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Desperto para uma quinta-feira cheia de atividades, como quase todos os brasileiros da produção que lerão este texto. Tomo o café assistindo notícias da TV, que pela manhã concentram o show de horrores de ônibus queimados, caixas estourados, tiros dados e acertados, invasões, corruptos indiciados e outros brindes. Simultaneamente leio os jornais, começando pelo esporte, depois cultura, economia e termino na política, onde volta o show de horrores. Recorto algo para processar melhor e refletir, normalmente opiniões. Ainda gosto da leitura no papel.
Mas hoje travei na página B10 do Estadão, na matéria “Governo descarta aumentar 2,5% de etanol na gasolina”. Esta medida foi defendida na Carta de Campo Grande, com políticas públicas e privadas ao setor. Bem planejada, só traria benefícios econômicos, ambientais e sociais à sociedade, seja à Petrobras, à balança comercial, emissões de carbono, geração de empregos e à cadeia produtiva. Especialistas de universidades declararam não acreditar que carros antigos sofram com esta pequena adição.
Destacada na matéria, a frase do Ministro da Fazenda: "Sempre é possível aumentar, mas neste momento não estamos cogitando. Hoje a mistura é de 25% e nós agora estamos num período em que o etanol aumenta sua produção. Estamos começando a safra e vai reduzir o preço do etanol e também dos combustíveis".
Primeiro, um pouco de humor... não é o etanol que aumenta a sua produção. Etanol não decide. Lembrei daquela frase clássica das mocinhas de Congonhas: “a aeronave que fará o voo estimou seu pouso”... ou “devido ao pouso tardio da aeronave, seu voo está atrasado”... Aeronave e etanol ganharam capacidade de decisão!
O Ministro talvez não perceba o dano feito à Petrobrás com esta política populista de preços de combustíveis e ao país na energia elétrica. Se muitos que entendem dizem que os combustíveis e a energia precisam subir, como ele diz que devem cair? Se cair o preço do etanol hidratado, este produto volta a dar prejuízo aos industriais e produtores, como nos últimos anos, e com isto endivida e sucateia mais ainda o setor.
Não se investe, tem menos açúcar, etanol e eletricidade, prejudica a balança comercial, abastecimento, inflação, aumenta a poluição, enfim... O Ministro também não viu que a seca deve quebrar parte da produção de cana, complicando o quadro.
Dane-se o setor de cana e o Brasil como potência bioenergética. O importante é cumprir a meta de inflação, às custas do produtor de cana, do industrial de cana e dos acionistas da Petrobrás para não prejudicar a eleição. 2015... dane-se.
Aí vem a Presidente da Petrobrás, na sabatina, dizer que faltam investimentos no setor de cana, que este é o problema, e que o preço da gasolina está adequado. O Ministro quer que os preços do etanol caiam e voltem a dar prejuízo, e a Presidente da Petrobrás diz que faltam investimentos na cana... Difícil entender a “graça” do raciocínio deste pessoal.
Mais saudável é não ver notícias pela manhã. Ai nosso dia rende mais e entramos no mundo encantado da gestão atual, onde tudo está lindo, tudo dá lucro, tudo dá certo, e onde os sonhos se tornam realidade. Mundo que só existe na cabeça deles, da imensa parte do Brasil bolsista que não lê, e em Orlando.
Marcos Fava Neves é professor titular de planejamento estratégico e cadeias alimentares da FEA-RP/USP). Autor de 25 livros publicados em oito países. Foi professor visitante da Purdue University (Indiana, EUA) em 2013.
Mas hoje travei na página B10 do Estadão, na matéria “Governo descarta aumentar 2,5% de etanol na gasolina”. Esta medida foi defendida na Carta de Campo Grande, com políticas públicas e privadas ao setor. Bem planejada, só traria benefícios econômicos, ambientais e sociais à sociedade, seja à Petrobras, à balança comercial, emissões de carbono, geração de empregos e à cadeia produtiva. Especialistas de universidades declararam não acreditar que carros antigos sofram com esta pequena adição.
Destacada na matéria, a frase do Ministro da Fazenda: "Sempre é possível aumentar, mas neste momento não estamos cogitando. Hoje a mistura é de 25% e nós agora estamos num período em que o etanol aumenta sua produção. Estamos começando a safra e vai reduzir o preço do etanol e também dos combustíveis".
Primeiro, um pouco de humor... não é o etanol que aumenta a sua produção. Etanol não decide. Lembrei daquela frase clássica das mocinhas de Congonhas: “a aeronave que fará o voo estimou seu pouso”... ou “devido ao pouso tardio da aeronave, seu voo está atrasado”... Aeronave e etanol ganharam capacidade de decisão!
O Ministro talvez não perceba o dano feito à Petrobrás com esta política populista de preços de combustíveis e ao país na energia elétrica. Se muitos que entendem dizem que os combustíveis e a energia precisam subir, como ele diz que devem cair? Se cair o preço do etanol hidratado, este produto volta a dar prejuízo aos industriais e produtores, como nos últimos anos, e com isto endivida e sucateia mais ainda o setor.
Não se investe, tem menos açúcar, etanol e eletricidade, prejudica a balança comercial, abastecimento, inflação, aumenta a poluição, enfim... O Ministro também não viu que a seca deve quebrar parte da produção de cana, complicando o quadro.
Dane-se o setor de cana e o Brasil como potência bioenergética. O importante é cumprir a meta de inflação, às custas do produtor de cana, do industrial de cana e dos acionistas da Petrobrás para não prejudicar a eleição. 2015... dane-se.
Aí vem a Presidente da Petrobrás, na sabatina, dizer que faltam investimentos no setor de cana, que este é o problema, e que o preço da gasolina está adequado. O Ministro quer que os preços do etanol caiam e voltem a dar prejuízo, e a Presidente da Petrobrás diz que faltam investimentos na cana... Difícil entender a “graça” do raciocínio deste pessoal.
Mais saudável é não ver notícias pela manhã. Ai nosso dia rende mais e entramos no mundo encantado da gestão atual, onde tudo está lindo, tudo dá lucro, tudo dá certo, e onde os sonhos se tornam realidade. Mundo que só existe na cabeça deles, da imensa parte do Brasil bolsista que não lê, e em Orlando.
Marcos Fava Neves é professor titular de planejamento estratégico e cadeias alimentares da FEA-RP/USP). Autor de 25 livros publicados em oito países. Foi professor visitante da Purdue University (Indiana, EUA) em 2013.