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O Sistema de Plantio Direto no Brasil


José Luis da Silva Nunes
No início do processo de mecanização da produção agrícola do Brasil o solo era considerado simplesmente como um meio de crescimento para as plantas que, embora pudesse fornecer nutrientes, geralmente não atendia às demandas das culturas, sendo necessário grande aporte de insumos externos. Desta forma, era natural que as práticas de preparo tivessem a ênfase principal de preparar as condições ótimas como leito para as sementes ou mudas, modificando radicalmente as condições naturais do solo. As consequências disto foram processos generalizados de degradação do solo em todas as regiões do país, através de processos erosivos, compactação, perda da matéria orgânica, salinização e perda de produtividade.

Um dos maiores avanços no processo produtivo da agricultura brasileira foi a introdução do Sistema Plantio Direto (SPD). O desenvolvimento desse sistema só se tornou possível graças a um trabalho conjunto de agricultores, pesquisadores, fabricantes de máquinas e técnicos, cujo objetivo principal foi controlar e/ou reverter a degradação dos solos em nosso país. Os primeiros plantios experimentais sob SPD ocorreram a partir de 1966 em Não-Me-Toque, no Rio Grande do Sul, e Matão, em São Paulo. Porém, somente em 1972 houve o início, a nível de propriedade rural, do plantio utilizando o SPD, feito por Herbert Bartz, em Rolândia, no estado do Paraná.
Inicialmente o SPD teve crescimento inicial pouco expressivo em termos de área. Porém, a partir da década de 1990, ocorreu grande expansão da área sob SPD, que foi sendo adotado de modo sistemático nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná havendo, em anos mais recentes, uma maior adoção em outros estados, principalmente na região do cerrado brasileiro. A expansão relativamente rápida do SPD no Brasil pode ser explicada pelo menor custo de produção e facilidades de manejo das culturas sob este sistema, aliado a uma maior proteção do solo, da água e da fauna.
Após quarenta anos da implantação do SPD no país, este consolidou-se como uma tecnologia conservacionista largamente aceita entre os agricultores brasileiros. Hoje existem sistemas adaptados às diferentes regiões do Brasil e aos diferentes níveis tecnológicos empregados pelos produtores rurais, desde o grande ao pequeno agricultor. Durante o ano agrícola de 2012/2013, estima-se que o Brasil atingiu a marca de mais de 34 milhões de hectares cultivados sob SPD, passando a ocupar a primeira colocação mundial em extensão de área com aplicação deste sistema, seguido pelos Estados Unidos e Argentina.
Sabe-se que o SPD não é apenas um sistema eficiente de conservação do solo, mas também apresenta características próprias em relação à fertilidade do mesmo, em função do manejo diferenciado das culturas. Dentre os fatores que afetam estas características podem ser destacados como decisivos:

a) O não revolvimento do solo e o acúmulo progressivo de biomassa vegetal (restos culturais) e, consequentemente, de carbono;
b) Qualidade da palhada em função da rotação de culturas (diferentes espécies vegetais com diferentes características de biomassa vegetal);
c) Aumento progressivo da fertilidade ao longo do perfil do solo;
d) Menor demanda de calcário em sistema consolidado, em função da diminuição do teor de alumínio trocável e percentagem de saturação de CTC efetiva por alumínio ao longo do perfil do solo;
e) Melhoria na retenção da água e na dinâmica da mesma em relação ao plantio convencional;
f) Um ambiente diferenciado em relação à incidência de pragas, moléstias e plantas espontâneas.
A implementação do SPD requer cuidados, porém, após a consolidação do sistema, os benefícios decorrentes da adoção do mesmo se estendem não somente a questão de conservação do solo, como também ao aumento da produtividade das culturas. Além disto, em virtude da drástica redução da erosão e da lixiviação de nutrientes, o SPD constitui-se como um eficaz sistema de redução da capacidade poluente da atividade agrícola.
Por outro lado, diminui os riscos e custos da atividade agrícola, em função da redução do consumo de energia fóssil e do uso de agrotóxicos, contribuindo para a mitigação da emissão dos Gases do Efeito Estufa (GEE) e armazenamento de carbono no solo, o que o enquadra como uma ferramenta dentro da filosofia da Agricultura de Baixo Carbono (ABC). Assim, pode-se concluir que, devido aos efeitos benéficos sobre os atributos físicos, químicos e biológicos do solo, bem como da rentabilidade da atividade agrícola, o SPD é uma ferramenta essencial para se alcançar a sustentabilidade dos sistemas agropecuários.
Desta forma, O SPD constitui-se como uma das principais conquistas da agricultura brasileira nos últimos tempos, justificando um contínuo esforço para que os seus efeitos benéficos sejam extensivos a todos os produtores agrícolas do país, mediante continuada pesquisa e extensão, tornando o Brasil um dos maiores produtores mundiais de alimentos, sem que se abra mão de produzir dentro de uma visão ecologicamente adequada.

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