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Obras industriais e agronegócio



Argemiro Luís Brum
Recentemente a grande imprensa gaúcha noticiou que as grandes obras, que estão sendo realizadas por empresas e indústrias no Rio Grande do Sul, deverão somar R$ 14 bilhões até 2014. Ou seja, nos próximos dois anos 28 grandes investimentos, se chegarem ao final, terão injetado na economia gaúcha esse montante.


Não há dúvida quanto a importância desse fato. Tais investimentos irão se multiplicar em empregos, em maior renda para o Estado, em geração de novas oportunidades de negócios e, especialmente, em maior dinamização da economia interiorana já que muitos deles estão sendo realizados em municípios fora da Grande Porto Alegre. É o caso do chamado “pólo naval” de Rio Grande ou ainda do “parque eólico” previsto para Santana do Livramento. Portanto, não se discute a importância socioeconômica desta realidade positiva que se desenha em nosso Estado.

Todavia, seria importante aproveitar a oportunidade para registrar e chamar a atenção para outro fato, exaltado, porém, não em sua devida dimensão. Trata-se das perdas que o Rio Grande do Sul tem enfrentado com as constantes secas e estiagens num horizonte de médio prazo. Os prejuízos socioeconômicos anuais de tal realidade, quando acontece, são muito maiores, proporcionalmente, do que as vantagens inequívocas das obras industriais. Dito de outra forma, precisamos tomar consciência de que o agronegócio gaúcho gera um movimento de recursos, a cada ano, da mesma dimensão de obras industriais que eventualmente aqui desembarcam.


Obras industriais e agronegócio (II)

Tomando como exemplo apenas os efeitos da seca deste verão 2011/12, e considerando tão somente alguns produtos primários e suas perdas diretas junto ao produtor rural, chega-se a prejuízos incalculáveis. Considerando as perdas anunciadas até o momento, que em muitos casos ainda deverão aumentar, e os preços médios atuais de mercado (tomando-se o cuidado de, conservadoramente, rebaixar o preço da soja em 10%, pois o mesmo, em parte, é motivado pela seca), chegamos aos seguintes números no Rio Grande do Sul: arroz com R$ 527,8 milhões em perdas; soja com R$ 4,34 bilhões; milho com R$ 1,11 bilhão; feijão (1ª safra) com R$ 30 milhões; e leite com R$ 413,63 milhões.

Somente com esses produtos, chegamos a um prejuízo, em um ano, de R$ 6,42 bilhões. Em agregando as perdas diretas no fumo, frutas, hortigranjeiros e carnes, nossas perdas ultrapassam a R$ 7 bilhões. E isso sem falar em todos os custos indiretos oriundos do problema. Além da paralisação da economia na maioria dos municípios interioranos, somente o fato do Rio Grande do Sul ser obrigado agora a importar 2,5 milhões de toneladas de milho representará, para o setor produtivo, em custos de impostos, frete e outros menores, um montante de R$ 1,25 bilhão (por baixo).


Ou seja, o que se deve ganhar em obras industriais em dois anos, está se perdendo a cada ano de seca que, aliás, têm sido freqüentes. E a reação dos gaúchos a essa realidade tem sido mínima proporcionalmente aos prejuízos verificados. Está mais do que na hora de se construir um projeto de longo prazo para o setor primário.

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