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RS: um PIB esperado



Argemiro Luís Brum
Causa estranheza a surpresa do governo gaúcho diante do PIB do primeiro trimestre de 2012, negativo em 1,8%. Isso porque, da forma como vem se comportando a economia nacional, somada à péssima safra de verão, ao recuo nos preços da suinocultura e à crise no setor, e ao péssimo desempenho da indústria do Estado, tal PIB não poderia ser diferente. E mais: já se pode indicar como tendência de que o PIB gaúcho do segundo trimestre venha a ser ainda pior, desenhando um PIB anual final negativo. E o tombo foi enorme, porque no primeiro trimestre de 2011, um ano antes, portanto, o PIB havia crescido 8,7%. Além disso, o desenho da queda na produção de riquezas pelo Rio Grande foi de constante recuo durante o ano passado, terminando o quarto trimestre com um crescimento de 5,7% (três pontos percentuais a menos do que o registrado no início do ano). Três constatações imediatas:


1) o setor primário, e o agronegócio gaúcho em geral, têm uma importância capital no PIB do Estado, fato comprovado pelo efeito da queda extraordinária, na agropecuária, de 27% apenas nesse primeiro trimestre em relação a igual período do ano anterior;

2) a ineficiência estatal é abissal, pois esperou o anúncio do PIB, passados quase sete meses do início do ano, para anunciar medidas de reação, a maioria, seguindo o governo federal, paliativas;

3) a indústria gaúcha vem definhando paulatinamente diante da crise em geral e das decisões federais em aceitar o protecionismo da Argentina em particular. Nesse último caso, por questões muito mais ideológicas do que técnicas, como já destacamos em comentário passado.

RS: um PIB esperado (II)

Além disso, surpreende o fato da indústria gaúcha anunciar igualmente que 35% delas se encontrar com estoques exagerados, confirmando um claro erro de avaliação quanto a capacidade de consumo do mercado interno brasileiro, somado a um erro de avaliação quanto a capacidade de exportação, mesmo diante de um Real desvalorizado em cerca de 20% a partir de março/12. Enfim, a tendência se desenha pior porque, além do efeito da seca se tornar mais evidente a partir do segundo trimestre, em especial no que diz respeito à soja, igualmente os dados do varejo nacional começaram a confirmar que o consumo interno se esgota.

Segundo o IBGE, as vendas no comércio varejista brasileiro recuaram 0,8% em maio passado, em relação a abril. Esse percentual é o maior desde novembro de 2008, ou seja, o maior em 42 meses. E o processo estaria apenas iniciando, com o agravante que no Rio Grande do Sul a situação é mais grave justamente devido a forte quebra na produção primária de verão. Nesse contexto, torna-se de absoluta necessidade que o clima colabore daqui em diante, e particularmente na futura safra de verão, para iniciarmos um processo de recuperação, mesmo que lento, já que em termos da economia geral as coisas ainda estão longe de se resolver. Isso porque o consumo interno não é mais a saída. É preciso mais competitividade e produtividade. Ora, sem investimentos produtivos, a começar pela infraestrutura, não temos como alcançar um novo patamar nessa área.


O Estado ineficiente e perdulário

No capítulo pela busca de um Estado nacional melhor preparado e competitivo, na lógica de se transformar em organizador e estimulador de um crescimento e desenvolvimento sustentáveis, o Brasil não só não avança como tem apresentado uma medíocre estagnação, com tendência a recuos exasperantes. Senão vejamos algumas das últimas notícias e estatísticas a respeito:

1) entre os 30 países que possuem a mais alta carga tributária do mundo, o Brasil é que dá o pior retorno em serviços à sua população (basta ver a saúde, a educação e a segurança pública, por exemplo), segundo estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT);

2) no ano passado recolhemos 34% do PIB em impostos, exaurindo as empresas e a população, além de estimularmos a sonegação, enquanto os demais integrantes do BRICS arrecadaram muito menos: Índia, 12%; Rússia, 19%; e China, 24%. Além disso, nosso sistema tributário, por absoluta falta de reforma, penaliza cada vez mais as classes pobres da população, já que 30% da carga tributária corresponde a impostos indiretos;

3) enquanto isso, a arrecadação absurda continua em todas as áreas, salvo em momentos de crise, quando o governo temporariamente se digna a reduzir a carga tributária visando melhorar o desempenho industrial e não exatamente a qualidade de vida do cidadão (segundo estudo divulgado em ZH do 17/07/12, p.3, 200 minutos de conversa no telefone celular pré-pago custa, no Brasil, R$ 270,00, contra R$ 46,00 na Rússia; R$ 32,00 na China e apenas R$ 8,00 na Índia. Ocorre que 45,4% das contas brasileiras nessa área são impostos, enquanto a média nos outros países é de 17% - quase três vezes menos);


4) tudo isso para sustentar um Estado inchado e que continua a inchar, piorando seus serviços, sem nenhuma reforma estrutural no horizonte (o Senado acaba de aprovar reajustes a 670.000 servidores federais, beneficiando 21 órgãos e entidades ligadas ao Executivo – grande parte cabides de emprego – elevando em R$ 1,65 bilhão o custo para o Planalto somente nesse ano).

E, pior: em 2013 a previsão anual de despesas é de R$ 2,71 bilhões em função dessa decisão. Que os servidores federais também precisam de reajuste salarial isso ninguém duvida, a questão é se o Brasil precisa de tantos servidores diante da qualidade dos serviços que nos são prestados.

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