de aproximadamente 70%, contribuindo significativamente para o aumento da produtividade alcançada atualmente pelos produtores e projetando atingir a meta de 15 t/ha, em 10 anos de sua adoção.

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