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Quem ganhou e quem perdeu no agronegócio em 2006


Eleri Hamer

Nós vivemos num país realmente interessante. Principalmente em se tratando de gerenciamento e os dados indispensáveis para tal. Poucas vezes as informações estão disponíveis quando as necessitamos; muitas vezes são ignoradas e as decisões são apoiadas somente no feeling; ou ainda mudam-se a metodologia e por conseqüência os dados para justificar o injustificável.

Esses fatos acontecem tanto na esfera pública como na maioria das empresas privadas. Neste sentido, pouco do que é produzido pode ser utilizado com confiança sem que se faça a checagem, inclusive avaliando metodologias, caso contrário, o incauto assume como verdadeira uma determinada informação, quando na verdade deveria ser outra.

Os novos dados do PIB brasileiro que foram publicados nesta semana, fazendo uma revisão para cima do nosso combalido crescimento econômico, nos dão uma idéia desses pontos. Outro exemplo está no relatório do IBGE que apontou crescimento do Agronegócio em 2006 da ordem de 3,2% ao passo que o CEPEA/CNA calculou 0,45%.

Vale lembrar que a metodologia que o IBGE adota e é utilizada amplamente pelo mundo tem como propósito analisar o desempenho dos volumes produzidos, travando os preços, fato que tem relativa relevância quando o negócio é entender se o processo produtivo cresceu ou encolheu.

Contudo, se o objetivo que mais nos interessa é analisar quem ganha e quem perde no Sistema Agroindustrial, é fundamental que se avaliem além dos volumes, as mudanças nos valores recebidos pelos respectivos elos das cadeias, e dessa forma infelizmente podemos dizer que em renda real o agronegócio cresceu menos de meio ponto percentual no ano passado.

Por fim ainda temos que lembrar que as análises macroeconômicas são desenvolvidas levando-se em consideração o ano civil (Jan/Dez) e quando na prática boa parte do setor primário, dentro do agronegócio, trabalha com o ano agrícola (jul/jun).

Isto posto, vamos aos números levantados pelo CEPEA em conjunto com a CNA. Consideremos os dados separados em pecuária, agricultura, agropecuária e o agronegócio que envolve os demais segmentos como indústria, distribuição e insumos.

Assim, o PIB da pecuária somou R$ 67,84 bilhões em 2005 e R$ 64,82 bilhões em 2006 apontando uma redução de 4,45%; a agricultura por sua vez passou de R$ 85,2 Bilhões para R$ 84,97 Bilhões o que significa uma redução de 0,27%.

No momento em que somamos os dados de agricultura e pecuária e estabelecemos uma média aritmética do PIB da Agropecuária percebemos que este passou de R$ 153,04 Bilhões para R$ 149,08 bilhões, o que expressa uma queda de 2,12% em relação ao ano anterior.

Neste momento começa a ficar fácil identificar quem ganhou e quem perdeu no agronegócio em 2006. Se o agronegócio cresceu 0,45% e a agropecuária perdeu 2,12%, a geração de renda somente pode ter ficado nos demais setores, notadamente no da indústria pós-porteira e no setor da distribuição.

A hipótese que tenha ficado no setor de insumos é refutada se expandirmos os dados fazendo uma análise separada da agricultura e da pecuária, e abrirmos as respectivas cadeias em sub-setores (primário-produção, insumos, indústria e distribuição). Neste momento podemos perceber que o setor de insumos antes da porteira amargou uma perda de renda da ordem de 1,25% (agricultura) e 4,84% (pecuária).

Resumindo, de 2005 para 2006, a pecuária perdeu renda em toda a sua cadeia, ou seja: 4,45% na produção, 4,84% no subsetor de Insumos, 4,76% na indústria e 4,91% na distribuição. No todo do agronegócio da pecuária houve uma perda de renda da ordem de 4,71%.

Particularmente neste setor, embora a competitividade tenha melhorado intensamente ao longo dos últimos 10 anos, ainda necessita de uma estrutura de coordenação da cadeia que permita maior rapidez nos ajustes exigidos pela concorrência mundial. Não é à toa que estamos falando a quase 10 anos em rastreabilidade e até agora o processo ainda está capenga.

No caso da agricultura a situação não foi muito melhor: os produtores perderam 0,27% e o setor de insumos 1,25%; ganharam a indústria e a distribuição, respectivamente 4,11% e 3,6%. O todo do agronegócio da agricultura ganhou 2,63% no ano de 2006 em relação a 2005.

Friamente, boa parte desses números apresentam o que muitos produtores vivem na prática, e percebe-se que conjunturalmente os dados não são muito animadores, principalmente quando observamos que em relação a participação do agronegócio no PIB os índices também estão em queda.

Esse processo de aperto que vivem principalmente os produtores pode ser explicado por um processo histórico que remonta, no Brasil, a década de 60 quando as principais cadeias e complexos agroindustriais começavam a se estruturar. A famosa tesoura de preços, defendida por Guimarães, onde o produtor estaria espremido: por um lado o setor que vende insumos e fatores de produção buscando a elevação dos preços dos seus produtos e que se caracteriza por um mercado oligopolizado (poucos controlam ou produzem) e de outro, depois da porteira, um novo processo de pressão onde busca-se pagar o menor possível, agora um mercado oligopsônico (pequeno grupo que controla o processo de compra). A renda do produtor, comprimida aí no meio.

A alternativa para mudar esse cenário está obviamente na eficiência dentro da porteira, mas principalmente no nível de organização e na elaboração de estratégias coletivas pelos produtores, capazes de estabelecer ganhos antes e depois da porteira. Nisso ainda precisamos melhorar.

Até a próxima semana, quando o futuro estará em campo – O agronegócio na próxima década.

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