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Poderá não ser coincidência



Argemiro Luís Brum
A partir de setembro terminam as férias de verão na Europa e a realidade sobre a crise econômica na região deverá se cristalizar. Aparentemente a mesma continuou a fazer estragos, agora na Espanha em particular, a tal ponto que o governo local teme repetir o que já vem ocorrendo na Grécia. Assim, a Espanha tem medo! Talvez sem razão, pois o país dispõe de um Estado que funciona, capaz de reduzir impostos para provocar maior demanda interna e, mesmo, de impor reformas estruturais. Mas o remédio será amargo. A austeridade necessária será sem precedentes, já que uma redução de despesas de 65 bilhões de euros precisa ser feita.


E isso não deixará de ter duras consequências na vida dos espanhóis. Mês a mês a economia local afunda na recessão. As cifras econômicas se assemelham às vistas na Grécia. O desemprego atinge um jovem a cada dois, havendo um total geral de 25% de pessoas ativas sem emprego no momento. Desde 2007, a falência de empresas locais aumentou em 400%. Assim como outros nessa situação, o país ibérico paga pelos seus anos de gastos desenfreados. Paga por uma bolha imobiliária que estourou e que sangra a economia local, assim como ocorreu nos EUA e em outros países. A cura para isso tudo levará anos, e a população pressente isso e tenta resistir contra as medidas de ajustes impostas pelo governo, pressionado pelo FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia. É preciso limpar os bancos minados por 184 bilhões de dívidas problemáticas. Será preciso desendividar as famílias.

Poderá não ser coincidência (II)

Afinal, a taxa de empréstimos destas famílias ultrapassa a renda disponível. É preciso desintoxicar a economia de sua dependência para com o setor imobiliário e a construção civil, galinha dos ovos de ouro do sistema espanhol nos últimos 10 anos. Será preciso reconstruir uma indústria diversificada. Para tanto, o governo aplica a receita ortodoxa: aumenta os impostos e corta despesas. Porém, o faz muito e mal, repetindo a Grécia e outros tantos. As medidas atingem a educação, que já anda mal. Congela os investimentos em infraestrutura, reduz as despesas em pesquisa e desenvolvimento. Ou seja, coloca em perigo o seu futuro econômico, exatamente o que é preciso preservar. O governo espanhol, na ânsia de solucionar a crise que a farra dos gastos o colocou, age sobre as capacidades futuras do país.


Para piorar, os mercados não acreditam mais nas medidas e cobram cada vez mais caro pelos erros econômicos que a Espanha realizou no passado recente. O preço: reduzir os déficits sem se preocupar com o modo de fazê-lo. Ora, o modo, assim como na Grécia, penaliza em demasia a sociedade e compromete por gerações o futuro da Nação. O grande erro da Europa, que foi deixar a Espanha e outros países se iludir por anos com um crescimento artificial, pode estar sendo corrigido com um novo erro, na lógica de que o remédio pode matar o paciente. O correto teria sido o país não entrar nessa armadilha de gastar acima de suas possibilidades. Guardadas as proporções, se o Brasil olhar hoje o horizonte enxerga a Grécia e a Espanha, e isso não é coincidência.

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