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Pesquisa Agropecuária e Meio Ambiente



Newton de Lucena Costa

O mundo moderno, atualmente, vem passando por grandes e rápidas transformações, onde a competitividade é fator crítico e determinante para a sobrevivência das organizações. Logo, o processo de modernização se faz cada vez mais presente na produção, na transformação e processamento, no armazenamento e comercialização. Por outro lado, os produtores e consumidores estão cada vez mais conscientes e, portanto, mais exigentes. Com isto, as empresas de pesquisas, responsáveis pela geração e/ou adaptação de tecnologias, serviços, produtos e conhecimentos são cada vez mais requisitadas.

A pesquisa agropecuária e florestal que constitui o negócio da Embrapa Amapá, detém um papel fundamental no desenvolvimento estadual, pois ao disponibilizar alternativas tecnológicas viáveis, propicia o desenvolvimento sustentável da sua agropecuária, conciliando produção com preservação ambiental, o que representa um recurso estratégico para o combate à crise social e econômica. A sustentabilidade da Embrapa Amapá está na capacidade de responder às demandas propostas e oferecer aos governantes e à sociedade em geral, a oportunidade de encontrar dentro desta Instituição o respaldo necessário ao desenvolvimento tecnológico da agropecuária estadual.

Com o agravamento dos problemas ambientais das áreas rurais as demandas para a pesquisa agropecuária aumentam, visando tanto produtos agrícolas e processos produtivos ambientalmente sadios, quanto a recuperação ou regeneração de ambientes degradados. Entre os principais problemas ambientais que farão parte da agenda da agricultura brasileira dos próximos anos, muitos de difícil solução pelo seu caráter difuso e multifacetado, podem ser enumerados:

a) perda da biodiversidade e de serviços ambientais pela expansão da agricultura nas áreas de "fronteira" ou ainda ocupando ambientes frágeis, levando a uma irreversível perda de revestimento florístico e recursos associados;
b) poluição/contaminação do meio biótico, abiótico e do homem, em especial com agrotóxicos, fertilizantes químicos e resíduos orgânicos, tendo-se como grandes sinalizadores os resíduos de agrotóxicos e nitratos em águas subterrâneas e resíduos de agrotóxicos em alimentos;
c) erosão e degradação física, química e biológica do solo, perda da sua capacidade produtiva e riscos de desertificação;
d) aparecimento de novas pragas e doenças e aumento da resistência dessas aos agrotóxicos;
e) ruptura irreversível dos sistemas tradicionais, naturais ou quase-naturais, de manejo de recursos;
f) pressão antrópica para o ocupação e sobreuso de ecossistemas e ambientes frágeis – e áreas protegidas –, levando a processos de degradação;

As tendências recentes sinalizam alguns eixos que orientarão a atuação da Pesquisa Agropecuária na busca de sistemas agrícolas em direção aos objetivos de sustentabilidade: i) insumos alternativos, ambientalmente mais brandos e que reduzam contaminantes; ii) tecnologias de alta precisão, que reduzam desperdícios de insumos; iii) práticas de manejo ambiental e novos equipamentos, que melhorem a eficiência dos sistemas de produção e reduzam contaminantes; iv) tecnologias agroecológicas, que tragam novos desenhos e o equilíbrio ambiental para os sistemas produtivos; v) sistemas integrados de produção, que aumentem a diversidade biológica e o sinergismo interno; vi) tecnologias de regeneração/  biorremediação, que viabilizem a recuperação de ambientes ambientes degradados/ poluídos; vii) ordenamento territorial e seus instrumentos, que otimizem o uso dos recursos naturais; viii) tecnologias pós-colheita e de comercialização, que minimizem perdas de produtos e agreguem valor a partir da diferenciação ambiental dos produtos agrícolas e processos produtivos; ix) sistemas de gestão e certificação ambiental, que construam a competitividade a partir de estratégias pró-ativas, de prevenção e antecipação de problemas ambientais.
Em termos perspectivos, vale lembrar que, se de um lado, são notáveis os avanços dos sistemas agroecológicos, agora rompendo com os limites de escala e do conjunto de produtos hortigranjeiros – caso de soja, milho, citros, cana-de-açúcar, dendê, carne bovina entre outros; de outro há também uma contínua introdução de tecnologias mais brandas nos sistemas convencionais – tendo-se como exemplo de sucesso o manejo integrado de pragas e doenças abrangendo um espectro cada vez maior de culturas e criações, o manejo do solo e água com abordagem de bacias hidrográficas, a consolidação dos sistemas de plantio direto, entre muitos outros.
Os esforços governamentais relacionados com o desenvolvimento sócio-econômico das regiões tropicais, utilizando tecnologias tradicionais, tem sido associados ao estabelecimento de níveis expressivos de degradação do meio ambiente. A implementação de uma política de desenvolvimento rural sustentável tem sido uma tarefa difícil, uma vez que se fundamenta na adoção de um enfoque sistêmico, no qual diversos aspectos devem ser contemplados, tais como: 1. viabilidade biológica; 2. viabilidade econômica; 3. aceitabilidade social; 4. vontade política; 5. respeito pelo ambiente; 6. equidade dentro e entre gerações; 7. disponibilidade tecnológica e, 8. aplicabilidade prática.

