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O Rejuvenescimento do Agro Brasileiro: Modelo para o mundo



Marco Ripoli

Marco Ripoli – Diretor da PH Advisory Group

Paulo Herrmann – CEO da FIERGS e da PH Advisory Group 

Porto Alegre/RS

 

Em um planeta cada vez mais pressionado a produzir alimentos para 10 bilhões de pessoas até 2050, o envelhecimento dos produtores rurais é um dos grandes desafios globais. Países líderes na agricultura, como os Estados Unidos e a União Europeia, enfrentam realidades alarmantes: a idade média dos agricultores é de 58 e 62 anos, respectivamente. Mas o Brasil apresenta um cenário diferente e muito mais promissor, com uma idade média de 46 anos entre os produtores rurais.

O agro brasileiro está rejuvenescendo, atraindo jovens ao campo em um movimento que combina tecnologia, inovação e propósito. Essa transformação não é apenas um detalhe estatístico: é um diferencial competitivo que coloca o país em posição de liderança global, não apenas como um dos maiores exportadores de alimentos, mas como um exemplo de renovação geracional no setor.

Enquanto a agricultura nos Estados Unidos e na União Europeia luta para renovar sua força de trabalho, com muitos jovens forçados a vender suas terras para grandes corporações, o Brasil conseguiu inverter essa tendência. Jovens brasileiros veem no campo um espaço de oportunidades, graças ao acesso a tecnologias de ponta, uma narrativa conectada ao propósito de alimentar o mundo e políticas que incentivam a educação rural.

O jovem produtor rural brasileiro é, antes de tudo, um gestor de tecnologia. Ele compreende que a inovação não é apenas uma ferramenta, mas uma estratégia para competir globalmente. Esse ambiente tecnológico não apenas aumenta a produtividade, mas cria uma atmosfera que atrai mentes jovens ao campo, transformando o agro em um setor vibrante e em constante renovação.

 

Alimentar o Mundo com Sustentabilidade

O conceito de propósito nunca foi tão importante para atrair as novas gerações ao agro. Jovens que ingressam no setor não buscam apenas retorno financeiro; eles querem fazer parte de algo maior, algo que tenha impacto positivo no mundo. E o agro brasileiro oferece isso em abundância, sendo um dos poucos países com capacidade de aumentar a produção de alimentos sem comprometer recursos naturais, com uma previsão de aumento de 41% até 2050.

Ao contrário de outras carreiras que oferecem um impacto mais abstrato, a agricultura proporciona resultados concretos. Cada safra bem-sucedida, cada novo método sustentável adotado, representa uma vitória direta na luta contra a fome e a desigualdade. A sustentabilidade é outro elemento-chave que atrai jovens ao agro. Hoje, o setor opera em um modelo regenerativo, buscando não apenas minimizar danos ao meio ambiente, mas também restaurar ecossistemas.

Jovens produtores lideram transformações em suas comunidades ao gerar emprego, investir em infraestrutura local e apoiar programas educacionais. Com a introdução de novas tecnologias e a profissionalização do setor, eles estão criando oportunidades que transformam a qualidade de vida de milhares de pessoas.

A geração Z, que agora começa a ingressar no mercado de trabalho, valoriza profundamente questões como impacto ambiental, inclusão social e inovação. Para esses jovens, o campo não é apenas um espaço de trabalho; é um espaço de reinvenção, onde é possível combinar ciência, tecnologia e propósito em prol de um mundo melhor.

 

Renda e Lucratividade

A estabilidade e o potencial de lucratividade do agro brasileiro são pilares que tornam o setor cada vez mais atrativo para as novas gerações. O agro moderno projeta uma imagem de prosperidade, inovação e crescimento contínuo. A capacidade do setor de oferecer renda competitiva, aliada a oportunidades de diversificação, tem sido um dos maiores incentivos para o rejuvenescimento do agro no Brasil, líder global em exportação de várias commodities, como soja, milho, carne bovina e café.

A lucratividade, no entanto, não vem apenas da produção de commodities. Práticas como a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), que já ocupam 18 milhões de hectares plantados, aumentam o uso eficiente da terra e proporcionam retorno financeiro em múltiplas frentes. O Brasil possui políticas que incentivam o produtor a modernizar suas operações, bancos e cooperativas que oferecem taxas competitivas e condições especiais para a compra de maquinários, tecnologias e insumos.

O agro brasileiro também se destaca como um dos setores preferidos para investidores externos. A modernização das propriedades, o uso de big data e o acesso a mercados globais criam um ambiente seguro e lucrativo para capital estrangeiro. Essa conexão com investidores globais aumenta a liquidez do setor e reforça sua atratividade para jovens que buscam não apenas estabilidade, mas também crescimento exponencial.

Além da renda financeira, o campo oferece algo que muitos setores urbanos não conseguem: crescimento pessoal e profissional. Ser um empreendedor rural no Brasil não é para amadores e exige habilidades de gestão, inovação e resiliência. Para muitos jovens, essa jornada se traduz em um senso de realização que vai além do dinheiro, transformando o agro em uma carreira com propósito e prosperidade.

