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QUALIFICAÇÃO DE MÃO-DE-OBRA RURAL


Mario Hamilton Villela

Temos mostrado, em outros textos publicados, nossa preocupação com a qualificação da mão-de-obra para o setor primário. Quase sempre, a mão-de-obra rural é desqualificada e de baixo preparo cultural. Obviamente, há no campo no Rio Grande, contingente de trabalhadores rurais, razoavelmente, preparados, responsáveis e cumpridores de suas obrigações. No entanto, infelizmente, a regra não é esta. Ainda há muita gente trabalhando no campo sem nenhuma qualificação e escolaridade, portanto, totalmente, despreparada para assumir qualquer responsabilidade dentro de um estabelecimento agropastoril. Este problema deve ser enfrentado pelos nossos produtores rurais. Ele provoca, como conseqüência, dois óbices bastante sérios. Primeiro, verifica-se o decréscimo ou os baixos índices de produção e produtividades na unidade produtiva e, como decorrência, traz ao produtor constrangedores prejuízos. A outra constatação é entristecedora, pois esta mão-de-obra desqualificada, quando ocorre a racionalização do processo produtivo, não encontra mais mercado no campo, migra, então, para as áreas urbanas, provocando assim o alarmante e inatacável êxodo rural. Este enorme contingente humano, ao aportar na cidade, pela mesma razão que já não serviu mais ao meio rural, também, não é alocado no mercado ocupacional e gera, então, os terríveis problemas da miséria e outras mazelas das periferias de nossas cidades. Engrossam assim, as fileiras dos desempregados, despreparados na cidade, que passam a viver na mais degradante miséria, gerando as nefastas conseqüências vivenciadas no dia-a-dia da população citadina e por todos nós, sobejamente, conhecidas. É necessário que se estimule à implantação no campo, hoje, com mais intensidade, de instrumentos com vistas à preparação mínima desta gente, buscando-se, assim, a incorporação ao processo produtivo rural destes recursos humanos com condições mínimas de rendimento.

Deve-se buscar nos órgãos competentes, com o apoio total das entidades de classe, o maior número possível de treinamentos rurais para minimizar esse crucial problema vivenciado pela realidade rural do Estado.

Esse alerta tem importância relevante no atual contexto, pois com a chegada do MERCOSUL, esta nova, irreversível e desafiante problemática só poderá ser enfrentada com competência tecnológica. A preocupação com os desafios do MERCOSUL é, no momento, generalizado e até inquietante. Não foi só a metade Sul do Estado que não se preparou, adequadamente, para conviver com esta nova provocação, ou seja, a integração dos países do ConeSul. Parece, de um modo geral, que o Ro Grande e o País todo está descuidando esta importante e complexa questão, à exceção da locomotiva do Brasil, que é São Paulo e, talvez, o Estado do Paraná que, embora mais distantes dos dois parceiros mais importantes (Argentina e Uruguai), estão mais atentos e com melhores condições de infra-estrutura do que nós. Aliás, São Paulo, como sempre, lidera as coisas no País. Por que não temos esta mesma visão e capacidade empresarial?

O desenvolvimento, especialmente, de nossa metade Sul é preocupante. Enquanto municípios de outras regiões do Estado (metade Norte) crescem social e economicamente, a Região Sul permanece estacionada ou até mesmo, aumenta vertiginosamente os seus problemas socioeconômicos.

Apenas, como ilustração, a próspera e industrial Caxias do Sul, sozinha, responde por 6% da renda total do Estado. Este porcentual é superior a toda a renda gerada na região da campanha, onde estão municípios como Bagé e Dom Pedrito e a Fronteira Oeste.

Todos os municípios que mais crescem no Rio Grande estão na metade Norte do Estado.

Tudo isso revela, na região Sul, com muita clareza, a fragilidade de uma economia sustentada, apenas, por um, dois, ou poucos produtos.

Em suma, a economia agrícola do Estado, notadamente, da metade Sul tem que ser, repensada, na busca da maior diversificação possível obviamente, até aonde o clima, o solo, a localização e as condições de infra-estrutura permita.

Para construirmos essa saída, não só ante os desafios do MERCOSUL, existe um único caminho – a diversificação do processo produtivo com a implantação de agroindústrias (de transformações primárias), e isto esbarra, sem dúvida, na falta de preocupação de mão-de-obra qualificada.

Para rompermos com esse anacrônico desenvolvimento, há que existir uma decidida vontade política de transformação de todos, e toda sociedade entender que tem de inovar, mas, sobretudo, o homem se conscientizar da necessidade de mudar sua mentalidade.

* Engº Agrônomo e Prof. Me. da PUCRS – E-mail: [email protected]

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