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Pesquisa Agropecuária e a Redução dos Desmatamentos


Newton de Lucena Costa

O rápido crescimento da população mundial levou à necessidade de grandes incrementos da produção agropecuária, os quais vêm sendo obtidos através da aplicação intensiva de novas tecnologias e pela conquista de novas fronteiras agrícolas. Contudo, tem-se observado efeitos negativos, principalmente com a degradação dos ecossistemas, até então estáveis e harmônicos. O crescimento demográfico e a pobreza não são as únicas causas das altas taxas de desmatamento na Amazônia. Forças e processos externos, tais como a expansão das plantações comerciais, fazendas-pecuárias, madereiras e mineração também atraem migrantes impelindo os mesmos para a exploração de uma agricultura itinerante, baseada no binômio derruba e queima, o que contribui para acelerar os níveis de desmatamento. Na África a expansão do cultivo dos produtos exportáveis (castanhas, algodão, café, cacau) reduziu consideravelmente as áreas disponíveis para a exploração de culturas alimentícias, aumentando a pressão sobre as florestas e reduzindo o período de descanso da terra, com vistas à sua recuperação, em termos de fertilidade e, consequentemente, retorna a condição produtiva. A exploração de essências florestais de alto valor comercial para atender principalmente, os mercados europeu americano e japonês, é fator agravante dos desmatamentos na América Central, Brasil, Bolívia, Nigéria, Costa do Marfim, Indonésia, Malásia e Filipinas. Na América Latina, a derrubada da floresta é uma das alternativas para os posseiros documentarem a propriedade legal das terras ocupadas, incentivando as derrubadas anti-econômicas e a especulação financeira. Ademais, a construção de estradas e outras obras de infra-estrutura necessárias ao planejamento estratégico de atividades agrícolas, também tem contribuído para acelerar as taxas de desmatamento. No Brasil, mudanças na política governamental, eliminando ou reduzindo os incentivos fiscais na região Amazônica, proporcionou uma considerável redução no desmatamento

A busca por alternativas tecnológicas, aplicáveis e compatíveis com as particularidades ecológicas da Amazônia, como por exemplo a inclusão de componentes arbóreos e arbustivos para uso múltiplo, deve ser, incansavelmente, identificados, avaliados e difundidos, visando estabelecer objetivamente a necessidade de utilização adequada e racional dos recursos naturais e, consequentemente, reduzir a níveis aceitáveis os impactos ambientais decorrentes da exploração agrícola, bem como subsidiar no planejamento da recuperação de áreas já degradadas. Neste contexto, cabe à Pesquisa Agropecuária o papel de viabilizar e tornar factível tais soluções. A Pesquisa deve visualizar, não apenas o aumento da produtividade, como no passado remoto (Revolução Verde), nem a eficiência econômica, como no passado recente; deve-se dar ênfase total a sustentabilidade.

Os novos sistemas de produção devem ser viáveis, tanto em termos agronômicos, como em termos sociais, econômicos e ecológicos, simultaneamente, no curto e no longo prazo, alcançando sustentabilidade e crescimento da produção como metas compatíveis. O aumento da produtividade nas áreas de agricultura tradicional e/ou itinerante é a forma mais óbvia de se reduzir a pressão antrópica sobre a devastação das florestas. Logo a pesquisa científica destinada a aumentar a produtividade agrícola deve merecer alta prioridade. No entanto, qualquer ação de pesquisa que não considere a sustentabilidade dos ecossistemas estará condenada ao fracasso como inaceitável ao futuro da humanidade. O desafio a ser superado é o de reduzir a agressão da agricultura intensiva sobre o meio ambiente e explorar as regiões de fronteira para o bem-estar econômico e social do país, evitando seu esgotamento, causado pelo uso inadequado de práticas agrícolas.


Newton de Lucena Costa - Chefe Geral da Embrapa Amapá

 

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