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Potencialidades dos Ecossistemas do Amapá



Newton de Lucena Costa

Cerrados

O Amapá possui cerca de 1,2 milhões de hectares em cerrados, situados numa faixa norte-sul de 400 km de extensão. Atualmente é utilizado somente com pecuária extensiva (uma cabeça para cada cinco hectares) e plantio de pinus e eucalipto para a produção de cavaco para celulose. É o ecossistema que apresenta os menores impactos ambientais para a produção de grãos para abastecimento interno e exportação, bem como o que requer o menor investimento para sua exploração comercial. Os solos, apesar da baixa fertilidade e elevada acidez, em sua maioria apresentam boas características físicas para a mecanização agrícola.

Estes são os cerrados amazônicos que estão mais próximos de portos para exportação e já possuem uma boa infra-estrutura para a importação de insumos a preços competitivos e para o escoamento da produção:

- a principal rodovia do estado, a BR-156, está localizada na parte central da faixa de cerrado, possuindo 150 km asfaltados, sendo que o restante deverá ser asfaltada nos próximos dois anos (conforme acordo assinado na visita do Presidente Francês ao Brasil);

- a ferrovia que foi utilizada para transporte de minérios de Serra do Navio, que atualmente está sendo desativada por falta de produtos para transporte que viabilizem sua manutenção, possui uma extensão de 120 km na região de cerrados;

- os portos para embarque de minérios, cavaco de pinus para celulose e embarque e desembarque de containers, podem ser adaptados para o embarque de grãos; e

- O Amapá está localizado na porta de entrada do Rio Amazonas, por onde trafegam os navios utilizados pelo terminal graneleiro de Itacoatiara-AM, o qual está localizado cerca de 1.000 km de distância do Porto de Santana. O terminal de Itacoatiara possibilitou a redução no custo de frete em 30% para a soja produzida ao norte de Mato Grosso viabilizando a produção de grãos, principalmente da soja, em toda a região de cerrado da Amazônia Ocidental (Rondônia, Amazonas, Roraima e áreas de pastagens degradadas do Acre).

Uma limitação para exploração dos cerrados do Amapá com a produção de grãos é o alto preço dos insumos agrícolas, principalmente calcário e fertilizantes. Neste caso há um círculo vicioso; se de um lado não há demanda por calcário e fertilizantes porque não há oferta a preços competitivos, por outro lado não há demanda suficiente para fazer frente a implantação de um sistema com um tamanho mínimo considerado econômico para o fornecimento de calcário e fertilizantes.

Várzeas do Estuário Amazônico

Grande parte da Região do Estuário Amazônico está sobre a influência econômica do Amapá, sendo que no estado este ecossistema representa 4,8% de sua superfície. O ecossistema de várzeas da Amazônia tem sido relegado a segundo plano nas políticas de desenvolvimento regional das últimas décadas. Os principais eixos de desenvolvimento foram estabelecidos ao longo das rodovias abertas nos anos 70. No entanto, historicamente este ecossistema foi a principal fonte de recursos naturais para a região. A falta de opções de utilização sustentada do ecossistema de várzeas, baseada na exploração racional dos recursos naturais, tem inviabilizado o desenvolvimento sócio-econômico das populações ribeirinhas.

As várzeas do estuário possuem grande potencial para exploração de recursos naturais, especialmente frutas, madeira, palmito e sementes oleaginosas. Os açaizais são um recurso florestal não-madeireiro das várzeas do estuário amazônico, seu principal produto até o final da década passada era a exploração do palmito, no entanto esta atividade vem sofrendo reduções consideráveis, sendo que atualmente a produção anual está em torno de 10% dos volumes comercializados no final da década passada. Por outro lado, observa-se um incremento anual da exploração de açaizais para fruto, pela abertura de novos mercados no centro-sul do país. Provavelmente esta palmeira seja a de maior importância cultural, econômica e social na Região Norte. Estudos de mercado apontam que o aumento da demanda de polpa do fruto do açaí por outras regiões é crescente, tornando essa espécie uma interessante alternativa de desenvolvimento e riqueza no meio rural. O desenvolvimento de tecnologias de manejo, recuperação e cultivo de açaizais e de processamento de frutos aumentará a eficiência do sistema produtivo de polpa de fruta do açaí, tornando-a mais competitiva para os mercados interno e externo. Este recurso não-madeireiro das várzeas amazônicas poderá contribuir para a melhoria do nível de vida das populações ribeirinhas pelo aumento da renda dos produtores, além de se tratar de uma exploração florestal sustentável que preserva o frágil ecossistema de várzeas da degradação ambiental.

