A mandioca (Manihot esculenta Crantz) é uma planta nativa do continente americano, povavelmente do Brasil Central. Atualmente, é cultivada por muitos países, compreendidos por uma extensa faixa do globo terrestre, que vai de 30º de latitude Norte a Sul. Com uma produção mundial de mais de 120 milhões de toneladas anuais, é o sexto produto alimentar da humanidade, em volume de produção, depois do trigo, arroz, milho, batata e cevada. A mandioca ocupa o nono lugar na produção mundial de todos os cultivos e o quinto lugar dentre as culturas tropicais. A importância da mandioca no Brasil deve-se a sua ampla adaptação às diferentes condições ecológicas e ao seu potencial de produção. A raiz é largamente utilizada como fonte de carbohidratos, principalmente, na alimentação humana, sob as formas in natura ou de farinhas. Em menor escala, as raízes são utilizadas na alimentação animal e na indústria como amidos modificados. O uso da parte aérea da mandioca como fonte de proteína vegetal na alimentação animal ainda é insignificante.
Nos Estados do Acre e Rondonia, a mandioca é uma das culturas mais tradicionais, constituindo-se na alimentação básica de suas populações. Basicamente, sua exploração é realizada por pequenos produtores, sob diferentes formas, envolvendo o monocultivo e o consórcio com outras espécies, onde é marcante a forca de trabalho de origem familiar. Em 1996 a área plantada com esta cultura foi de 22.520 e 39.493 hectares, respectivamente, para Acre e Rondônia, sendo suplantada apenas pela cultura do milho no Acre e, arroz, milho e feijão em Rondônia. Resultados experimentais obtidos pela Embrapa Rondônia demonstraram ser possível a obtenção de rendimentos de raízes entre 30 e 35 t/ha/ano, o que representa 35 a 40 milhões de quilocalorias de energia digestível. Estes valores são muitas vezes superiores ao rendimento do milho, arroz e outros cereais adaptados às regiões tropicais. No entanto, a partir da utilização de novas tecnologias, tais como métodos de plantio, fertilização, introdução de cultivares mais produtivas, colheita e tratamento da mandioca, a produção comercial em grande escala poderá trazer uma significativa contribuição para o suporte regional de energia com relação à alimentação animal.
A alimentação constitui cerca de 80% do custe de produção dos suínos. A produção mundial de grãos de cereais não é suficiente para satisfazer a demanda na alimentação humana e animal. O milho é uma fonte de energia que tem ampla aplicação na alimentação humana, o que implica em baixa disponibilidade deste cereal para a alimentação animal. As raízes secas de mandioca contém, aproximadamente, 65% de água, 2,5% de proteína bruta, 3,5% de fibra bruta, 0,3% de gordura, 1,4% de cinzas, 30% de extrativos não-nitrogenados, 2.711 Kcal/kg de energia metabolizável e 75% de nutrientes digestíveis totais. Assim, os glicídios de sua matéria seca são facilmente digestíveis. O valor energético da mandioca desidratada é igual ao de outras raízes e tubérculos e pode substituir quase que totalmente os cereais na dieta de suínos em recria e terminação, desde que haja uma adequada suplementação com alimentos proteicos. Ainda pode ser utilizada como principal fonte de energia para porcas gestantes e lactentes.
A porção das folhas e da rama da planta é bem utilizada pelos ruminantes, ainda que apresente altos teores de fibra para os monogástricos. A raiz é muito palatável e pode ser administrada crua aos animais. Uma das altenativas para a conservação das raízes de mandioca para forrageamento dos animais é através da ensilagem. Nessa forma de conseervaçãoo perdura por vários meses e pode ser retirada aos poucos para o consumo dos animais, além de ter a vantagem de liberar áreas para novas culturas e comparar-se ao milho como fonte de energia em rações. A utilização de níveis de 20 e 40% de farinha de mandioca seca ao sol em substituição ao milho em rações de suínos em crescimento, proporcionou um desempenho zootécnico dos animais semelhante, indicando a similaridade entre a mandioca e o milho em termos de valor energético. Vários estudos realizados com o objetivo de avaliar o valor nutritivo da raiz de mandioca, fresca e fornecida à vontade, suplementada com proteína de origem animal, na alimentação de suínos em fases de recria e engora, demonstraram ganhos de peso e conversão alimentar semelhantes aquelas obtidas com o milho. Em média, 100 kg de raízes frescas podem substituir 27 kg de alimentos concentrados. A raiz da mandioca pode substituir integralmente o milho na alimentação de suínos, desde que as deficiências proteicas sejam supridas através de fontes vegetais ou animais de alta qualidade. Trabalhos conduzidos no Rio Grande do Sul constataram que o custo da alimentação para produzir 1 kg de peso vivo baixou de 8,48% a 11,73% para os suínos alimentados com raspa de mandioca e de 25,5% a 30,45% para os suínos alimentados com silagem de mandioca, comparativamente aos animais alimentados com milho.
As raízes e folhas da mandioca recém-colhidas podem ser ricas em substâncias tóxicas (ácido cianídrico - HCN). A dessecação no forno a 70-80ºC, a ebulição em água e a dessecação ao sol permitem reduzir o conteúdo de HCN da mandioca. O secamento em forno com baixos teores ou ausência de umidade elimina o HCN livre e destrói a enzima linamarase, a qual é necessária para hidrólisar o glucosídeo e formar HCN. O princípio tóxico linamarina, que gera o HCN é encontrado em todas as partes da planta, quer nas variedades mansas ou bravas, porém em maior quantidade na parte aérea que na subterrânea. Análises da presença de HCN na raiz de mandioca mostraram maiores teores no córtex (casca) do que na polpa (amido). As mandiocas com elevados teores de HCN perdem, facilmente, os princípios cianogênicos por exposição ao sol, nos casos de preparação de feno; por maceração ou cocção, nos casos de preparação das raspas ou amido. O teor de HCN pode variar de acordo com a idade da planta, natureza do solo, o clima e a altitude da região de cultivo. Em geral, a toxicidade atinge o ponto máximo durante a floração; deste estádio vai diminuindo, gradativamente, até a maturação dos frutos, podendo inclusive desaparecer em algumas variedades. Nos animais, os sintomas de envenenamento agudo por HCN são respiração acelerada e profunda, pulso acelerado, falta de reação aos estímulos externos, movimentos musculares espasmódicos e, em alguns casos, até a morte.
João Avelar Magalhães (Embrapa Meio Norte), Newton de Lucena Costa (Embrapa Amapá), Claudio Ramalho Townsend, Ricardo Gomes de A. Pereira (Embrapa Rondônia)