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O PIB não se sustenta



Argemiro Luís Brum
Desde que eclodiu a crise mundial de 2007/08 o governo brasileiro vem concentrando esforços para manter o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), medida que indica a geração de riqueza do país em um determinado período de tempo. O objetivo é evitar que o mesmo diminua consideravelmente, pois isso é sinônimo de paralisação da economia, desemprego e menos condições de se alcançar melhor desenvolvimento. Em termos reais, nosso PIB, no embalo da euforia especulativa da economia mundial, registrou uma interessante performance a partir de 2004, quando atingiu a 5,7%. Em 2007, chegou mesmo a alcançar 6,1% de crescimento. Todavia, como a crise internacional está longe de ser pouca coisa, já em 2009 o PIB nacional foi negativo em 0,3%, provocando um susto no governo e mostrando claramente que a crise mundial tinha natureza estrutural e atingia a todos. Aproveitando-se da gordura criada nos anos anteriores e de um mercado interno importante e com forte demanda reprimida, o governo reagiu estimulando o consumo interno. Ou seja, na impossibilidade de continuar contando com o mercado externo, que vinha puxando nossa economia até então, passamos a apostar no mercado interno. De imediato, o consumo interno explodiu apoiado por medidas de redução de impostos, juros mais baixos e subsídios de toda ordem. O resultado foi um crescimento de 7,5% em 2010. Mesmo saindo de uma base muito baixa no ano anterior, um resultado a comemorar. Todavia, o país foi incapaz de manter tal ritmo. Por quê?
O PIB não se sustenta (II)
Antes de avançarmos algumas respostas, vale lembrar que o Brasil precisaria de um crescimento econômico anual constante, pelo tamanho de sua economia e população, da ordem de 6% a 7%. Nestes últimos 11 anos em apenas duas esporádicas oportunidades isso foi possível (2007 e 2010). E antes disso, apenas entre 1968 e 1973, quando do chamado “milagre econômico”, ultrapassamos tais números. Assim, dentre as explicações para esse pífio comportamento econômico atual temos, em primeiro lugar, a continuidade da crise mundial, que nos retira espaço no mercado externo em geral. Em segundo lugar, as medidas de consumo interno se esgotaram, pois esbarramos num forte endividamento e inadimplência da sociedade brasileira. E, principalmente, porque historicamente pouco se investiu em infraestrutura para suportar uma demanda em crescimento. Devido a esse último ponto, assim que a demanda aquece a inflação vem junto, impedindo a continuidade do processo, obrigando o governo a frear os estímulos consumistas. Isso explica o PIB de apenas 2,7% em 2011 e o projetado de tão somente 1,5% a 1,7% para 2012. Sem poupança não há investimentos e, sem estes, não há crescimento e posterior desenvolvimento. Ora, precisaríamos de taxas anuais respectivas ao redor de 25% do PIB. Todavia, no segundo trimestre a taxa de investimento ficou em 17,9% e a de poupança em 16,9%. Nos dois casos, menores do que o visto em 2011. Ou seja, o quadro piorou. Nesse contexto, não sairemos de um PIB médio anual de 3,5% nos próximos anos.

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