A maior parte da madeira consumida no Amapá é proveniente das florestas de várzeas, sendo que a exploração de forma seletiva usada, está esgotando o potencial de algumas espécies, constituindo em demandas ambientais preocupantes, pelos riscos que representam tanto para o equilíbrio da biota, quanto para a sustentabilidade das populações ribeirinhas. O desenvolvimento tecnológico desta exploração, com utilização de técnicas de manejo sustentável, deve pautar as políticas de desenvolvimento para o setor.

Dada a melhor fertilidade dos solos desta região, há possibilidade de sua utilização para produção agrícola em pequena escala, visando o abastecimento das comunidades ribeirinhas. Há também grande potencial pesqueiro e de piscicultura.

Floresta de Terra-Firme

Este ecossistema ocupa 76% do Amapá, sendo que apenas 3-4% foram utilizados para atividades agropecuárias ou de mineração. A importância econômica desse ecossistema é ressaltado pelo seu grande potencial em fornecer matérias-primas destinadas, principalmente, à industria madeireira, e em menor escala à industria oleaginosa, resinífera, aromatizante, corante e medicinal.

Cerca de 30% das florestas de terra-firme são unidades de conservação de uso direto (Floresta Nacional, Reservas Extrativistas e Indígenas), onde é permitido a exploração racional dos recursos. Somam-se a esta área as reservas legais dos assentamentos e outras propriedades (hoje 80% da propriedade). Desta forma, a floresta com seus recursos madeireiros e não madeireiros representa o mais abundante recurso natural disponível no Estado. A exploração madeireira neste ecossistema é somente para abastecimento interno, sendo muito abaixo de sua potencialidade. Dada a localização do Amapá em relação a outros estados da Amazônia, a exploração madeireira de forma sustentada poderá apresentar boas perspectivas de competitividade, especialmente para as comunidades tradicionais, através de sistemas de manejo comunitário.

Prognóstico

Uma análise crítica e realista, baseada no cenário atual e aqueles vislumbrados a curto e médio prazos, permite a identificação de diversas oportunidades atuais e potenciais, as quais poderão desempenhar um papel de relevante importância para a consolidação da Embrapa Amapá como instituição de pesquisa comprometida com o desenvolvimento sustentável dos setores agropecuário e florestal. Dentre os mais importante, podem ser citados:

· possibilidades de obtenção de apoio nacional e internacional para pesquisas em manejo sustentável de recursos naturais;

· preocupação de organismos nacionais e internacionais quanto à degradação do meio-ambiente em decorrência dos sistemas de uso da terra;

· necessidade de recuperação de extensas áreas já utilizadas e que estão degradadas ou em fase de degradação;

· existência de grandes áreas de pastagens degradadas que necessitam de tecnologias para torná-las novamente produtivas através de sistemas adequados de manejo e utilização;

· carência de informações sobre sistemas agroflorestais;

· existência de programas regionais de incentivo à geração e uso de tecnologias;

· possibilidade de uso da infra-estrutura física de empresas privadas e instituições governamentais ou não para a condução de projetos de pesquisa e desenvolvimento;

· preocupação da sociedade com a pobreza e viabilização da pequena produção agrícola;

· demanda cada vez maior de assessoramento e consultoria técnica por parte de organizações públicas e privadas.

Newton de Lucena Costa, Silas Mochiutti – Embrapa Amapá 

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