Parte 5. Redução de Queimadas em Pastagens da Amazônia Ocidental. Culturas anuais na renovação de pastagens
O fogo é uma prática utilizada para a limpeza da pastagem em substituição aos métodos físicos ou químicos de controle das plantas invasoras, devido ao baixo custo operacional. A utilização de queimadas em pastagens cultivadas tem como objetivo eliminar restos de massa seca com grande proporção de talos que não foram consumidos pelos animais durante o período seco e, ao mesmo tempo, proporcionar uma nova rebrota, com forragem de melhor qualidade. As alternativas tecnológicas desenvolvidas para a recuperação de pastagens degradadas contemplam, em sua grande maioria, correção e adubação do solo, associadas à sua movimentação, com implementos agrícolas para a remoção de possíveis camadas compactadas de solo. A utilização de culturas anuais como o milho, milheto, arroz e soja, implantadas em pastagens degradadas e dentro das recomendações técnicas específicas, tem possibilitado o restabelecimento da capacidade produtiva das pastagens e a produção de grãos durante um ou mais ciclos de cultivo.
A recuperação das pastagens é de grande importância, pois com a sua intensificação pode-se reduzir a expansão em áreas de florestas, propiciando benefícios de ordem ecológica (preservação da floresta), econômica (custo de formação de pastagem maior que o de recuperação) e social (necessidade de mão-de-obra). Pesquisas realizadas na Embrapa Amazônia Oriental apontam alguns aspectos a serem considerados para o êxito da exploração de pastagens em solos ácidos de baixa fertilidade nos trópicos úmidos, tais como: 1) adaptabilidade das gramíneas e leguminosas forrageiras às condições prevalecentes (edáficas-bióticas-climáticas); 2) eficiente capacidade de fixação de nitrogênio e reciclagem de nutrientes; 3) alta capacidade de estabelecimento e persistência de pastagem com gramíneas e leguminosas e, 4) intensificação da produção mediante a aplicação de tecnologias de baixo custo. Sendo o estabelecimento ou reforma de pastagens via associação com culturas anuais uma das alternativas viáveis para tanto.
O uso de culturas anuais na formação e/ou renovação de pastagens é uma pratica recomendada para diminuir os custos, pois se aproveitam o preparo do solo e a adubação exigidas pela cultura associada. Na escolha da cultura a ser associada deve-se considerar o seu hábito de crescimento, ciclo, além do método de plantio (densidade e época de semeadura, espaçamento e arranjo espacial), os quais devem ser compatíveis com os da planta forrageira, visando minimizar a competitividade entre ambas. Para pastagens de Brachiaria decumbens estabelecidas em associação com a cultura de arroz (IAC-47), cujas sementes foram misturadas e plantadas em sulcos, no espaçamento de 0,5 m entre linhas, constatou-se que a produtividade do arroz oscilou entre 1.000 e 1.350 kg/ha, não sendo afetada pelos níveis de adubação fosfatada (0 a 300 kg de P2O5/ha) e nem pelas diferentes densidades de semeadura da forrageira. Os melhores estabelecimentos foram obtidos nas densidades de 1,66; 2,33; 3,00 kg/ha, com populações médias de 15, 19 e 25 plantas da gramínea/m2, respectivamente.
No Pará, pastagens degradadas de capim-colonião, estabelecida em solo tipo Latossolo Amarelo (Oxisolo), foram renovadas utilizando-se diferentes métodos de plantio simultâneo de gramineas (Andropogon gayanus cv. Planaltina, Panicum maximum e Brachiaria humidicola) consorciadas com leguminosas (Centrosema pubescens e Calopogonium mucunoides) em associação com milho (BR-5102) e arroz (IAC-47). A produção de grãos de milho foi de 2798 kg/ha e a de arroz 254 kg/ha, quando plantado na densidade de 20 kg/ha com espaçamento entre as linhas de 1,0 m, sendo as forrageiras cultivadas na mesma linha ou no espaço entre linhas. Os rendimentos de forragem de A. gayanus (1766 kg/ha) e de P. maximum (1446 kg/ha) superaram os do B. humidicola (322 kg/ha). Quanto ao método de plantio, as gramíneas forrageiras tiveram melhor desempenho quando cultivadas em linhas espaçadas de 1,0 m da cultura associada recebendo adubação na linha. As produções das leguminosas foram afetadas pela espécie de gramínea e pelo método de plantio, sendo os maiores rendimentos obtidos quando em consórcio com A. gayanus (632 kg de MS/ha) e plantadas na mesma linha da cultura percursora, com espaçamento de 2,0 m e as gramíneas estabelecidas em linhas distantes a 1,0 m destas. Os resultados obtidos demonstraram ser o milho a melhor cultura para associação, principalmente com o A. gayanus.
Em pastagens consorciadas de B. decumbens com leguminosas, os rendimentos de arroz foram de 3,5 t/ha, enquanto que as forrageiras produziram 560, 113 e 174 kg de MS/ha para a gramínea, Centrosema acutifolium e Stylosanthes capitata, respectivamente, sendo a participação das plantas invasoras de apenas 175 kg de MS/ha. No Amapá, foram avaliados diferentes sistemas de formação de pastagens em associação com a cultura
de arroz. As gramíneas introduzidas foram o A. gayanus e a Brachiaria humidicola, consorciadas ou não com o guandu (Cajanus cajan) e Desmodium ovalifolium, tendo como cultura precursora o arroz IAC-47, as quais foram semeadas simultaneamente em sulcos. A produtividade do arroz decresceu com o decorrer do tempo, passando de 869 kg/ha de grãos com casca no primeiro ano para 64 kg/ha no terceiro. A associação do arroz com A. gayanus produziu 915 kg/ha de grãos, enquanto que com B. humidicola o rendimento foi de 783 kg/ha; durante o 2º e 3º anos os rendimentos do arroz associado com B. humidicola foram o dobro dos obtidos com A. gayanus. O rendimento de forragem das gramíneas foi de 2,1; 4,4; 3,2 t de MS/ha, respectivamente para o primeiro, segundo e terceiro anos, sendo a produção total de A. gayanus (7,7 t de MS/ha) superior a de B. humidicola (5,9 t de MS/ha). Quando as gramíneas foram implantadas no 1º ano de cultivo, houve uma redução de custos na ordem de 26% para B. humidicola e de 31% para A. gayanus, comprovando a viabilidade bioeconômica da formação de pastagens com a cultura de arroz no primeiro ano de exploração de solos sob vegetação de cerrado no Amapá. Em Rondônia, para o arroz de sequeiro cv. Progresso semeado em associação com gramíneas tropicais, os rendimentos de arroz em casca foram de 2.166; 1.870 e 1.305 kg/ha, respectivamente para os consórcios com B. brizantha cv. Marandu, B. humidicola e Paspalum atratum cv. Pojuca, comparativamente a 2.578 kg/ha quando plantado em monocultura, independentemente do método de plantio (linhas ou à lanço).
A renovação de pastagens em associação com culturas comerciais é uma alternativa viável sob os aspectos agronômicos, econômicos e ecológicos, desde que sejam adotadas práticas de manejo que envolvam a utilização de germoplasma forrageiro com baixo requerimento de nutrientes e com alta capacidade de competição com as plantas invasoras e sistemas e pressões de pastejo compatíveis com a manutenção do equilíbrio do ecossistema.
Newton de Lucena Costa - Embrapa Amapá