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Política agrícola e o descompasso governamental


Eleri Hamer

O Brasil é administrado no curto prazo. Vivemos no longo prazo e gastamos no curto. Os resultados, esses sim, queremos no curto prazo. Para isso, alguém precisa pensar no longo prazo.

A política agrícola brasileira é um exemplo. Na prática ela nem deveria se chamar assim. Políticas públicas ou empresariais nos remetem a pensar no longo prazo. Tem relação com uma filosofia de desenvolvimento. A nossa política agrícola não passa de um planejamento de curto prazo e por isso leva o nome de Plano Agrícola e Pecuário.

Reproduz-se no governo o que é prática na maioria das empresas. Não possuímos planos apoiados em políticas de país. Temos planos anuais ancorados em políticas de governo e de poder. Uma lástima. O País tem sido pródigo em reproduzir esse modo de governar em todas as esferas de poder. Perpetuar para não perder poder.

É bem verdade que os planos apresentam-se em rota ascendente melhorando a cada edição. Mas na prática, a cada ano, são negociados e elaborados entre as partes (pecuaristas, agricultores, o governo, as indústrias, dentre outros) o que demonstra que de política agrícola na verdade temos pouco.

O que se tem acompanhado é um processo de tiro ao alvo. Com um pequeno detalhe. Primeiro atiramos e depois colocamos o alvo. Dito de outra forma, o agronegócio se desenvolve, de um lado as ações públicas são desencadeadas e de outro a iniciativa privada empreende as suas atividades. Mais adiante se procuram estabelecer relações entre as partes. Assumem-se conseqüências de causas não relacionadas.

A Política Agrícola Comum – PAC, da União Européia (não o nosso pseudo famigerado) por exemplo, foi elaborado a mais de 50 anos e vem sendo reformulado periodicamente para continuar a atender as expectativas e necessidades oriundas das mudanças na sociedade nesse período.

Faz três décadas que a PAC tem apostado na agricultura como fonte de culturas para produção de combustíveis. E o nosso programa de biocombustíveis? Até agora ainda falta muito para ele efetivamente sair do papel. E mais: não estamos preparados para enfrentar a velocidade e agressividade com que os demais players pretendem jogar.

Os governos tem tido o péssimo hábito de prometer algo que de antemão já se sabe que não vai ser possível fazer. Às vezes por que no meio do caminho será mudado por influência política ou por que realmente não é exeqüível. O apagão aéreo e as mirabolantes soluções apresentadas até agora são um exemplo de como as coisas funcionam.

Nós somos um dos poucos países no mundo que possuem Ministério da Agricultura e também Ministério do Desenvolvimento Agrário. Como país rico, nos damos a esse luxo de criar novos cabides empregatícios.

Infelizmente pensamos em política agrícola e política agrária de forma separada. Como se pudéssemos separar as duas questões. Como se uma não influenciasse a outra. Por isso não é de se admirar que fomentemos a discussão separatista entre Agricultura Familiar e Agronegócio.

Embora já se tenha ouvido várias vezes questionamentos sobre a efetiva necessidade de uma Política Agrícola numa economia de mercado, essa pergunta tem resposta óbvia. Precisamos sim. E cada vez mais. Mas de cunho desenvolvimentista e não assistencialista.

Se levarmos em consideração a importância sócio-econômica que o setor representa para o país e as dificuldades enfrentadas por quase todos os setores e níveis agropecuários, já seria suficiente para dizer que uma efetiva política agrícola ou política para o agronegócio é algo estratégico para os interesses da nação. É óbvio que alguns setores necessitam de estímulos não intervencionistas do Estado para suportar a economia auto-regulada.

Em relação a bagunça na gestão pública, o atual governo tem se revelado magnânimo. Está instalada uma grande crise de confiança em todos os setores e poderes. Parece que o governo está perdido. A percepção é de que poucas vezes se conseguiu reunir uma equipe de gestão pública tão inábil quanto esta. A começar pelo chefe-mor. As propostas escassearam e o governo está morrendo por inanição. Pouquíssimos técnicos de reconhecimento internacional estão no governo ou se interessam em estar. Trocam-se diretores e pastas entre si. Não há oxigenação.

O Brasil vai bem porque o vento da economia mundial até agora sopra a nosso favor, mas em contrapartida não estamos nos preparando para quando o vento virar. Pelo contrário, estamos deitados em berço esplêndido.

Já vimos esse filme.....boa semana e até a próxima.

Eleri Hamer é Mestre em Agronegócios, Professor de Graduação e Pós-Graduação, desenvolve Palestras, Educação Executiva e Consultorias em Gestão Empresarial e Agronegócio. Home-page: www.elerihamer.com.br E-mail: [email protected]

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