Na concepção das políticas e programas voltados para o desenvolvimento sócioeconômico, devem ser consideradas algumas tendências do cenário global da economia de mercados, que, entre outras, apresenta as seguintes macrotendências:
· produção de bens respaldada em conhecimento técnico-científico atualizado e com utilização de recursos humanos
capacitados, constituem atributos para torná-los mais competitivos;
· políticas de desenvolvimento com integração de esforços sócioeconômicos dentro dos mercados nacionais, regionais e globais;
· disponibilidade de um expressivo volume e facilidade de acesso à informação técnico-científica através das modernas técnicas de comunicação global existentes;
· redução do tempo médio para transformação da ciência em tecnologia;
· priorização da condição de sustentabilidade nos projetos de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D)
· adoção de prioridades de P&D para atender às crescentes demandas de alimentos provocadas pelo crescente aumento populacional, dentro dos princípios de conservação e qualidade ambiental de interesse para as próximas gerações;
· reforma do Estado com maior participação da sociedade nos processos decisórios e na competição por recursos públicos;
· participação do setor privado no financiamento de projetos de Ciência & Tecnologia (C&T)

A adoção de uma estratégia de desenvolvimento sócioeconômico da Amazônia, alicerçada no desenvolvimento sustentável, tem sido sinalizada pela SUDAM. Neste modelo, a interação inovadora entre os processos produtivos e a organização social em relação à natureza deve provocar uma profunda alteração da estrutura produtiva da região e, conseqüentemente, em uma reorientação tecnológica e organizacional dos segmentos tradicionais do setor produtivo. Como condição para viabilizar este modelo, três linhas prioritárias e complementares, voltadas para a reestruturação do setor produtivo, foram identificadas: 1. renovação tecnológica das atividades econômicas de reconhecido impacto ambiental; 2. modernização e dinamização das atividades tradicionais ecologicamente sustentáveis; e, 3. desenvolvimento e implantação de novos ramos e atividades com potencial econômico e de sustentabilidade.

A programação institucional adotada pela Embrapa para sustentar as políticas e programas governamentais para o desenvolvimento rural sustentável está fundamentada na interação de três políticas fundamentais: 1. política de P&D destinada a gerar e assegurar a qualidade de suas tecnologias, seja na forma de produtos, práticas, processos e serviços; 2. política de vendas ou distribuição destinada a garantir à sociedade o adequado acesso às tecnologias disponíveis; e, 3. política de comunicação empresarial destinada a garantir à sociedade o conhecimento das ações institucionais que vem realizando e, ao mesmo tempo, manter a instituição bem informada sobre as demandas dos diferentes segmentos da sociedade.

Na administração destas políticas a Embrapa recomenda que todas as ações institucionais sejam pautadas sobre um conjunto de princípios estratégicos: 1. parceria como mecanismo de interação e fortalecimento institucional; 2. enfoque sistêmico de modo a estabelecer uma visão global e holística do setor, das cadeias produtivas, dos sistemas de produção e dos sistemas biológicos no estabelecimento de suas ações; 3. P&D como compromisso de não apenas gerar conhecimento científico (ciência) mas, principalmente, de transformá-lo em produtos, práticas, processos e serviços que possam ser apropriados pela sociedade (tecnologia); 4. demanda, de maneira que as ações de P&D sejam voltadas para o mercado; 5. cadeia produtiva para ter como referencial de análise não apenas o sistema de produção dentro de uma propriedade rural, mas a conformação e as tendências de toda a cadeia produtiva; 6. sustentabilidade para que as soluções desenvolvidas tenham como objetivo final o desenvolvimento rural sustentável nas suas dimensões econômica, ecológica, social e biológica; 7. qualidade total, em especial na organização do trabalho, fundamentado na gerência de processos para otimizar os recursos utilizados com maior flexibilidade organizacional e garantir resultados mais satisfatórios para os clientes e/ou usuários.

Para a consecução de melhores níveis de sustentabilidade do desenvolvimento agropecuário e florestal da Amazônia, o cenário desejável deve contemplar:
- desenvolvimento agropecuário e florestal com o máximo possível de conservação de recursos naturais;
- redução dos desmatamentos com utilização das áreas já alteradas
- agregação de valor ambiental nas atividades agropecuárias e florestais
- aumento da intensificação do uso da terra
- aumento da agrodiversidade para o aproveitamento da biodiversidade e das vantagens comparativas ecológicas, sócio-econômicas e culturais
- aumento da eficiência do uso da terra e da mão-de-obra
- desenvolvimento da agroindústria e da bioindústria
- verticalização do desenvolvimento agropecuário e florestal
- melhor distribuição de renda

 

Newton de Lucena Costa - Embrapa Amapá

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