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O recado cipriota



Argemiro Luís Brum
Nestas últimas semanas, no contexto da infindável crise econômica mundial, a pequena ilha mediterrânea de Chipre passou a ser ator principal do problema. Neste mundo globalizado, onde a interdependência é sempre maior, este pequeno país, dividido entre gregos e turcos, com cerca de tão somente um milhão de habitantes, colocou as economias mundiais em estado de alerta. Na prática, o contexto é o mesmo que já atingiu a Grécia, Espanha, Portugal e tantos outros países: o Estado cipriota acusa “falência” e, para não contaminar o restante do mundo, torna-se urgente salvá-lo. Mais uma vez o mundo fica à mercê dos efeitos nocivos da especulação financeira exagerada, na esteira da desregulamentação da economia.

O problema é que, para salvar o conjunto, antes se torna necessário salvar os recursos das máfias que acabaram  tomando conta do próprio sistema mundo afora. Assim, no Chipre, o mundo correu para salvar as aplicações, em primeiro plano, da máfia russa, que usa os bancos cipriotas como paraíso fiscal, assim como de alguns outros locais do planeta.

A conta, desta realidade será amarga para a sociedade do país e serve como alerta para regiões como o Brasil, assim como os casos grego e espanhol já o serviram. Antes de chegarmos a tal estágio de falência estatal, gastando mais do que se arrecada, torna-se urgente ajustar as contas públicas, mesmo que isso cause algumas dores, para evitar um quadro estrutural posterior que praticamente amordaça o país para sempre.

No caso do Chipre, a receita final para a crise, recentemente aprovada pelos credores que vieram em salvamento ao país, é segurar o endividamento no limite do suportável (fazê-lo chegar a 100% do PIB em 2020); sanear o setor bancário, reduzindo o seu tamanho pela metade até 2018; os dois principais bancos do país suportarão o essencial do esforço de correção, sendo que o Bank of Cyprus (o maior) terá que amputar pesadamente (de 30% a 50%) as contas com valores superiores a 100.000 euros, enquanto os correntistas atingidos receberão em troca partes do capital do banco (ações), hoje fortemente desvalorizadas. Isso deverá gerar 4,2 bilhões de euros de recapitalização para o referido banco, evitando que o mesmo quebre definitivamente.

Já o segundo maior banco do país, o Laiki Bank, esse será literalmente desmantelado, com grandes perdas aos maiores correntistas, já que os depósitos abaixo de 100.000 euros serão retomados pelo Bank of Cyprus. Além disso, reformas estruturais na economia e no Estado, acompanhadas de privatizações e altas de impostos serão praticadas. Enfim, o país passa sob assistência da zona euro e do FMI, acompanhando os demais que já estão nesta situação. Esse é o custo para recuperar a economia cipriota e manter o Chipre na União Europeia, após seus governos terem derrapado nos gastos públicos a ponto de inviabilizar o país.

Ainda estamos longe de afundarmos como os países europeus aqui citados, mas que temos trilhado o mesmo caminho, nos últimos anos, particularmente em relação ao exagerado gasto público, não parece haver dúvidas. Que o recado cipriota, mais um no mundo, nos alerte e nos faça, enfim, racionalizar a gestão pública.

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