 

Sucessão Familiar como Estratégia

Antigamente, a sucessão familiar era um problema: filhos viam o campo como um lugar de poucas perspectivas. Hoje, é o oposto. Com capacitações específicas, famílias rurais têm profissionalizado suas propriedades, transformando fazendas em empresas. Essa profissionalização não apenas garante a continuidade, mas também aumenta a atratividade do setor para as gerações mais jovens.

Ao contrário do passado, quando muitos jovens abandonavam o campo por falta de perspectivas financeiras, hoje eles percebem que permanecer no setor pode proporcionar uma qualidade de vida superior à que teriam nos centros urbanos. Com margens de lucro mais elevadas e menor custo de vida, a renda agrícola permite que famílias invistam em educação, infraestrutura e qualidade de vida.

A sucessão familiar, antes vista como um desafio, agora se transforma em uma oportunidade. Jovens herdam não apenas terras, mas também negócios estruturados, muitas vezes com tecnologia de ponta e mercados consolidados, tornando o processo de continuidade mais atrativo e viável.

 

Educação e Cultura Empreendedora

As universidades brasileiras, como a ESALQ, UNESP e a UFV, entre outras, desempenham um papel crucial na formação de jovens profissionais. Essa educação técnica e universitária está moldando uma nova geração de líderes no setor agropecuário, preparados para enfrentar desafios globais.

No entanto, ainda há um descompasso entre as grades curriculares das instituições de ensino e a nova realidade e necessidades do setor agropecuário. É preciso incluir disciplinas que abordem as novas demandas do mercado global. Isso resulta em uma lacuna na formação de profissionais que estejam plenamente capacitados para lidar com os desafios contemporâneos do agronegócio.

Para que o Brasil continue a ser um líder global no setor agropecuário, é essencial que as instituições de ensino adaptem suas grades curriculares, incorporando novas tecnologias, práticas sustentáveis e uma visão mais ampla do mercado global. Somente assim será possível formar profissionais que não apenas compreendam as complexidades do setor, mas que também estejam prontos para inovar e liderar em um cenário cada vez mais competitivo e dinâmico.

 

Ciência e Inovação: O Papel Transformador da Embrapa

A EMBRAPA desenvolveu a agricultura tropical, que foi crucial para transformar solos pobres e ácidos do cerrado em uma potência agrícola. Atualmente lidera a inovação no agro, desenvolvendo tecnologias que atendem às demandas de uma agricultura moderna e sustentável. Para os jovens, a Embrapa representa um símbolo de que ciência e pesquisa são essenciais para enfrentar os desafios do futuro.

A EMBRAPA precisa continuar a se adaptar às novas realidades e necessidades do mercado, incorporando mais inovações tecnológicas e práticas sustentáveis em suas pesquisas. Além disso, é fundamental que a EMBRAPA intensifique seus esforços em atrair e capacitar jovens talentos, mostrando que a ciência e a pesquisa no agro são caminhos promissores e essenciais para o desenvolvimento do setor.

Somente assim será possível formar uma nova geração de profissionais que não apenas compreendam as complexidades do setor, mas que também estejam prontos para inovar e liderar em um cenário cada vez mais competitivo e dinâmico.

 

Conectividade e Inovação

A conectividade rural sempre foi um gargalo. Entretanto, com soluções como a Starlink, regiões remotas do Brasil estão se integrando à economia digital. A Starlink, desenvolvida pela SpaceX, utiliza uma constelação de satélites de baixa órbita para fornecer internet de alta velocidade em áreas onde a conectividade tradicional é limitada. Com mais de 4.000 satélites em órbita e planos de expandir para 42.000, a Starlink está revolucionando a conectividade global.

Essa tecnologia não apenas facilita a adoção de tecnologias avançadas, mas também conecta produtores a mercados globais, treinamentos online e comunidades de inovação. Para os jovens, a Starlink representa uma oportunidade de permanecer no campo, utilizando a internet para acessar informações, realizar cursos e até mesmo gerenciar suas propriedades de forma mais eficiente. A conectividade proporcionada pelos satélites de baixa órbita é um divisor de águas para o agro, atraindo jovens que veem na conectividade uma ponte entre o campo e o mundo.

Nos últimos anos, o Brasil viu um crescimento exponencial de startups no setor agrícola. AgTechs lideradas por jovens empreendedores têm criado soluções inovadoras para desafios como rastreabilidade, manejo de recursos hídricos e redução de emissões de carbono. Essas startups não apenas modernizam o setor, mas também criam um ecossistema vibrante que inspira mais jovens a ingressarem no agro.

O rejuvenescimento do agro brasileiro é mais do que um fenômeno local; é uma estratégia vencedora para o futuro da agricultura global. Ao atrair jovens, o Brasil não apenas garante sua competitividade, mas redefine o papel do campo no século XXI. A mensagem é clara: investir em juventude é investir no futuro. O Brasil já começou a trilhar esse caminho e está pronto para compartilhar suas lições com o mundo.

O Agro não para!

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