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Propriedade da terra e fusões rurais! (Final)


Amado de Olveira Filho
Na semana passada, discutimos a importância da terra juntamente com o capital e o trabalho, formando o trinômio básico dos fatores de produção. Tratamos da particularidade da terra na geração de riquezas. Discutimos também a probabilidade de revisão da teoria econômica de David Ricardo quando os proprietários passarem a ser remunerados pela prestação de serviços ambientais. Avaliamos ainda a necessidade de investimentos em infra-estrutura de transporte e concluímos por questionar as fusões e outras formas de parcerias de uso da terra que estão se verificando em Mato Grosso.
Neste artigo, tentaremos avaliar quais as implicações disto em longo prazo e ainda, quais as contribuições para a sustentabilidade da agricultura no Estado de Mato Grosso. Segundo os próprios produtores com quem conversei, existem sérios riscos de ao final não dar certo, porém, muitos deles não viram alternativas, a não ser de firmar parcerias com grandes empresários do ramo e, como afirmamos anteriormente, até mesmo com quem não é do ramo. Ou arrendava ou parava!
Um deles afirmou que logo de início a possibilidade de lucro é extraordinária para o arrendatário, pois, mesmo sem recursos o proprietário mantém uma espécie de poupança de adubos no solo e assim, com um pouco mais se produz a próxima safra que, se aliada a bons preços e ao ganho de escala, geram lucros acima da média. Sem sombras de dúvidas um bom negócio! Alertou, no entanto, o mesmo produtor, que quem arrenda suas terras deve ter muito cuidado ao receber de volta, sob pena de ter que investir pesado para voltar a produzir.
Um sério problema que afetará os produtores que não aderirem às parcerias é o de escala, vez que, desta forma os grandes arrendatários se tornarão maiores e terão a seu favor a infra-estrutura ferroviária, terão maior acesso a crédito. Já aqueles que não estiverem sob o guarda-chuva destas parcerias concorrerão com estes diante de todo o mercado, desde a compra de insumos até a comercialização da produção.
Recebi um email bastante claro sob o aspecto das oportunidades. Nele, o produtor pergunta se o BNDES ou qualquer outro Banco daria a mesma atenção que normalmente é dada a um grande investidor da agricultura a um médio produtor de soja no Estado de Mato Grosso. Claro que este produtor de menor escala não terá as mesmas chances de um grande investidor, no entanto, frisa o produtor: “a soma de todos nós, ainda é maior que os grandes que freqüentam os gabinetes de Cuiabá e Brasília”.
Outra conseqüência que podemos antecipar é a repentina redução ou mesmo a saída da atividade de determinados grupos empresariais. Isto pode acontecer, afinal a crise internacional de crédito não afeta apenas o meu e seu bolso, caro leitor, afeta o bolso de todos. Ao acontecer isto, os produtores deixarão de receber renda de seus atuais parceiros e não estarão com nenhuma engenharia financeira para sua próxima safra.
Reduzindo a produção agrícola do Estado, chegamos finalmente, aos entes públicos! Seguramente arrecadarão menos e como, via de regra, suas despesas aumentam a cada ano, quer por aumento do quadro de pessoal ou salarial, as contas também não fecharão e, o que acontecerá após isto, já é uma história conhecida de todos, especialmente, dos funcionários públicos.
De todos os produtores rurais ouvidos, a maioria absoluta entende que a prática não dá a necessária sustentabilidade à produção agrícola do Estado, porém, como disseram muitos, não dá para mensurar o tamanho do problema que será criado. Sabem, no entanto, que algo de importante deve ocorrer, especialmente advindo do Congresso Nacional e do Governo Federal, afinal, quem deseja a derrocada da agropecuária brasileira?
Uma coisa é certa, o mundo precisa de alimentos e Mato Grosso sabe fazer!

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